As origens desta localidade remontam ao ano de 1727, no processo de penetração para a exploração do território, particularmente na busca de novas jazidas de ouro, esta desencadeada pelos portugueses. Inicialmente, como ponto de parada de tropas e garimpeiros, o arraial conhecido como Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte se consolidou em torno da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, tendo sido deslocada a sua ocupação, posteriormente, com a construção das igrejas do Bonfim e do Carmo. O traçado delineado revela trama constituída por vias consolidadas em função de velhos caminhos que se cruzavam, entre os córregos Pratinha e Lava-pés, afluentes do rio das Almas. Do outro lado, na expansão posterior para os lados do Carmo, nas proximidades do córrego Vagafogo, o traçado ortogonal demonstra intenção mais racional para o controle da ocupação. Na segunda metade do século XVIII, a economia entra em crise com o esgotamento da exploração do ouro, tendo sido alterado este processo com os novos rumos proporcionados pelas atividades agrícolas, pecuárias e de comércio.
Pirenópolis, cuja denominação foi adotada em 1890, está situada nas franjas dos Pirineus, cuja origem do nome remonta ao promontório localizado entre a França e a Espanha. A cidade se encontra em uma posição muito privilegiada, próxima de grandes centros, como Goiânia, a Capital do Estado de Goiás, que dista 120 quilômetros, Anápolis, a 56 quilômetros, e Brasília, a Capital Federal, a 150 quilômetros. A cidade é protegida por tombamento, no âmbito federal desde 1988, e tem a economia assentada, na atualidade, na agropecuária, na exploração de pedras do tipo quartzito, no comércio e no turismo. O centro histórico é repleto de lojas de artesanato diversificado, incluindo também inúmeros bares e restaurantes, com culinária para todos os gostos, desde o regional até o internacional, além de hotelaria composta por pousadas e hotéis, que oferecem serviços de muita qualidade. Outra opção para hospedagem são os campings distribuídos pela região.
A cidade se encontra em um vale por onde serpenteia o rio das Almas tendo, no seu entorno, morros com vegetação que fazem o fundo para o cenário enraizado no passado colonial. O Parque Estadual dos Pireneus, localizado a 20 quilômetros do centro urbano, e a Reserva Ecológica Vargem Grande, a 11 quilômetros, apresentam natureza exuberante e inúmeras cascatas e cachoeiras que se distribuem pela região. As pessoas em Pirenópolis demonstram muita hospitalidade e curiosidade, com relação aos visitantes, cuja origem e profissão são motivos de interrogação. A Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, que ocorre no mês de Maio, durante as Cavalhadas, é um dos principais eventos, que aliada a outros, ao longo do ano, movimentam a cidade. Vale mencionar que o excesso de veículos e motocicletas, com motoristas um pouco agressivos, constitui um grande incômodo.
O centro histórico é bem delimitado, com pavimentação em pedra composta em filetes maciços de granito e capistranas em quartzito. O conjunto urbano apresenta composição, na qual se revelam os vários tempos da ocupação, desde o colonial de matriz portuguesa, com destaque para a monumentalidade de alguns edifícios, como o da Igreja Matriz e outros com fins religiosos e institucionais. Além destas tipologias originais, outros tempos se somam, como exemplares ecléticos e o Art Deco, que tem no cinema Pirineus um exemplo marcante. A modernidade inserida com a mudança da Capital Federal, Brasília, também pode ser percebida em trechos específicos lado-a-lado com as tipologias mencionadas anteriormente. Para além do centro protegido, a cidade expandiu os seus horizontes, mantendo, no entanto, a mesma escala do conjunto, com inserções que revelam a complexidade das opções tipológicas nos dias de hoje, sem o apelo estético e o rigor tecnológico, que marcaram a sua urbanística nos séculos XVIII e XIX. Nesta expansão mencionada, se colocam inúmeros problemas de infra-estrutura urbana, bem como a falta de regulamentações de uso e ocupação do solo e a necessidade da definição de diretrizes para o desenvolvimento urbano qualificado. Neste sentido, Pirenópolis deve ser pensada na sua globalidade, com os vários “layers”, que compõem a sua historia, protegidos, estes revelados por meio de fotografias em cartões postais, que trazemos, nas lembranças que guardamos desta parte do “chão goiano”. O ensaio aqui retratado, cuja visita foi guiada pelo Professor Wilton Medeiros da UEG, se insere nas “Jornadas de Planejamento e Patrimônio Cultural”, vinculadas ao Núcleo Urbanismo.mg/UFJF, que coordenamos, com o apoio da FAPEMIG, CNPQ e CAPES.
sobre o autor
Fabio Jose Martins de Lima nasceu em Belo Horizonte, em 2 de setembro de 1961 e fotografa desde 1983. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, a partir de 1999 é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (1989) com Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (1994) e Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2003). Entre os anos de 2011 e 2012, desenvolveu com aproveitamento Estágio Pós-Doutoral no IUAV Università di Venezia, com o apoio da CAPES, sob a orientação dos Professores Donatella Calabi e Guido Zucconi. Em Juiz de Fora coordena o Núcleo de Pesquisa e Extensão Urbanismo.MG/UFJF que desenvolve atividades de pesquisa e extensão com o apoio da CAPES, CNPQ, FAPEMIG, Ministério das Cidades e Ministério da Cultura.