Em Paris, todo mundo é anônimo, todo mundo anda a pé, todo mundo usa o metrô. Susan Sarandon atrás de você na fila da bilheteria do Musée Carnavalet? É, isso mesmo. A estrela é a cidade. Nós, cidadãos, somos todos privilegiados quando encontramos surpresas nos locais já conhecidos, a exuberante florada das cerejeiras do Petit Palais, ou nos locais cautelosamente renovados, Louvre. Renovar é o curso da vida urbana.
Mas, meu propósito não é divagar, é compartilhar o sabor do novo departamento de artes do Islã, no Louvre, que tive oportunidade de visitar
Um concurso público lançado em 2005, para a elaboração do projeto do novo departamento do museu, foi vencido pelos arquitetos italianos Mario Bellini e Rudy Ricciotti. As obras iniciadas em 2009 foram concluídas em setembro de 2012. A nova ala ocupa um dos pátios internos do museu, Cour Visconti.
Uma das premissas do concurso era a preservação das fachadas do Louvre voltadas ao pátio. Com genialidade, os arquitetos propuseram uma leve estrutura ondulante, que quase poeticamente parece ter caído do céu para cobrir a nova ala museológica. Essa superfície é formada por uma malha metálica dourada, vidro e 8.000 tubos de aço que repousam sobre oito pilares de 30 centímetros de diâmetro. Arquitetura e poesia. A cobertura não toca o chão nem as paredes lindeiras ao pátio. Está delicadamente suspensa. Bellini e Ricciotti a compararam a um véu transparente. Pra mim, as recordações infantis sussurraram que era a magia do tapete árabe.
O tapete de Aladim que pousou no museu é tão mágico, que sua leveza camufla as 135 toneladas de vidro e aço que o compõe. (superfície de 2.200 m²; 40m x 55m). Quanta sutileza arquitetônica!
Abaixo da fluida cobertura, a coleção de arte está disposta em 3500m² divididos em dois pavimentos, o primeiro, no nível do pátio e o segundo, no subsolo. A sofisticação técnica permeou toda a obra, desde as escavações do subsolo até o desenvolvimento da malha de cobertura. A tecnologia refinada permite graduar a intensidade da luz natural aliando conforto visual à proteção do acervo em relação a possíveis danos solares.
Sobre o projeto expositivo, diria que as vitrines têm um quê da lógica museográfica de Lina Bo Bardi.
Para os curiosos, o site oficial do Louvre oferece uma série de cinco filmes de curta duração, cerca de 2 a 3 minutos cada, mostrando o processo de construção do projeto. Um dos filmes foi rodado durante a primeira visita da imprensa ao canteiro de obras, em janeiro de 2012 e, contém a participação dos arquitetos.
sobre a autora
Silvia Palazzi Zakia cursa pós-doutorado na FAU-USP e é bolsista Capes.