No dia 5 de julho de 2015, tão logo Paulo Werneck – o curador da edição 2015 da Festa Literária Internacional de Paraty – declarou encerrado o evento, convidados e público começaram rapidamente a abandonar a cidadezinha histórica.
Estávamos, eu e Silvana Romano, decididos a retornar a São Paulo como a maioria, mas no último momento resolvemos permanecer mais dois dias para ver a cidade sem os “estrangeiros” que abarrotaram ruas, bares, restaurantes e espaços culturais nos dias da festa. O que não esperávamos é que teríamos diante de nós uma paisagem urbana à altura do escritor homenageado no evento, o brasileiro Mário de Andrade.
Enquanto as edificações efêmeras eram desmontadas, o cotidiano paratiense foi se oferecendo a nós. Os raros turistas eram abordados afoitamente por condutores de charretes e barcos com ofertas especiais para passeios de última hora, moradores retomavam seus afazeres mesmo que este fosse nada fazer, bicicletas paradas em todo lado a espera de seus condutores, animais dormindo ou correndo, cadeiras e bancos vazios aguardando bundas ausentes, um vendedor de água de coco exclusivo para nós dois...
Além do casario maravilhoso, muros envelhecidos, objetos carcomidos pela maresia, as águas sujas pelos barcos e outras imundícies, e uma paisagem impressionante ao longe, em todos os quadrantes. No mais, homens e mulheres de todas as idades acomodados de forma desajeitada na paisagem sublime, sobrevivendo na rapidez lânguida de quem não tem pressa.
sobre o autor
Abilio Guerra é professor de graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie e editor, com Silvana Romano Santos, do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.