A viagem relatada a seguir foi a primeira de dois arquitetos à Europa, mais especificamente para a Itália. Um passeio de 22 dias regado à massa e vinho com pausas para apreciar a bela arquitetura da península. Rodamos aproximadamente 2.000 quilômetros entre viagens de trem e de carro, visitamos 24 cidades com características bastante distintas entre o norte e o centro do país: grandes metrópoles, capitais da arte, charmosas cidades pequenas, vilarejos incrustrados nas montanhas, cidadelas medievais e belos balneários com praias de águas transparente.
O roteiro teve início em Milão, continuamos pela província de Veneto, nas cidades de Verona, Vicenza e Veneza, e seguimos para Bolonha. Partimos então para a Toscana, onde visitamos Florença, Pisa, Lucca, Siena, San Gimigniano, Montepulciano e Cortona, incluímos durante esses dias uma viagem até a região da Liguria para conhecer La Spezia e as pitorescas Cinqueterre. Após uma breve estadia em Assis, rumamos à Campania, mais especificamente para Sorrento, para passear nas belas paisagens naturais de Capri e Costa Amalfitana. A viagem teve fim em Roma, a cidade eterna, uma miscelânea de mais de 2.000 anos de referências históricas.
Para eternizar essa viagem escolhemos, ou pelo menos tentamos, retratar a viagem através de detalhes arquitetônicos das cidades visitadas, ao invés das tradicionais fotos de paisagens e dos monumentos históricos valorizando o belo céu de primavera do hemisfério norte ou então das selfies tiradas com os celulares.
O objetivo dessas fotos é sair do lugar comum no registro de uma viagem com tamanho conteúdo de arquitetura e que irá eternizar em nossas vidas as referências visitadas. A memória em nossas cabeças será da obra completa, das suas cores, do seu cheiro, do seu espaço interior, da luz do sol refletindo nas fachadas e das sombras geradas, ao passo que o registro fotográfico será do pormenor, para nos avisar de que, se por um acaso a memória se for, a foto estará sempre ali para nos lembrar daquele momento. Só que será uma lembrança gradual, que vem aos poucos, a partir da essência do material utilizado e da textura da obra.
Se Deus está nos detalhes, como eternizou Mies van der Rohe, a Itália está repleta deles. As texturas das paredes, as tramas dos pisos, a vivacidade da grama, as cores dos materiais e a qualidade dos ornamentos representados nas fotos dão indícios inclusive da data de construção da obra e do movimento artístico a qual pertence.
As pedras características dos castelos, muralhas e fortalezas da idade média. O tijolo sem revestimento que nos remete à arquitetura românica e por vezes faz referência também ao exterior das belas igrejas renascentistas. Além dos frisos e ornamentos do gótico e do mármore reluzente do barroco.
Se as características das cidades eram bastante distintas, a carga histórica é algo em comum entre todos os locais que visitamos. A sensação de estar em uma época passada foi frequente, especialmente nas cidadelas medievais que parecem resistir teimosamente à passagem do tempo. O caminhar entre as ruínas do antigo Fórum Romano também causa uma sensação única de estar em duas épocas ao mesmo tempo. Em alguns casos as fotos registram a ação do tempo e do homem no decorrer da história, destacando o contato entre adições posteriores que podem passar em branco e vistas inusitadas das ruínas preservadas.
Em meio às obras arquitetônicas rodeadas de turistas de diversas partes do mundo se amontoando pela melhor foto com seus “paus-de-selfie” a tarefa de registrar o momento foi uma experiência de imersão e se tornou ainda mais divertida do que parecia quando planejamos enxergar os monumentos a partir deste ponto de vista, pois os registros dos detalhes também favoreceram um olhar mais intimista e pessoal em plena multidão de estrangeiros da alta temporada europeia.
sobre os autores
Carmem Maria Oliveira Procópio Neres é arquiteta urbanista (2009) pela FCT/UESP Campus de Presidente Prudente, com especialização em Arquitetura pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie. Atualmente é arquiteta no escritório FGMF arquitetos e professora da UNIP – Universidade Paulista.
Rodrigo Morganti Neres é arquiteto e urbanista (2009) pela FCT/ UNESP Campus de Presidente Prudente, com especialização em Arquitetura pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie. Atualmente é arquiteto na CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e professor da UNIP – Universidade Paulista.