Ir à Colômbia, sendo brasileira, foi como reconhecer um país irmão. Em um mês, sob orientações de professores e trocas com colegas pesquisadores, registrei perspectivas pessoais das impressões que tive dos lugares visitados. O tema é a paisagem fluvial e os registros têm a fragilidade e subjetividade de um diário de bordo. A vontade de compartilhá-los é a de expressar essa identificação, de mostrar como vi semelhanças entre nós: problemas, complexidades e belezas, bem como a clareza e o reconhecimento de que juntos seríamos mais fortes. Vislumbra-se a ideia de eliminar as fronteiras invisíveis que nos torna distantes e de nos unirmos como uma nação única, agregadora de povos subdivididos pelos colonizadores. Como coloca Bolívar, no contexto de celebração de tratados propostos pela Colômbia, em 1822, entre cinco repúblicas hispano-americanas:
“La asociación de los cinco grandes Estados de América es tan sublime en si misma, que no dudo vendrá a ser motivo de asombro para la Europa. La imaginación no puede concebir sin pasmo la magnitud de um coloso, que semejante al Júpiter de Homero, hará temblar la tierra de uma ojeada. Quién resistirá a la América reunida de corazón, sumisa a uma ley y guiada por la antorcha de la libertad?”
Integrar a América Latina é uma ideia secular, cuja força a faz persistir e se tornar presente a cada encontro de seus residentes.
Segue o relato da viagem.
O workshop Field Stations, na Colômbia, foi promovido entre julho e agosto de 2019 pelo Wright Ingraham Institute. No início do ano, foi feita uma seleção internacional de candidatos baseada na análise de currículo e portfólio para a escolha de dez participantes que, junto a mais seis professores, fizeram parte dessa viagem de pesquisa à Colômbia. O trajeto realizado por terra cruzou as duas cordilheiras dos Andes, de Bogotá até Medellín, passando por Armero, pela Reserva Natural de Rio Claro, em Sonsón, e pela cidade colonial de Santa Fé de Antióquia.
No início da viagem sugeriu-se que cada pesquisador definisse um projeto de estudos que pudesse desenvolver ao longo da viagem. Como o acesso a dados e informações seria restrito, a atividade foi mais baseada na observação e nos relatos de moradores. O trabalho era individual e foi apresentado no último dia de viagem. Os professores se disponibilizaram integralmente para orientações. Palestras com pesquisadores e professores convidados foram realizadas ao longo da viagem.
A minha proposta foi relacionada à pesquisa do doutorado em desenvolvimento. Era também importante que o material recolhido na viagem fosse útil e comunicativo para os estudos do Laboratório de Projeto. O resultado da pesquisa, uma sequência de desenhos que buscam responder e comprovar a hipótese colocada, foi apresentado na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, 2019, no contexto das Conversas Desenhadas, promovidas pelo Laboratório.
Professores participantes
Kevin Bone, diretor do Wright Ingraham Institute. Foi professor em arquitetura na Cooper Union, Nova York. É arquiteto no escritório Bone/Levine Architects.
Brendan Doyle, conselheiro do Wright Ingraham Institute. Foi analista de políticas, gestor e conselheiro sênior do U.S Environmental Protetion Agency. É fundador do Planterra Landscape Planning and Design, Washington D.C.
Andrea Pinochet, arquiteta fundadora do escritório Firm+groma Arkitekter. Leciona na Universidade de Hong Kong, Oslo School of Architecture e Monash University.
David Gouverneur, professor do Departamento de Arquitetura da Paisagem na University of Pennsylvania. Foi secretário adjunto em Planejamento Urbano da Venezuela.
Nicholas Pevzner, professor na Universidade da Pensilvânia.
Stephanie Carlisle, palestrante em ecologia urbana na PennDesign. Pesquisadora na Kieran Timberlake Architects.
Outros pesquisadores participantes:
Amy Willox, consultora em desenvolvimento sustentável e planejamento ambiental. Graduada em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade College London.
Arielle Milkman, etnógrafa e doutoranda em Antropologia Cultural na Universidade de Colorado.
