A região de Porto Príncipe, capital do Haiti, situada na América Central, foi devastada por um grande terremoto em janeiro de 2010. Foram necessários aproximadamente 35 segundos de tremor para grandes construções – e até palácios – se transformarem em quantidades inimagináveis de escombros, transformando a paisagem da cidade em uma terrível imagem de caos.
Lamentavelmente uma grande parte da população foi drasticamente sepultada ainda com vida. Segundo o Banco Mundial, 2011, o desastre causou mais de 220 mil mortes registradas, 300 mil feridos, 1,5 milhão de desabrigados. Depois de algumas semanas do terremoto, ainda era possível observar pessoas vagando sem rumo pelas ruas da cidade.
O terremoto explicitou os problemas sociais que o país enfrentava. Muitas pessoas passaram a morar em barracas improvisadas, configurando uma arquitetura caracterizada pelo provisório. A desigualdade social e a extrema pobreza ficaram ainda mais expostas na paisagem de Porto Príncipe. Uma boa parte desses problemas ainda eram reflexo de mais de dois séculos de uma independência cativa que o Haiti vive até hoje.
Escolas e repartições públicas ficaram fechadas por aproximadamente três meses após o terremoto. O comércio informal dividia o espaço das ruas com os abrigos. As construções que ainda permaneciam de pé não eram utilizadas em razão do medo de novos tremores. O conceito de abrigo seguro está muito ligado ao tangível e ao concreto e, naquele momento, a fragilidade das estruturas se refletia no comportamento da população.
No entanto, mesmo diante de imagens desoladoras, era possível observar a riqueza do país: pessoas inspiradoras, homens e mulheres que lutavam pela vida de forma admirável. No meio do caos, era possível observar que algumas pessoas não se renderam ao desânimo e não deixaram sua vontade de viver se abalar pelo tremor.
O processo de reconstrução de uma nação em ruínas se inicia na medida que a população começa a imaginar uma nova realidade. Acreditar que um país destroçado e corrupto ainda pode se tornar um lugar bom para se viver é alimentar um sonho possível, ainda que difícil. Esta imaginação move, inspira e ainda pulsa.
Sob os escombros da tragédia haitiana, ainda hoje vivem os que lutam por dignidade e justiça. É na adversidade que nascem as mais belas flores!
sobre os autores
Alyson Montrezol é formado em comunicação social, é especialista em psicopedagogia e mestrando em Arquitetura e Urbanismo (USJT). Fotógrafo, professor universitário e coordenador dos Laboratórios de Imagem e Som na Universidade São Judas. Atualmente está produzindo alguns filmes sobre o Haiti. O primeiro, “Dignité”, sobre o direito humano à educação no Haiti, teve seu lançamento mundial em abril de 2015 no Haiti.
Maria Isabel Imbronito tem graduação (1994), mestrado (2003) e doutorado (2008) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. É docente nos cursos de Graduação e mestrado stricto sensu em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu, e pesquisadora da mesma Instituição. Também é docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
preâmbulo
O presente artigo faz parte de Preâmbulo, chamada aberta proposta pelo IABsp e portal Vitruvius como ação para alavancar a discussão em torno da 13ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, prevista para 2022. As colaborações para as revistas Arquitextos, Entrevista, Minha Cidade, Arquiteturismo, Resenhas Online e para a seção Rabiscos devem abordar o tema geral da bienal – a “Reconstrução” – e seus cinco eixos temáticos: democracia, corpos, memória, informação e ecologia. O conjunto de colaborações formará a Biblioteca Preâmbulo, a ser disponibilizada no portal Vitruvius. A equipe responsável pelo Preâmbulo é formada por Sabrina Fontenelle, Mariana Wilderom, Danilo Hideki e Karina Silva (IABsp); Abilio Guerra, Jennifer Cabral e Rafael Migliatti (portal Vitruvius).