A Fortaleza Palaciana de Alhambra em Granada (séculos 13-14) é a mais bela estrutura fortificada se considerarmos que se apresenta como obra de arte em todas as escalas. A escala monumental paisagística (quilométrica) sobre a cidade de Granada, com a Serra Nevada ao fundo; a escala arquitetônica (métrica) com a sucessão de palácios, jardins árabes, a arquitetura de água (ora corrente e ora parada reflexiva); e, para ver a escala centimétrica, olha para o alto e veja os minúsculos detalhes artísticos expresso nos azulejos, relevos decorativos e até em pequenos detalhes, como os corrimãos de água das escadarias dos jardins, com a água correndo para refrescar as mãos durante o duro percurso.
O uso da água como espelho arquitetônico em plena Idade Média nos dá mostra da origem de soluções empregadas até hoje. O Pátio dos Leões na foto mostra a fonte com doze leões que representavam as doze tribos de Israel, foi confiscada de um palácio judeu Ibn Nagrela do século 12. Olhando para o alto, a cúpula sofisticada foi concebida para rememorar as tendas beduínas.
Algumas torres de defesa ainda se conservam com a técnica da taipa de pilão, hoje sem o acabamento externo sofisticado. A taipa militar árabe não era revestida e tinha o acabamento de “cantaria fingida”. Frisos raspado na taipa eram preenchidos por pasta de cal, imitando o desenho de cantaria de pedra vermelha. Alhambra significa Fortaleza Vermelha. Ainda restam fragmentos originais de imitação de cantaria para ludibriar o inimigo em fortificações árabes no Algarve, que já documentei no passado.
sobre o autor
Victor Hugo Mori é arquiteto do Iphan São Paulo desde 1987. Autor de Arquitetura militar: um panorama histórico a partir do Porto de Santos (Imesp/Funceb, 2003) e organizador de Patrimônio: atualizando o debate (Iphan/Dersa, 2006).