Emma Podietz, mestranda em Paisagem da Arquitetura na Universidade de Maryland.
Erich Wolff, engenheiro civil e geotécnico, graduado pela Universidade de Brasília. Doutorando em Arquitetura pela Universidade de Monash, Austrália.
Lily Raphael, graduada em Desenvolvimento Internacional pela Univeridade McGill, mestranda em Comunidade e Planejamento Regional pela Universidade British Columbia.
Kirk Gordon, designer gráfico. Mestre pela Universidade da Virginia, em Arquitetura da Paisagem.
Rian Rooney, graduado em Planejamento Urbano pela Harvard Graduate School of Design.
Vastavitka Bhagat, arquiteta graduada pela Sir J.J. College of Architecture, Mumbai.
Yuri Paz, engenheiro civil e mestre em Geotécnica pela Universidade de Brasília.
Projeto
Proposta: Compreender, analisar e registrar, em desenho e fotografia, as infraestruturas fluviais nos locais visitados.
Questão geral:
Como construir nossa casa, da escala da unidade à macro escala, de modo a causar menos impacto, a atender necessidades vitais e sócio culturais, a longo termo?
Hipóteses:
1. A água é a espinha dorsal das paisagens, rurais e urbanas, nas diferentes escalas, de modo capilar e sistêmico;
2. A promoção do uso integrado e eficiente dos múltiplos usos da água deve ser uma meta para o controle e construção das infraestruturas das águas;
3. O uso do lazer, da recreação fluvial, em projeto esteticamente belo pela delicadeza e refinamento das técnicas e materiais empregados, é fundamental para a manutenção das infraestruturas construídas. É esse o uso que deve garantir a conexão dos habitantes com o seu espaço e o consequente interesse de proteção e manutenção da infraestrutura fluvial.
4. A cultura de projeto de arquitetura, desenvolvida na história da humanidade, deve ser a base para as construções. A incorporação de novas tecnologias desenvolvidas deve ter como base as técnicas e materiais de uso já consolidado e comprovado.
Processo
O material aqui apresentado revela o processo de pesquisa ao longo da viagem. Tratam-se de estudos e desenhos das infraestruturas fluviais visitadas, na busca de respostas e evidências das hipóteses. Está dividido nas seguintes partes:
1. Alexander von Humboldt
2. Geografia da Colômbia – Proposta de transporte público
3. Bogotá – Sistema de abastecimento
4. Armero – Sistema de irrigação
5. Medellín – Parque do rio Medellín
6. Medellín – Bairro de Morávia
7. Santa Fé de Antióquia – Pátios internos
8. Ponte Ocidental – Rio Cauca
9. Jerusalém
10. Reserva natural do Rio Claro
1. Alexander von Humboldt
Humboldt foi um pesquisador alemão que fez uma expedição pela América Central e do Sul ao longo de cinco anos, de 1799 a 1804. Retratou com riqueza de detalhes, em mapas e desenhos, a fauna e flora observada. Nesse período a ciência englobava todos os campos: biologia, física, astronomia, química, geografia, geologia. Era um cientista completo, que compreendeu a natureza como um sistema, um conjunto de elementos interligados que formavam um organismo único. Na época em que as florestas eram devastadas por um questão de higiene e para produção agrícola, Humboldt alertou para os riscos que as intervenções no meio ambiente poderiam oferecer.
Uma das ilustrações mais conhecidas de Humboldt, Naturgemälde (pintura da natureza), foi publicada após a expedição, em 1807. Trata-se de uma síntese da diversidade de fauna e flora encontradas no vulcão Chimborazo, nos Andres, Equador. Nas colunas laterais, informações relativas às escalas, solo, ar, temperatura, pressão, animais, entre outras, integram o desenho.
A leitura de textos de Humboldt e a análise de seus desenhos, que antecederam a viagem, foram essenciais para despertar a curiosidade sobre os lugares visitados. Humboldt reforçou a visão de Simon Bolívar, seu contemporâneo, de que os povos da América Latina deveriam se unir para se fortalecerem.
