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architectourism ISSN 1982-9930

Vista panorâmica de Fes, Marrocos. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
A Ilha de Manhattan, New York, possui muito mais que arranha céus e ruído de carros. O artigo apresenta um parque de bairro, o Teardrop Park, voltado para lazer e contato com a natureza.

english
Manhattan Island, New York, has much more than skyscrapers and car noise. The article presents a neighborhood park, Teardrop Park, aimed at leisure and contact with nature.

español
La Isla de Manhattan, New York, tiene mucho más que rascacielos y ruido de automóviles. El artículo presenta un parque del vecindario, Teardrop Park, destinado al ocio y al contacto con la naturaleza.


how to quote

ESPINDULA, Lidiane. Teardrop: um parque de bairro. Arquiteturismo, São Paulo, ano 14, n. 163.02, Vitruvius, out. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/14.163/7908>.


Como arquiteta, urbanista e paisagista sempre que possível dou preferência em viajar nas minhas férias. Não foi diferente quando retornei aos Estados Unidos da América e tive o prazer de visitar a cidade “que nunca dorme”. Em meio a tantas construções, barulho de carros, pessoas por toda a parte, incluí no meu roteiro de viagem um dia para visitar um pequeno parque na Ilha de Manhattan, parque que me foi apresentado em uma aula de paisagismo da Ufes, pelo querido professor Homero Penteado.

No planejamento urbano, cada vez mais acentua-se a importância das áreas verdes no contexto das cidades. Áreas livres como parques e praças proporcionam melhor qualidade de vida e beleza para os centros urbanos e, tratando-se da cidade “que nunca dorme”, o Parque Teardrop tem grande relevância para uma área residencial da Ilha de Manhattan, em New York City.

Teardrop Park, área aberta gramada, Nova York, 2018
Foto Lidiane Espindula

Em seu cenário acinzentado, Manhattan possui “pérolas verdes” espalhadas em seu território, seja em grande escala, como o conhecido Central Park, como em pequena escala, chamados de “pocket parks”, ou parques de bolso, localizados em pequenos lotes cercados por altos edifícios, como o Greenacre Park, o Paley Park, o 1886 Broadway, entre tantos outros. Os habitantes de New York possuem uma rotina acelerada e esses espaços são fundamentais para descanso e convívio social, normalmente utilizados em horários de almoço e intervalos do trabalho.

Teardrop Park, brincadeiras na área gramada, Nova York, 2018
Foto Lidiane Espindula

Apesar do ritmo, o nova-iorquino relaciona-se bem com os espaços livres públicos. O uso não é somente por meio de esportes, mas é comum, principalmente na primavera e no verão, presenciar apresentações culturais ao ar livre, com música e teatro, gratuitamente. Isso se dá, também, pela qualidade da infraestrutura, com áreas sombreadas, mobiliários urbanos criativos e bem cuidados, além, claro, de espaços de alimentação que atraem os transeuntes.

Teardrop Park, trilhas em meio a vegetação, Nova York, 2018
Foto Lidiane Espindula

Dentre tantos parques de bairro espalhados, o Teardrop Park é um parque de médio porte, com cerca de 7mil m², escondido em uma área residencial da ilha, pouco conhecido, inclusive, pelos habitantes da “Big Apple”. É um parque para toda a família, principalmente para crianças de todas as idades, e é capaz de transformar um adulto em criança novamente.

Teardrop Park, trilhas em meio a vegetação, Nova York, 2018
Foto Lidiane Espindula

Originalmente a área era completamente plana, contudo seus projetistas, do Michael Van Valkenburg Landscape Architects (1), trabalharam o terreno, criando áreas altas e baixas, para proporcionar dinâmica e, principalmente, curiosidade. É dividido em subespaços, havendo duas principais áreas e pode ser cruzado pelos moradores, pois possui quatro acessos, porém quem transita pela calçada não imagina o grande espaço aberto dentro da quadra. Apesar de partir de um quarteirão com formato próximo ao retângulo e cercado por quatro edifícios, o desenho do parque possui forma irregular e sinuosidade, proporcionando exploração e movimento.

Teardrop Park, presença de pequenos animais, Nova York, 2018
Foto Lidiane Espindula

A primeira área é composta por um gramado, cercado por vegetação de médio e grande porte e caminhos abertos para andar e pedalar. Esse gramado foi estrategicamente localizado levando em consideração a insolação e a sombra provocada pelos prédios, resultando em um espaço aberto com sol durante quase todo o dia, ótimo para correr, fazer exercícios, jogar bola, fazer piquenique e até cochilar!

Nessa área também é possível encontrar caminhos e trilhas que permitem contato com a vegetação e com pequenos animais. Há uma predominância no uso de plantas nativas, de diversos portes, cores e texturas, o que convida o transeunte a escolher caminhos alternativos para circular, sempre em contato com a natureza.

