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architectourism ISSN 1982-9930

Monumento Nacional da Escócia, em Calton Hill, Edinburgh, Escócia

abstracts

português
O artigo traz uma reflexão sobre a tragédia causada pelas chuvas e deslizamentos em São Sebastião SP, ocorrida em 2023, e questiona o descaso político em relação às moradias irregulares, ao acesso à cidade, saneamento básico e infraestrutura.

english
This article reflects on the tragedy caused by the rains and landslides in São Sebastião SP, that occurred in 2023, and questions the political neglect in relation irregular housing, access to the city, basic sanitation and infrastructure.

español
El articulo ofrece una reflexión sobre la tragedia causada por las lluvias en São Sebastião SP, que ocurrió en 2023 y se cuestiona el descaso político en relación con las habitaciones irregulares, el acceso a la ciudad y el saneamiento básico.


how to quote

CRESSONI, Beatriz; SPERANDIO, Ana Maria Girotti. São Sebastião, uma tragédia que poderia ser evitada? Arquiteturismo, São Paulo, ano 17, n. 196.03, Vitruvius, jul. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/17.196/8887>.


São Sebastião, cidade localizada no litoral norte do estado de São Paulo, no eixo Caraguatatuba – São Sebastião – Ubatuba, é uma cidade que se fixa entre o mar e a serra composta por mata atlântica, numa faixa litorânea extremamente estreita. A cidade é composta de 36 praias divididas em três distritos – São Sebastião, Maresias e São Francisco da Praia –, que somam uma extensão de 100 km.

O litoral de São Paulo é uma das regiões que foram primeiramente colonizadas pelos portugueses, sendo a cidade de São Sebastião um dos primeiros povoados nesta região e a cidade mais antiga do litoral (1). O povoado se desenvolveu a partir de uma sesmaria, com uma economia baseada na pesca e na agricultura, sendo esse o cultivo de cana-de-açúcar.

Atualmente a cidade contém uma população de 80.000 habitantes (2), a qual é distribuída entre esses distritos, sendo a maior concentração no distrito central, São Sebastião. A economia da cidade, nos dias de hoje, se concentra, na pesca, na indústria naval, sendo o terminal de São Sebastião um dos principais, recebendo navio-petroleiro e repassando para grandes refinarias e no turismo, por conta das praias e da natureza (3). Esse setor tem impacto significativo no mercado imobiliário, uma vez que estimula a demanda por casas de veraneio. Além disso, esse segmento gera uma necessidade de prestadores de serviço, como jardineiros, caseiros, piscineiros, entre outros. Segundo o mapa de riqueza feito pela FGV (4), a renda média da população de São Sebastião em 2020 era de R$1018,25, ou seja, praticamente um salário mínimo (5). Enquanto o PIB per capita da cidade chega a R$37.380,81, isto é, a cidade possui uma desigualdade social intensa, gerada por essa dinâmica de balneário de alto padrão e os prestadores de serviços.

Localização de São Sebastião
Imagem divulgação [Google Earth]

Apesar do grande mercado imobiliário, a cidade enfrenta um grande problema habitacional, devido a essa desigualdade social. A população de baixa renda, por falta de moradia acessível, uma vez que o mercado incentiva casas de veraneio e de altíssimo padrão, se aloja no pé da serra avançando morro adentro.

Durante o mês de fevereiro de 2023, boa parte do litoral paulista sofreu com fortes chuvas, sendo a cidade de São Sebastião a mais atingida. Na madrugada do dia 19, devido à precipitação intensa durante várias horas, muitos pontos da cidade sofreram com alagamentos e na serra houveram diversos deslizamentos de terra (6). Tais deslizamentos ocorreram em regiões onde haviam muitas habitações irregulares, bairros com moradias precárias, que por conta do deslizamento foram soterrados, levando a desaparecimentos e mortes.

Esses deslizamentos ocorrem devido a uma formação da própria Serra do Mar, composta por mata atlântica reúne grandes fatores que fazem com que esses deslizamentos sejam comuns, como a alta inclinação dos morros, pouca profundidade de terra acima das rochas e a umidade gerada pelas frequentes chuvas.

Durante os dias após a tragédia, a prefeitura de São Sebastião decretou estado de calamidade pública, visto que muitas pessoas ficaram desabrigadas, sem água, sem energia, sem comida e sem acesso a locomoção para outras regiões e cidades, por conta que os deslizamentos fecharam os acessos a São Sebastião. O que gerou um movimento nacional de solidariedade com as pessoas que sofreram com a tragédia, foram enviados para São Sebastião de todos os lugares, comida, água potável, roupas, calçados, cobertores entre outros. Criou-se um senso de responsabilidade social entre as pessoas, uma vez que os órgãos públicos falharam com a população ao deixar que essa tragédia acontecesse, já que poderia ter sido evitada.