Seguem desenhos do pesquisador: mapa da América do Sul, jangada onde levava vegetações e pequenos animais encontrados, e Naturgemälde. Na parte inferior da primeira imagem, o corte transversal dos Andes, na Colômbia, revela as três cordilheiras e a localização da capital, Bogotá, na formação oriental.
2. Geografia da Colômbia – proposta de transporte público
Nos limites da Colômbia, os Andes se dividem em três cordilheiras. As principais cidades, Medellín e Bogotá, encontram-se em cordilheiras opostas. A primeira, a Oeste, e a segunda, a Leste. O trajeto entre os dois polos urbanos é tortuoso, o equivalente a descer e subir um mar de montanhas somando um desnível de quase 11 mil metros. Os caminhos beiram as escarpas em percurso sinuoso, em sequência nauseante de curvas e mudanças de pressão e temperatura do ar. Em seis horas, deixa-se o clima ameno de Bogotá para se chegar ao clima úmido e quente do vale do rio Madalena, principal do país.
Faz-se aqui um ensaio do que poderia ser um teleférico que ligasse as duas cidades. Ao invés do caminho em ziguezague pelas encostas íngremes das cordilheiras, o trajeto seria retilíneo. Ancorados por torres, os cabos de aço sustentariam cabines de passageiros e sobretudo cargas. Rio Cauca e Madalena, nos fundos de vale entre as cordilheiras, poderiam retomar a navegação até Barranquillas e Cartagena, no Mar do Caribe. A linha transversal de cabo-aéreo teria dois pontos de intermodalidade nos portos fluviais referentes. Paralelo aos rios, trilhos ferroviários fariam o percurso até os portos marítimos.
Essa proposta é inspirada no Cabo-aéreo Manizales-Mariquita que funcionou entre 1922 e 1961. O sistema transportava cargas de Manizales, a 2.150m, a Mariquita, a 500m de altitude. Por se tratar de uma região mais plana, de Mariquita a Honda, onde se situava o porto fluvial, as mercadorias eram levadas no lombo de burros. Eram 15km de percurso para se descer 270m em direção ao rio. Os cabos somavam 73km pontuados por 22 estações. O que era feito anteriormente em 10 dias por terra, com uso da força animal, passou a ser feito em 10 horas de viagem, com velocidade de 2m/s. A concepção da ideia foi de Frank Koppel e o projetista, James Lidsay.
3. Bogotá – sistema de abastecimento de água
Bogotá fica a 2.640m de altitude, na encosta da cordilheira oriental dos Andes. O sistema de abastecimento de água ocorre por gravidade. É formado por uma sequência de lagos de degelo. Os reservatórios naturais estão no alto da montanha que ladeia a cidade e que chega até 3.669m. Bogotá está no pé dessa cadeia montanhosa, em área do Planalto Cundiboyacense. Essa região de onde se capta a água da cidade é parte do Parque Nacional Chingaza, um lugar que possui uma vegetação frágil e rara, de crescimento lento, o Páramo. O crescimento urbano avança sobre a área de proteção e coloca em risco a natureza original.
Uma das possibilidades de se garantir a integridade desse ambiente é a conscientização a respeito da importância desse lugar. Propõe-se aqui o desenvolvimento de atividade de turismo ecológico controlada para que o reconhecimento público de suas riquezas naturais seja comunicado. As intervenções são as mais delicadas possíveis, como o pontão ilustrado nos desenhos, que flutua sobre o lago. Essa plataforma tem a função de permitir o acesso ao lago de maneira mais segura, visto que entre terra e água, há uma faixa de vegetação subaquática com profundidade de 3 a 5m, que não oferece solo firme para a pisada. Apesar da aparência de um chão de musgo úmido, a sensação é de uma vegetação movediça. Uma pessoa desavisada que colocar os dois pés sobre essa faixa pode afundar e não ter onde apoiar as mãos para forçar a sua saída, visto que a planta não oferece resistência ao peso. Atualmente, para se aproximar da água é necessário pisar sobre vegetações semelhantes a arbustos de capins grosseiros que crescem sobre essa vegetação e formam raízes mais firmes.