E entre os percursos é possível encontrar pedras empilhadas que são verdadeiras obras de arte, que também podem ser escaladas pelas crianças. Há também bancos isolados, em meio a vegetação, ideais para leituras ao som de pássaros.

O acesso a segunda área do parque, ao sul, se dá também através das pedras empilhadas, mas em forma de um paredão. No local encontra-se uma pequena passagem que desperta curiosidade e convida a adentrar para novas descobertas, com grandes desníveis e muito lazer ativo. Há espaços para escalar rochas, brincar na areia, trilhas e jatos d’água entre as pedras com quedas d’água que lembram pequenas cachoeiras. A área é sombreada e protegida do vento. Apesar dos níveis diferenciados, o parque é acessível e também utilizado por idosos e pessoas com problemas de locomoção.

Poder usufruir de ambientes naturais em meio ao ritmo acelerado das cidades é muito importante para a saúde, o bem-estar e, considerando crianças, para o desenvolvimento cognitivo, criativo e motor. Infelizmente muitos parques e praças não valorizam as áreas verdes e dão preferência para equipamentos de playgrounds pré-desenvolvidos, ou seja, equipamentos prontos como escorregas, balanços, gira-gira, entre outros. Contudo, percebe-se que crianças se apropriam dos espaços de maneiras mais diversas possíveis e não desenvolvem novas brincadeiras e habilidades a partir de brinquedos prontos.

No caso do Teardrop Park a proposta foi exatamente contrária aos modelos tradicionais de lazer infantil, uma vez que oferece, por meio elementos lúdicos, novas possibilidades de aventuras, com a presença de fontes d’água, pedras com diferentes tamanhos e texturas, subidas e descidas, resultado dos desníveis planejados, desenvolvendo o potencial expressivo dos materiais naturais da construção paisagística e reinventando a ideia de brincadeira ao ar livre com o contato com a natureza. É possível correr, subir, descer, se esconder, desenvolvendo capacidades motoras, para um desenvolvimento infantil saudável, as crianças realmente se sentem como em uma selva.

O escorregador entre as pedras chama atenção pela altura e pela forma como é acessado. As crianças podem dar a volta e subir pelas escadas ou simplesmente escalar a parede de pedras empilhadas. Claro que tal atividade é para crianças maiores e para as menores há uma área separada ao lado, um espaço com areia, cercado e com assentos, tanto em bancos como em forma de arquibancada, que encorajam a socialização dos adultos.

Somente nesta área do parque que se encontra lazer ativo e está a uma distância segura da rua. Não há quadras ou áreas de alimentação, o parque é visivelmente voltado para atender os moradores do entorno e não para chamar atenção de pessoas de outras áreas da cidade. A proposta é introduzir verde e área de calmaria ao caos urbano, em meio a tantos edifícios de múltiplos andares, um verdadeiro oásis.

O conforto ambiental das edificações do entorno foi pensado concomitantemente com o parque. O estudo da área indicou que os altos edifícios do entorno resultariam em muitas áreas sombreadas e também grandes corredores de ventos entre os prédios, devido a proximidade com o Rio Hudson. Tais análises influenciaram diretamente o programa do parque, na localização dos equipamentos, no posicionamento e tipo de vegetações (2).

Os prédios do entorno são classificados como LEED Gold, uma vez que as águas cinzas são capturadas, tratadas, armazenadas e utilizadas para irrigação do parque. Além disso, houve um aprofundado estudo do solo e a inclusão de plantas não tóxicas, solos orgânicos com manutenção que evita pesticidas, herbicidas ou fungicidas, que podem ser prejudiciais não somente para as pessoas, como também para os animais (3).

O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um sistema internacional de certificação e orientação ambiental que busca incentivar os mais variados projetos com foco na sustentabilidade. Para a certificação, são analisados: transporte, eficiência no uso da água, espaços sustentáveis, uso da energia, materiais e recursos, qualidade ambiental, inovação, entre outros aspectos. Há quatro tipos de certificados: LEED Certified, LEED Silver, LEED Gold e LEED Platinum.

O roteiro de viagem incluindo o Teadrop Park foi uma ótima experiência, pois o parque mostra que é possível ter mais qualidade de vida e que espaços abertos de lazer são importantes para unir famílias, exercitar, descansar, brincar, mesmo na cidade que nunca dorme!

notas

1
Michael Van Valkenburg Landscape Architects. In: Landezine Architecture Plataform <https://bit.ly/347gE9e>.

2
Fonte de pesquisa: ASLA. Professional Awards, 2009 <https://bit.ly/2T0Va7Ahttps://www.asla.org/2009awards/001.html>.

3
Idem, ibidem.

sobre a autora

Lidiane Espindula é mestre em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes. Pós-graduada em Paisagismo e Plantas Ornamentais pela Universidade Federal de Lavras – Ufla. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Ufes. Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Unifacig. 

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