Encomendada pelo governo brasileiro a Lúcio Costa em 1952, a Casa do Brasil foi inaugurada em 1959, dentro da Cidade Universitária de Paris, situada no 14oArrondissement da capital parisiense. Segundo o próprio arquiteto brasileiro, sua contribuição é apenas um croqui original, totalmente revisto por Le Corbusier, que acabou conferindo ao edifício construído as características brutalistas que ganharam sua obra após a Segunda Guerra Mundial.
A Casa do Brasil é um dos 23 pavilhões de países variados, que abrigam estudantes universitários durante seus estudos na capital francesa. Parece ter cumprido muito bem esse papel ao longo do tempo, pois, “durante todos esses anos, ela já foi a residência temporária de Joaquim Pedro de Andrade, Jaime Lerner, Zuenir Ventura, Sebastião Salgado, Arthur Moreira Lima, Zózimo Barroso do Amaral, Antônio Abujamra, Francisco Rezek, Maria Manuela Carneiro da Cunha e outros” (1).
Há diversas leituras e interpretações acerca desse projeto, tanto sobre sua encomenda como dos episódios envolvidos em sua realização. A recusa de autoria do projeto, atribuindo-a exclusivamente a Le Corbusier, foi motivada, segundo alguns, por uma extrema generosidade de Costa ao passar uma encomenda pessoal para o amigo, como uma espécie de compensação de nunca ter conseguido construir no Brasil. Segundo outros, devido a incompatibilidades instransponíveis acerca dos conceitos estruturadores, fracassou a tentativa de desenvolverem juntos o projeto, o que teria levado o brasileiro a se afastar um tanto irritado do trabalho (2).
Sejam quais forem os reais motivos, é seguro que o projeto construído mantém semelhanças com os croquis originais de Lúcio Costa e me parece exagerado não lhe atribuir papel algum no episódio. O fato de estar muito próximo do Pavilhão Suíço, de 1931, uma das obras mais significativas do primeiro período de Le Corbusier, torna a visita à Casa do Brasil ainda mais interessante, pois coloca o turista diante de transformações profundas sofridas pelo mestre suíço-francês sobre o pensar, o desenhar e o construir arquitetura.
[texto de Abilio Guerra]
notas
1
A Casa do Brasil na Cidade Universitária Internacional de Paris. São Paulo, Universidades Francesas, 25 de setembro de 2013 <https://bit.ly/3bLMKss>.
2
Ver os seguintes textos sobre o episódio: COSTA, Lúcio. Casa do Brasil em Paris. In Registro de uma vivência. São Paulo, Empresa das Artes, 1995, p. 230; SANTOS, Cecília Rodrigues dos; PEREIRA, Margareth da Silva; PEREIRA, Romão Veridiano da Silva; SILVA, Vasco Caldeira da. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo, Tessela/Editora Projeto, 1987; SANTOS, Cecília Rodrigues dos; PEREIRA, Margareth da Silva; PEREIRA, Romão Veridiano da Silva; SILVA, Vasco Caldeira da. Le Pavillon du Brésil à la Cité Universitaire de Paris: un dialogue difficile. In: JOLY, Pierre. Le Corbusier à Paris. Lyon/Paris, La Manufacture/Délégation à l’Action Artistique de la Ville de Paris, 1987, p. 218-222; PUPPI Marcelo. Espaços inacabados: Le Corbusier, Lucio Costa e a Saga da Casa do Brasil, 1953-56. Arqtexto, n. 12, Porto Alegre, Propar UFRGS, 1º semestre 2008, p. 160-203 <https://bit.ly/2KM6wYW>. Este último é uma pesquisa aprofundada sobre as vicissitudes que envolveram o projeto e sua realização.
sobre o autor
Victor Hugo Mori é arquiteto do Iphan São Paulo desde 1987. Autor de Arquitetura militar: um panorama histórico a partir do Porto de Santos (Imesp/Funceb, 2003) e organizador de Patrimônio: atualizando o debate (Iphan/Dersa, 2006).