Em 2021 foi elaborado o novo Plano Diretor de São Sebastião, o qual dispõe entre seus principais objetivos gerais e princípios a redução da desigualdade social, direito à cidade, saneamento básico, infraestrutura urbano, direito à moradia digna e a participação da população. No “Capítulo 3 – Da função social da propriedade urbana” (7), tem-se vários tópicos que visam a habitação e a habitação de interesse social. Novamente, observa-se que os artigos visam o direito à moradia digna, trazendo até o Estatuto da Cidade (8) e a Constituição como referência.

No entanto, apesar do Plano Diretor apresentar esses tópicos como principais objetivos e princípios, não condiz com a realidade da cidade. Há muitas pessoas ainda morando em zonas de risco, sem saneamento básico e infraestrutura, principalmente nos bairros de ocupação. O próprio plano, permite a construção e ampliação próximo a esses locais que já são considerados zonas de risco, por conta do comportamento da Serra do Mar. A prefeitura recebeu diversas vezes alertas de que áreas ocupadas irregularmente tinham grandes riscos de alagamento e deslizamentos de terra. No entanto, não houveram ações da prefeitura.

É notável que não existe uma preocupação dos órgãos públicos com a cidade saudável (9). Esta, que tem como seus principais pilares, a promoção da saúde, o bem estar social, o desenvolvimento sustentável, equidade em todos os âmbitos da sociedade. Uma cidade saudável é aquela que possui elementos que permitam a saúde das pessoas e assim melhore a qualidade de vida. A tragédia anunciada, é uma situação que não deveria existir, uma vez que o Estatuto da Cidade quanto o plano diretor de São Sebastião, deveriam garantir a infra estrutura urbana, um planejamento urbano que seja para todos. Ou seja, habitações dignas, saneamento básico, salubridade, apoio a população, entre outros que promovam a saúde das pessoas.

É preciso capacitar os arquitetos e planejadores urbanos, através da formação na academia, visando os valores e diretrizes de uma cidade saudável na perspectiva da promoção da saúde. Assim como, capacitar os tomadores de decisões como, prefeitos, técnicos, e outros profissionais, para haja propostas e atuações que promovam a saúde nas cidades. Também há a necessidade de habilitar e educar a sociedade civil sobre a importância do cumprimento das normas e leis para que situações como essa não se repitam.

Portanto, é fundamental que os órgãos públicos e os responsáveis pelo planejamento urbano estejam cientes e implementem um planejamento adequado e que tenha como principal objetivo a promoção da saúde e visam a formação de uma cidade saudável.

notas

1
IBGE. São Sebastião. Brasília, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, ago. 2015 <https://encurtador.com.br/bEIOZ>.

2
IBGE. São Sebastião: panorama. Brasília, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2023 <https://encurtador.com.br/wzGWY>.

3
PETROBRAS. Terminal São Sebastião <https://encurtador.com.br/oq036>.

4
FGV SOCIAL. Mapa da Riqueza. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, fev. 2023 <https://encurtador.com.br/cgz27>.

5
PORTAL CONTÁBEIS. Salários Mínimos de 1995 a 2022. São Paulo, 2023 <https://encurtador.com.br/fuLQ1>.

6
CANTÃO, Luciana; BIAZZI, Renato. Deslizamentos frequentes na Serra do Mar são resultado de solo superficial, alta inclinação e “paredão” de nuvens. São Paulo, G1, 22 fev. 2023 <https://encurtador.com.br/coqO1>.

7
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO SEBASTIÃO. Lei Complementar n. 263/2021. Dispõe sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município de São Sebastião e dá outras providências. São Sebastião, Prefeitura de São Sebastião, 27 de maio de 2021, p. 10-12 <https://encurtador.com.br/hyGOQ>.

8
BRASIL. Estatuto da cidade. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Brasília, Câmara dos Deputados: Coordenação de Publicações, 2001 <https://encurtador.com.br/jlU78>.

9
MONTAUTE, Maiara Gomes; SPERANDIO, Ana Maria Girotti. O Plano Diretor como uma conexão para a cidade saudável. Labor & Engenho, v. 17, Campinas, abr. 2023, p. 1-9 <https://encurtador.com.br/sEMNP>; SPERANDIO, Ana Maria Girotti. Estratégias do planejamento urbano e da promoção da saúde: a mandala da cidade saudável. Intellectus Revista Acadêmica Digital, v. 58, n. 1, 2020, p. 79-95 <https://encurtador.com.br/nzJP9>.

sobre as autoras

Beatriz Cressoni é arquiteta e urbanista (FAU PUC-Campinas, 2021), especialista em Restauro Arquitetônico: Teoria e suas implicações na prática projetual (FAU PUC-Campinas, 2017), bolsista de Iniciação Científica (FAPIC, 2019 e 2020) e estudante especial do (FECFAU Unicamp, 2023).

Ana Maria Girotti Sperandio é ortoptista sanitarista (Unifesp, 1984), especialista em Saúde Pública (USP, 1988), mestre e doutora em Saúde Pública (USP, 1995; 2001). Atualmente é pós-doutoranda em Saúde Coletiva (Unicamp, 2006) e professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (FECFAU Unicamp).

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