Um mito muísca, população original da área, relata que essa ampla área de planalto era uma bacia de um grande lago. Uma divindade foi responsável pela abertura de uma queda d’água, Salto de Tequendama, que descia as cordilheiras até o rio Madalena. A cachoeira esvaziou o lago, que se transformou em uma área alagadiça de pântano. Povos que habitaram a região há 3 mil anos desenvolveram uma técnica de cultivo muito sofisticada. Trata-se de um sistema de canais e plataformas, em que as águas rasas se aqueciam ao longo do dia e irradiavam calor nas noites frias, evitando o congelamento das plantações sobre a plataforma. O material dragado do fundo dos canais artificiais recompunha a plataforma, ricos em matéria orgânica. Essa prática ocupou grandes extensões do planalto e modificou a topografia e a paisagem do lugar. Até hoje ainda existem áreas em que as estrias dos canais construídos podem ser observadas de voos aéreos.
Bogotá precisa de uma política pública que preserve seu ecossistema. É uma das poucas capitais que tem águas de degelo disponível para abastecimento. E a qualidade e volume dessas águas dependem da preservação do seu entorno. Não à toa, os muíscas acreditavam que o lago de Chingaza era a mãe desse povo. A simbologia é fortalecida pelo papel que exerce até hoje.
4. Armero – sistema de irrigação
Armero foi uma cidade destruída pelas lavas do vulcão Nevado del Ruiz, em 1985. Mais de 20.000 pessoas morreram. No local, restam ruinas e ruas desertas. Uma pilha de sacos de arroz, de produção local, segurou o rio de lavas e protegeu parte da área rural e urbanizada, dentre essa área, a fazenda El Puente. Os desenhos que seguem ilustram o sistema de irrigação dos arrozais. Uma barragem no rio Lagunilla deriva águas para canais laterais que, por sua vez, bifurcam-se em canaletos que contornam a produção.
5. Medellín – Parque do rio Medellín
O Parque Botânico do rio Medellín teve parte de suas obras concluídas e entregues no final de 2018. Trata-se de um projeto de grande porte que tem qualidades, sendo a principal voltar as atenções e o olhar às águas, requalificar os espaços urbanos onde se inserem as moradias nas margens do rio e recriar um ambiente agradável, arborizado ao longo de um passeio. O projeto, porém, apresenta, a meu ver, algumas fragilidades que relaciono aqui: o trecho de rampas de acesso ao túnel continua sendo uma barreira intransponível para se chegar ao rio.
O trecho de túnel ocorre em uma das margens e não se estende ao longo de todo o rio na área urbana. Para um projeto de parque fluvial, o rio sendo um eixo linear e contínuo, que atravessa a cidade, é importante que o parque também o seja, acompanhando as águas como um feixe de infraestrutura verde contínua de proteção ambiental, um corredor de microclima e bioma específico.
O uso da navegação não está contemplado no projeto. Essa possibilidade poderia ser estudada visto que se trata de um rio de grande porte que conecta uma sequência de cidades fluviais.
A linha água-terra poderia ter sido projetada de modo a aproximar as pessoas da água. No parque, um renque de arbustos densos de 2 a 3m de altura, ao longo das margens do rio, fecha a visão para o leito e anula a possibilidade de se descer a um nível de cais mais baixo, mais próximo do nível d’água. Dessa forma, no parque do rio não se pode o vê-lo quando se está às suas margens, somente na travessia pela ponte.
6. Medellín – Bairro de Morávia
O Bairro de Morávia se constituiu a partir de uma ocupação irregular, autoconstruída, iniciada em 1950. A partir de 77 a área lindeira ao rio de Medellín começou a ser preenchida por rejeitos variados. Formou-se uma montanha de lixo de aproximadamente 30m de altura. Além da condição insalubre, o bairro era marcado pela violência do narcotráfico. Em 2003, ano que antecede as intervenções urbanas, o bairro contava com mais 30 mil habitantes.
