Na fronteira dos estados de São Paulo e Minas Gerais e em meio à paisagem verde das montanhas da Serra da Mantiqueira está a pequena cidade paulista de São Bento do Sapucaí, situada no Vale do Paraíba paulista. Bem próxima está a famosa Campos do Jordão, ponto turístico intensamente acessado durante o inverno devido às baixas temperaturas e paisagens idílicas.
Além de Campos do Jordão, a cidade tem como municípios limítrofes Santo Antônio do Pinhal (em São Paulo), e Sapucaí-Mirim, Gonçalves, Brasópolis, Paraisópolis e Piranguçu (em Minas Gerais). De acordo com o último censo (1), a cidade possui pouco mais de 10 mil habitantes e é considerada uma Estância Climática. Pra quem quer ver a cidade do alto, a aventura e a vista são garantidas pelas formações rochosas da Pedra do Baú, Bauzinho e Ana Chata. Mas não só a natureza chama a atenção na cidade. Deslumbrantes mosaicos de azulejos e peças cerâmicas levam cores aos espaços públicos. Casas, capelas, escolas e monumentos decorados conferem uma atmosfera peculiar ao espaço urbano sambentista.
Engendrando o ethos cultural e artístico de São Bento do Sapucaí, os mosaicos são compostos por cacos de azulejos ao estilo trencadís, técnica que consiste na quebra de peças cerâmicas em pequenos fragmentos aplicados em um mosaico único de diferentes tonalidades sobre uma base de argamassa de cal, permitindo a adaptabilidade das peças cerâmicas às diferentes superfícies (2). A técnica, consagrada por Antoni Gaudi em Barcelona e replicada com maestria no Rio de Janeiro pelo Jorge Selarón, leva arte e proporciona múltiplas leituras no espaço urbano de São Bento do Sapucaí.
O trencadís sambentista ganhou até um “roteiro dos mosaicos” (3), institucionalizado pelo Poder Público municipal e que propõe novas lógicas no turismo local para além da temática natureza e aventura. Nesse roteiro, a Casa da Cultura é um dos pontos de interesse, batizada com o nome do ilustre antigo morador: Miguel Reale. No quintal da Casa, os mosaicos podem ser vistos no muro e nas esculturas. Seguindo pelas bucólicas ruas de pedra da cidade, pode-se encontrar a Capelinha de Mosaicos, revestida no interior e exterior por mosaicos cuidadosamente elaborados pelos artistas plásticos Ângelo Milani e Cláudia Villar. A centenária edificação foi restaurada em 2008 e resultou em uma profusão de cores e elementos de fé.
Detalhe do interior da Capela de Mosaico II
Foto Bianca Siqueira Martins Domingos
O interior e o altar da Capelinha contam histórias a partir de uma sequência lógica desenvolvida pelos artistas. Alocada ao lado da porta está uma poesia de Tarcísio Bregalda (também em azulejo, claro!). Intitulada de “Milagre aos Cacos”, vale a transcrição do texto do poeta local: “A leveza de um caco ofertado com rituais de lirismo e fé. Cada pedaço renascido, recriado por mãos inquietas e sábias, pedaços, originados de centenas de vidas, imortalizados num mosaico. Das pequenezas sim, o ofício da convivência dos pedaços e aos pedaços o sublime e encantado signo do sagrado. A leveza e a arte na capelinha, incorporando parte por parte o esplendor e as dimensões de Catedral”.
Ainda nos caminhos de fé e mosaicos de São Bento do Sapucaí, a Capelinha de Mosaico II (esta localizada às margens da estrada do Paiol Grande, Rodovia Prefeito Benedicto Gomes de Souza) também encanta os turistas pelos mosaicos multicoloridos.
Outra atração da cidade composta por mosaicos é a Escola Dr. Genésio Cândido Pereira. Situada em frente à praça central, os painéis que se estendem por todo o muro que circunda a escola atraem os olhares de quem passa com seus mosaicos feitos de forma coletiva pelos alunos da escola, com temáticas que abrangem desde desenhos até poesias.
Com poemas de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Manoel de Barros, Ferreira Gullar e outros, os mosaicos coloridos levam leveza e arte para o espaço público.
Visão ampla do Muro da Escola Estadual Dr. Genésio Cândido Pereira
Foto Bianca Siqueira Martins Domingos
Para quem busca artesanato, no Bairro do Quilombo está localizado o Atelier Ditinho Joana, repleto de peças entalhadas em madeira que reproduzem cenas do cotidiano pelas mãos do talentoso escultor.
Os cacos de azulejos estão por todas as partes. Nos números das casas, nos detalhes construtivos, em propagandas. A beleza dos mosaicos multicoloridos da cidade se revela não somente nesses locais apresentados, mas também na Capela de Santo Stylianos, nas Estações da Via Sacra do Morro do Cruzeiro, no Recanto São Benedito, no Acampamento Paiol Grande e nos muros das casas dos artistas locais. Nos pequenos cacos cerâmicos está a tessitura de uma cidade inesquecível.
Casa próxima à Capela de Mosaico I
Foto Bianca Siqueira Martins Domingos
notas
1
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-bento-do-sapucai/panorama>.
2
GÓMEZ-RAMIÓ, Júlia; CAVALARO, Sergio; AGUADO, Antonio. The Trencadis Mosaic on the Pinnacles of the Sagrada Familia Cathedral. Taylor & Francis Online, 16 jul. 2015, p. 594-604 <https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/15583058.2013.834089?journalCode=uarc203&>.
3
Roteiro dos Mosaicos. Prefeitura da Estância Climática São Bento do Sapucaí SP <https://www.saobentodosapucai.sp.gov.br/site/roteiro-dos-mosaicos/>.
sobre a autora
Bianca Siqueira Martins Domingos é doutoranda em Planejamento Urbano e Regional (Univap). Mestre em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade (Unifei). Docente e Coordenadora de Relações Institucionais e do Serviço Eletrônico de Editoração de Revistas no Centro Universitário Teresa D’Ávila.
