Este ensaio fotográfico mostra duas capelas do século 18, localizadas no município de Goiás Velho e pouco conhecidas dos viajantes e dos pesquisadores que se dedicam ao estudo da arquitetura religiosa de influência portuguesa do período colonial: a Capela de Nossa Senhora do Rosário, no Arraial da Barra, fundado por Bartolomeu Bueno da Silva Filho em 1726; e a Capela de São João Batista, construída em 1761 pelo tenente José Gomes, edifício remanescente do extinto Arraial do Ferreiro.
Na fachada da Capela de Nossa Senhora do Rosário, a sineira é em estrutura autônoma de madeira e fachada típica das capelas jesuíticas, sem profundidade, com poucas aberturas e pesada cornija isolando o frontão e os arremates laterais dos outros elementos da fachada. No seu interior, temos os graciosos retábulo da capela-mor e retábulos laterais, em que se observa, no lado do Evangelho, possível alusão indireta ao Arco de Constantino (arco maior ladeado de dois arcos menores), motivo utilizado em retábulos renascentistas e de transição para o barroco.
No volume externo da Capela de São João Batista se observam elementos típicos das capelas coloniais construídas no Brasil, como a sacristia lateral com entrada independente e pé direito mais baixo do que o da nave e o da capela mor, assim como a solução regional (Goiás e Minas Gerais) da sineira em estrutura autônoma de madeira separada do corpo do edifício. Na estrutura de telhado em caibro armado também se observam frechais e vigas, sistema de cobertura comum entre os séculos 17 e 19.

Capela de São João Batista, retábulo do lado do Evangelho, Arraial do Ferreiro, Goiás Velho GO, 2014
Foto Elio Moroni Filho
No interior, no retábulo do lado do Evangelho se notam influências do barroco Nacional Português (colunas torsas sustentadas por mísulas e decoradas com folhas de parreira e cachos de uvas) e Joanino (guarda-pó). O púlpito com balaústres torneados tem cancelo com balaústres planos, retábulo lateral, arco-cruzeiro, capela-mor e telhado destituído de forro. O retábulo principal de tipo híbrido, datado de 1914, traz traços do Maneirismo (coroamento triangular, ornatos geométricos e baixos-relevos no arco e na faixa abaixo do sacrário), do Barroco Nacional Português (trono em degraus escalonados, mísulas de sustentação das pilastras), do Barroco Joanino (conchas, grinaldas e flores) e do Rococó (auriculares no coroamento do sacrário). No chão da sacristia, o piso em tijoleira ou mezanela, uma espécie de ladrilho poroso de barro que auxilia na redução da umidade que sobe pelas paredes de taipa de pilão.
sobre o autor
Elio Moroni Filho é sociólogo e realiza estágio de pós-doutorado em História da Arte na Universidade Federal de São Paulo.