O Plano Parcial de Melhoramento Integral do Morávia (1), implementado entre 2004 e 2011, envolveu os moradores na busca da construção de espaços de mais qualidade e foi responsável por uma transformação urbana importante. O lixão deu lugar a um parque inteiro vegetado, ruas foram abertas ao longo do córrego e equipamentos públicos construídos. Dentre eles, o Centro de Desenvolvimento Cultural de Morávia, último projeto do arquiteto Rogelio Salmona, inaugurado em 2007. O conjunto de edificações se destaca por sua qualidade de espaço integrador, aberto às margens do córrego principal, funcional e esteticamente belo, construído com os tijolos típicos da região.
É preciso observar, entretanto, que as águas do córrego continuam recebendo esgotos, o tecido urbano que sobe as vertentes do rio ainda tem restrita mobilidade, pouca vegetação ou espaços públicos abertos. Os desenhos que seguem são de projeto de arquitetura para a infraestrutura urbana fluvial de Morávia. Propõe-se galerias de esgoto e águas fluviais paralelas ao canal, barragens móveis para controle das águas e arborização mais densa ao longo dos passeios fluviais.
Morávia tem a vantagem de ser implantada em área de várzea do rio e, portanto, com diferenças de nível mais amenas. Outras áreas autoconstruídas da cidade se estendem pelas vertentes do rio Medellín, até o divisor de águas, chegando a mais de 600m de desnível em relação às águas, onde a cidade formal se consolidou. Ou seja, é preciso descer uma “Serra do Mar” para chegar ao centro da cidade. E a volta é pior. Conforme se sobe em altitude, os caminhos vão se estreitando, passando de uma rua com calçamento e calçadas; a ruas sem passeios, com largura para passagem de um veículo por vez; que se bifurcam em caminhos de terra batida somente para pedestres; e no extremo das ramificações viárias, trilhas onde é preciso escalar, ajoelhar-se para não perder o equilíbrio. O sistema de transporte de teleféricos é insuficiente. A distância entre estações é superior ao raio de conforto para acesso a pé e a rede de ônibus não é capaz de atender a capilaridade densa e tortuosa nas encostas dos morros. O direito à mobilidade, infelizmente, ainda é para poucos.
7. Santa Fé de Antióquia – pátios internos
Santa Fé de Antióquia é uma pequena cidade colonial fundada em 1541. As edificações históricas foram mantidas e reproduzem a cultura construtiva espanhola de influência árabe. As ruas de calçamento de pedra são áridas e as fachadas brancas das casas refletem o sol equatorial. Praças distribuídas na malha quadriculada oferecem sombra e espaços para mesas, bancos e feiras livres, além da vista para as igrejas que as emolduram. As praças, entretanto, não são as únicas áreas verdes. O pátio interno das casas, que se revelam pelas frestas das portas entreabertas, são espaços abertos e densamente arborizados. Cria-se um microclima úmido e sombreado, contrastante com a aridez das ruas emolduradas por fachadas contínuas. Os telhados do entorno construído conduzem as águas ao pátio central, que por vezes formam um pequeno espelho d’água de chuva.
8. Ponte do Ocidente – rio Cauca
A ponte do Ocidente, que cruza o rio Cauca, foi construída em 1887. O projeto do engenheiro José Maria Villa transpõe um vão de 291m com uma estrutura suspensa e tabuleiro de madeira. A cabeceira da ponte na margem direita se abre a uma pequena praça com escadarias que acessam uma edificação pública de térreo + 1, de planta retangular e cobertura de quatro águas. Os calçamentos de pedras, e degraus e canaletos de tijolos maciços conduzem as águas pluviais pelo espaço aberto, mas convidativo de patamares amplos que descem até o nível térreo. O sobrado tem embasamento de tijolos e um corredor central que o atravessa. No piso superior, contornando as quatro fachadas, uma varanda sobre estrutura leve de madeira oferece vista à ponte e ao rio.
