Durante a construção de Brasília na segunda metade dos anos 1950, seus grandes idealizadores – os arquitetos e urbanistas Lúcio Costa e Oscar Niemeyer – adotaram um dos princípios em voga na discussão do movimento moderno internacional: a síntese das artes!
Era um valor tão potente que, em setembro de 1959, quando ainda estava em construção, a nova capital foi palco do Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte, evento que trouxe para o planalto central brasileiro nomes como os arquitetos Richard Neutra, Eero Saarinen, Jean Prouvé, André Wogenscky, os editores John Entenza e Andre Bloc, o urbanista e presidente do júri para o concurso de Brasília William Holford, a designer Charlotte Perriand, além dos próprios críticos Stamos Papadaki, Gillo Dorfles, Giulio Carlo Argan, Alberto Sartoris e Bruno Zevi, dentre outros tantos.
Brasília e sua majestosa arquitetura deu suporte para as obras de artistas do quilate de Bruno Giorgi, Alfredo Ceschiatti, Franz Weissmann, Maria Martins, Lasar Segall e Marianne Peretti, além da arte paisagística de Roberto Burle Marx. Athos Bulcão, um dentre tantos, se destacou pelo número de obras e soluções “simbióticas” com a arquitetura, exemplificadas pelas empenas externas do Teatro Nacional, o painel de madeira entreliçado do Palácio do Itamaraty, e a azulejaria da Igreja Nossa Senhora de Fátima, a “Igrejinha”, onde Niemeyer e Bulcão cumpriram com elegância e maestria a promessa feita pela primeira-dama Sarah Kubitschek. De Athos Bulcão é a “Ventania”, obra em azulejos de 1971, instalada em parede do Salão Verde da Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional.
Poucos anos depois da inauguração, a bela paisagem artificial, concebida e construída a partir do que melhor tinha acumulado em conhecimento técnico e beleza plástica nossa arquitetura moderna, tornou-se fonte de notícias nem sempre alvissareiras, chegando ao ponto atual, onde elas são péssimas. Acreditamos que não podemos creditar esse passivo na conta de nossos arquitetos e artistas.
sobre os autores
Abilio Guerra é professor de graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie e editor, com Silvana Romano Santos, do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.
Michel Gorski é arquiteto e escritor, trabalha com arquitetura do entretenimento e urbanismo, é coeditor da revista Arquiteturismo. Autor dos livros (em parceria com Silvia Zatz): Por um triz (juvenil), O soprador (romance adulto), Irerê da Silva e A mão livre do vovô (infantis).