Estou impressionado com o radicalismo em geral, até entre os grupos que defendem ações urbanas, como o destino do Minhocão, que mesmo mesclando internamente diversas posições ideológicas, são peremptórios em suas posturas, como torcidas organizadas de futebol, sempre dispostas a matar e/ou morrer.
Bem, nos tempos em que se discutia ao vivo, e não se discursava nas ondas da internet, qualquer coisa podia ser conversada, sem se perder os amigos.
Se fosse só para marcar uma posição – defendo a desmontagem oficialmente desde 1993 –, não estaria me manifestando, e agora que os carros um dia sairão de cima do Minhocão, tem gente que até defende mantê-los, como forma de evitar a gentrificação. O que seria isto, um malufismo de esquerda?
Apesar de ter quilômetros de extensão, não há só um Minhocão. O maior trecho se sobrepõe à São João – a mais importante avenida da cidade, em minha opinião –, depois segue por Santa Cecília sobre ruas e espaços abertos, para o terceiro trecho na Amaral Gurgel. Digo isto, sugerindo que a análise seja feita por partes, tanto para usos, como para desusos.
Tenho medo das soluções quilométricas, que nossos alcaides adoram, um foi de marginais, outro de ciclovias, e este de privatizações, tudo sempre muito rápido, prá já! Parece que ser prefeito daqui é sempre meio e não fim. Somos apenas a população de Portugal.
Tudo isto pra dizer que adoraria conversar sobre o destino daquela coisa medonha que pousou no centro da nossa cidade, primeiro para separar os motorizados dos pedestres e que agora separa amigos, de diferentes torcidas uniformizadas.
Pensei também (para aproveitar a viagem), que a Cidade Limpa iria gerar “cidadelimpismo” por toda parte, e não uma coroa de outdoors envolvendo São Paulo, mas isto já outra conversa, para os sobreviventes, se houverem, da primeira.
notas
NA1 – meu artigo de estreia no Vitruvius, sobre o minhocão: GORSKI, Michel. Abaixo o elevado. O desmonte do Elevado Costa e Silva e o efeito catalisador para a revitalização do Centro. Minha Cidade, São Paulo, ano 06, n. 061.02, Vitruvius, ago. 2005 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/06.061/1970>. Sobre o tema, ver também: GORSKI, Michel. Funciona, mas não é bom. Arquiteturismo, São Paulo, ano 04, n. 044.06, Vitruvius, out. 2010 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/04.044/3636>.
NA2 – ver documentário O quer era, o que é, o que será Santa Cecília? Direção e roteiro de Vinicius Mainardi. Produção de Brothers in picture <https://www.youtube.com/watch?v=UPZZH-wMUR4&feature=youtu.be>.
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