A estrutura ousada para a época é ao mesmo tempo de uma geometria controlada, nas dimensões proporcionais de seus componentes, sem se impor pela sua escala. O exercício de se vencer o vão de quase três quarteirões não aparece como um desafio estrutural, mas como continuidade natural da via interrompida pelo rio. A ponte se ancora às margens, em nível com as cabeceiras. Os portais marcam a chegada à terra de forma convidativa e proporcional ao pedestre, para quem foi projetada.
9. Jerusalém
Segue carta enviada à Junta Comunal de Jerusalém, pequeno vilarejo no município de Sonsón, em que se descreve breve proposta para o lugar.
Asunto: Mejoras urbanas y ambientales propuestas para la comunidad de Jerusalén
Por medio de la presente, Eloísa Balieiro Ikeda, investigadora de la Facultad de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad de São Paulo (FAUUSP), presento estudios preliminares de diseño de arquitectura de infraestructura urbana para la comunidad de Jerusalén. Creo que los dibujos adjuntos aquí, mui iniciales, pueden ser desarrollados, revisados y modificados para mejorar la calidad de vida de los residentes de esta área.
En un viaje de estudio organizado y financiado por el Instituto Wright-Ingraham de los Estados Unidos (2), a través del programa Field Stations (3), visitamos, al lado de otros investigadores y docentes, la Reserva Natural Canon de Río Claro, orientados e guiados por Justo Arosemena. Las soluciones de proyectos presentadas aquí se basan en conceptos y referencias desarrollados por el Grupo Metropolis Fluvial del Laboratorio de Proyectos de la FAU USP, del cual soy estudiante de doctorado.
Aquí hay una lista de ideas de diseño ilustradas en los dibujos adjuntos:
1. Ciudad frente al río
La comunidad de Jerusalén está estructurada a lo largo de la carretera. Su forma es bastante lineal: por un lado, sus comercios y servicios dan sus fachadas a la carretera y, por el otro, su espalda al río.
La idea es construir una nueva calle al otro lado del río, frente al banco donde están las casas. Esta calle cruzaría toda la comunidad, bordeando el río y al pie de la colina donde hoy es propiedad de una compañía de cemento. La idea es que esta tierra al lado del río tenga su silvicultura reconstituida y se consolide como un parque comunitario. La compañía podría ceder esta área como compensación por los impactos causados por su producción. De esa manera, la parte posterior de las casas se convertiría en el río, un parque y el camino entre ellas.
Para coser ambos lados del río, donde se encuentran las casas y donde se establece uma nueva calle, pequeños puentes peatonales y bicicletas modulan la transposición cada 100m como máximo. La continuidad del puente sería un paso de peatones que se extiende entre las casas a los lados de los edificios y se conecta a la carrete.
2. Parque del Río
El parque del río estaría a lo largo del río, en la ladera derecha del valle. Sería uma importante infraestructura de ocio verde y una forma de reconstruir el bosque ribereño a lo largo del curso de agua.
3. Carretera en el tramo urbano transformada en avenida
Para garantizar la seguridad de los residentes de la comunidad, es esencial y requerido transformar el camino en una avenida. Esto significa colocar semáforos, lomos, estrechar el camino a 6 m de ancho, aumentar el área pública para caminar, forestar densamente las aceras (un árbol cada 10 m) e iluminar los caminos.
4. Galería de infraestructura
La galería de infraestructura es uno de los elementos que consolidan el saneamento ambiental de la comunidad. Es un túnel que corre paralelo al río, que puede estar debajo de las aceras, a lo largo de la carretera de la avenida, y que comprende: conducto de alcantarillado, conducto de agua de lluvia, conducto de agua potable, conducto eléctrico, tubería de gas, telefonía , entre otras redes de infraestructura necesarias. La galería tiene la altura de una altura de techo baja (2,20 m) para que se pueda mantener en las condiciones adecuadas.
Nota: en el dibujo adjunto, las galerías se construyeron en la orilla del río, debajo de la terraza de las casas. Sin embargo, una opción más adecuada sería construirlos en el paseo público a lo largo de la avenida. De esta manera, las galerías podrían capturar el agua de las casas en todo el valle y la carretera.
