Ao embarcar para Milão para visitar o Salone del Mobile, folheando a revista da companhia aérea me deparei com um artigo sobre a prática da Bleisure Trip, instituída pelos millennials, nascidos após os anos 80. Era justamente o que eu estava indo fazer naquele momento, mas desconhecia o termo. Viajar a trabalho para a Feira e aproveitar para esticar e curtir uns dias de Dolce far niente.
E eis que as relações fluídas e o espírito nômade que tanto admiro na nova geração, marcaram fortemente minha visita à Itália. O estilo de vida que mescla e justapõe as funções entre casa, lazer e trabalho mostraram desde o Salone Satellite passando pelos ambientes das marcas consagradas até as mostras paralelas do Fuori Saloni, peças móveis e versáteis, que podem ser transportadas para diversos espaços e além disso, transformadas para múltiplos usos. E com certeza se sobressaíram.
Assim como a natureza. Apesar da sustentabilidade e o social serem os temas deste ano, não saltaram aos olhos as inciativas nestas áreas, com algumas exceções. Mas as linhas entre os espaços internos e externos, e a natureza e o design, sem dúvida se mostraram bem tênues pelas inúmeras inserções de verde e inspirações nos mais diversos elementos e paisagens naturais que se viam nos eventos pelos bairros da capital do design. Borboletas nas luminárias, praias nos tapetes, motivos tropicais nos tecidos e estofados em forma de ninhos são somente alguns dos exemplos onde o design remetia à paisagem, a fauna, a flora e aos minerais.
Nas cores as tonalidades onipresentes de verdes e azuis, eram às vezes complementados por tons pastéis, e em outras se tornaram plano de fundo para os tons terrosos, que começam a despontar como tendência nas principais marcas italianas.
A miscigenação de culturas, inerente ao mundo globalizado, apareceu nas estampas dos tecidos, nas cerâmicas e até nas vitrines do quadrilátero da moda. Atmosferas lúdicas, instigantes e exóticas apresentadas nas mostras pela cidade também priorizaram a experiência do vivenciar à simples visitas de showroom.
Na Euroluce as soluções de iluminação mais simples e sensíveis, surpreenderam mais que a imponência de peças grandiosas. Luminárias que podem ser usadas tanto no interno como no externo e releituras que trazem novos usos para antigas formas de iluminar foram destaque. A possibilidade de ser transportada fez da lanterna a luminária da vez. Com versões nos mais diversos materiais e texturas, ela ainda mostrou inovação, reproduzindo música e efeito de luzes.
Sem dúvida toda Milão nos presenteou com um design que conjuga cada vez mais qualidade, conforto e tecnologia, resultando em soluções não mais somente para o morar ou o trabalhar, mas sim para viver, plenamente, em todo seu significado.
sobre a autora
Maria Fernanda Pereira, arquiteta formada pela PUC-PR e École d’Architecture Paris La Seine. Cursou MBA em Gestão de Negócios da Construção Civil na FGV e Pós-graduação em Finanças na FAE. Iniciou as atividades do seu escritório em 2001. Atua nas áreas de criação e execução de projetos de arquitetura e interiores, com foco em reformas residenciais.