Brevíssimo conto de amor de casal fofo – branquinho, cheiroso, hétero e temente a Deus – de paulistanos de bem.
1° ato – Durante a lua de mel na Europa
— Tá vendo, morr? Olha que limpeza, meu! Aqui ninguém joga lixo nas ruas!
— Ahhhh, benhê, isso aqui é primeiro mundo, né? Ooooutra conversa! E olha que charme aquele moço de terno e gravata indo trabalhar de bicicleta! Acho isso chiquėéérrimo!
— Porra, só é! E aposto contigo que se um carro relar nele o motorista vai em cana na hora!
— Claro que vai! Mas aqui não tem esse risco não; se correr além do limite é multado e perde a habilitação!
2° ato – Morr e Benhê de volta a Sampa
— Porra, morr... Nem dá vontade de voltar pra essa terra de merda depois do nosso banho de primeiro mundo, hein?
— Nem fala nada, benhê, nem fala nada... Agora é pagar taxa de lixo e aguentar as ciclovias desse prefeito idiota!
— Isso sem falar na indústria das multas, né morr? Por isso chamo esse petista comunista babaca de Raddad!
— Ahahaha, num guento esse seu senso de humor inteligente! É por isso que eu te amo!
— Também te amo, morr! Um dia a gente muda dessa porcaria de cidade!
— Pra Europa, benhê?
— Quem sabe, meu? Tomara!
— Deus te escute!
— Amém.
E viveram empanados para sempre.
sobre o autor
Alexandre de Oliveira Périgo é um paulistano de 45 anos, pai da Clara e do Léo, que habita as Minas Gerais. Engenheiro e consultor de gestão empresarial desde que os continentes ainda estavam unidos, é também fotógrafo e escritor por amor. Outras paixões são livros, idiomas – se vira razoavelmente em sete –, basquete e curling.