Filme: Um fim de semana na Praça Roosevelt
Concepção: Mauro Calliari
Direção e produção: Maurício Cremonini
Música: "O encantado", de Paulo Gusmão
Em setembro de 2012, a Praça Roosevelt foi reinaugurada. A expectativa criada pelo novo projeto era de reintegrar a praça ao entorno, romper as barreiras existentes nos múltiplos planos do projeto anterior, criar ambientes de convivência e atrair as pessoas de volta.
Um ano depois, pode-se dizer que a nova praça se tornou um dos marcos da apropriação do espaço público pelos paulistanos.
Nesse tempo, ela tem atraído pessoas da vizinhança ou de outras regiões, que vêm para andar de skate, trazer as crianças ao parquinho, sentar nos bancos ou passear com os cachorros. Ela também tem sido palco de eventos musicais, festas, protestos e ponto final ou inicial de várias das manifestações que marcaram a cidade.
Essa diversidade de usos, de públicos e de horários trouxe conflitos ao longo desses doze meses. Os moradores em frente à praça protestaram contra o barulho dos skates e os shows à noite. Os teatros e bares em frente à praça se beneficiaram com o novo ambiente criado, mas houve protestos contra o aumento dos aluguéis e até ameaças de deixar os imóveis. A Guarda Civil Metropolitana teve que se explicar pelo enfrentamento a alguns usuários. Houve ainda confrontos entre participantes de manifestações e a Polícia Militar.
O lado bom disso tudo: os conflitos surgiram pelo próprio sucesso da nova praça, em atrair pessoas. A pluralidade parece ser uma conseqüência desejável de um projeto que, se não é uma unanimidade, teve o mérito de recosturar espaços e abrir-se para o entorno.
É possível que os conflitos não sejam de fácil resolução, mas eles estão expondo uma face importante da cidade: a vontade de ocupar os espaços públicos. Por outro lado, vem a constatação de que a ocupação traz responsabilidades, de negociar, de se associar em grupos de interesse e de reconhecer a legitimidade de pontos de vista distintos.
A celebração dessa diversidade pode ser vista nesse vídeo, gravado nos dias 19, 20 e 21 de outubro de 2012. São centenas de fotos tiradas de um apartamento em frente à praça, em intervalos de cinco minutos, editadas em um minuto. Elas mostram uma praça ocupada ao longo do dia e da noite, até terminar num evento na tarde de domingo.
É uma eloqüente amostra do que a apropriação do espaço público pode fazer pela identidade da cidade.
sobre o autor
Mauro Calliari, 51, é administrador de empresas pela FGV-SP, com MBA pela Bocconi-Milão, consultor em comunicação e mestrando em urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.