Fuçando os ofícios antigos no acervo do Iphan em São Paulo descobri uma pequena história esquecida no arquivo burocrático à margem da história maior do patrimônio da humanidade.
O sino não existia em São Miguel na época da inauguração do museu construído pelo Dr. Lúcio. Contudo, num belo dia o arquiteto Luis Saia, importante funcionário da regional paulista do Iphan, foi alertado que uma fundição de São Paulo, que comprava sinos antigos para derreter, estava de posse de um objeto sacro suspeito. E descobriu lá o sino com a inscrição “São Miguel” e a marca jesuítica.
O dono da fundição ficou com medo de Saia e propôs a venda pelo mesmo preço pago em quilos. E aproveitou para contar como a peça chegou até ele: logo depois de se aposentar, um padre da região missioneira de Cruz Alta veio para São Paulo e vendeu o sino por peso para ganhar uns cobrinhos...
Após o resgate, o problema era como levar um objeto tão pesado até São Miguel, pois o custo do transporte era maior do que o valor pago pela peça. O fotógrafo Germano Graeser foi encarregado da missão e conseguiu transportar o sino, que Júlio Curtis – primeiro diretor do Iphan no Rio Grande do Sul – sonhava em colocar na torre da igreja para ouvir o mesmo chamado dos jesuítas convocando os índios séculos atrás.
sobre o autor
Victor Hugo Mori, arquiteto (Mackenzie, 1974) é funcionário do quadro funcional da 9ª SR/Iphan de São Paulo.