5. Micro planta de tratamiento de aguas residuales
Aguas abajo de la ocupación urbana, en la margen izquierda del río (mismo lado de los edificios), se establece una micro estación para tratar todas las aguas residuales. Las aguas residuales y las aguas pluviales se pueden tratar por separado. Las aguas tratadas pueden regresar al río y abastecer a la ciudad para limpiar pavimentos públicos. Gracias por su atención y consulte aquí a los maestros que nos acompañaron en este viaje: Kevin Bone, Brendan Doyle, Andrea Pinochet, David Gouverneur, Nicholas Pevzner y Stephanie Carlisle.
Espero que los dibujos sean útiles para provocar una discusión para mejorar las condiciones de vivienda en la comunidad de Jerusalén.
Me pongo a disposición para futuras conversaciones sobre los proyectos.
Respetuosamente,
Eloisa Balieiro Ikeda
10. Reserva natural do Rio Claro
Os desenhos de observação que seguem reproduzem uma situação de rio no seu estado mais natural, com intervenções sutis para o uso de suas margens e praias fluviais.
notas
1
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Plan Parcial de Mejoramiento Integral del Barrio Moravia <https://bit.ly/3xh9qLn>.
2
Wright-Ingraham Institute, USA <https://wright-ingraham.org/>.
3
Field Stations. New Futures for Rural Landscapes. Wright-Ingraham Institute, USA <http://www.field-stations.org/>.
referências bibliográficas
GALLO, Diana Lorena Rodriguez. Água e paisagem agrícola entre os grupos pré-hispânicos da Sabana de Bogotá, Colômbia. Orientadora Maria Cristina Mineiro Scatamacchia. Tese de doutorado. São Paulo, Museu de Arqueologia e Etnologia USP, 2015 <https://bit.ly/3750RZ9>.
ACEITUNO, Francisco J.; Loaiza, Nicolás; Delgado, Miguel; Barrientos, Gustavo. The initial human settlement of Northwest South America during the Pleistocene/Holocene transition: Synthesis and perspectives. Quaternary International, n. 301, jul. 2013, p. 23-33 <https://bit.ly/3BNYFUb>.
HENRY, Hooghiemstra; WIJNINGA, Vincent M.; CLEEF, Antoine M. (2009). The paleobotanical record of Colombia: Implications for biogeography and biodiversity. Annals of the Missouri Botanical Garden, n. 93, ago. 2006, p. 297-325 <https://bit.ly/3yaQA9Q>.
WULF, Andrea (2015). A invenção da natureza. A vida e as descobertas de Alexander von Humboldt. Tradução Renato Marques. São Paulo, Planeta, 2016.
Humboldt, Alexander von (1808). Quadros da natureza. Volume 1. São Paulo, Jackson, 1965 <https://bit.ly/3xeHasp>.
HUMBOLDT, Alexander von; BONPLAND, Aimé (1805). Essai sur la géographie des plantes, Vème partie. Paris, Chez Levrault, Schoell et compagnie, libraires, XIII, 1805.
sobre a autora
Eloísa Balieiro Ikeda é aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e membro do Laboratório de Projeto e do Grupo Metrópole Fluvial.
preâmbulo
O presente artigo faz parte de Preâmbulo, chamada aberta proposta pelo IABsp e portal Vitruvius como ação para alavancar a discussão em torno da 13ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, prevista para 2022. As colaborações para as revistas Arquitextos, Entrevista, Minha Cidade, Arquiteturismo, Projetos e Resenhas Online e para a seção Rabiscos devem abordar o tema geral da bienal – a “Reconstrução” – e seus cinco eixos temáticos: democracia, corpos, memória, informação e ecologia. O conjunto de colaborações formará a Biblioteca Preâmbulo, a ser disponibilizada no portal Vitruvius. A equipe responsável pelo Preâmbulo é formada por Sabrina Fontenelle, Mariana Wilderom, Danilo Hideki e Karina Silva (IABsp); Abilio Guerra, Jennifer Cabral e Rafael Migliatti (portal Vitruvius).