Decina, um dos bons exemplos do Tardo Modernismo, apresenta uma forte caracterização espacial, assinalada pelas linhas curvas, pelas rotações, pelas tessituras e pelas variações planimétricas.
É na leitura planimétrica que se evidenciam dois eixos perpendiculares: um conecta o bairro à cidade; o outro, em relação à igreja, prossegue pelos espaços públicos internos.
A qualidade espacial se identifica através da definição de escorços de perspectiva e de "espaços fluidos" de conexão entre os edifícios, em uma contínua sucessão de espaços verdes e de vielas internas transitáveis.
O bairro realizado na primeira metade dos anos '60, propondo nas suas linhas principais o modelo já utilizado para a Vila Olímpica, mas, aqui, com melhoramentos nos aspectos construtivos, se apresenta em um bom estado de conservação, um conjunto cujo resultado é um ambiente urbano decididamente agradável.
A área objeto do concurso é o resultado da não realização de algumas partes do projeto original de Moretti: não é uma praça, não é um jardim. Atualmente se apresenta como um espaço verde de um lado e como um estacionamento do outro; de qualquer modo, essa área é destinada a ser transformada segundo um projeto de estacionamento no subsolo, que está em fase de estudo. Funcionalmente é pouco definida, inadequada para as necessidades sociais contemporâneas, caracterizada por atributos urbanos inconvenientes. A presença das árvores é também assinalada pela casualidade e por uma desordem injustificadas: gêneros arbóreos assim diversos e colocados em uma distância muito pequena entre eles.
O fator verde em um ambiente urbano não é mais entendido como um elemento residual ou intersticial, mas como uma função integrada à outras categorias de serviços, e, onde é possível, uma resposta adequada à uma série de necessidades quotidianas.
Na sociedade moderna, os ritmos das atividades privadas e públicas possuem uma freqüência muito estreita, e rígida, que induz a maioria dos cidadãos em aumentar a velocidade das suas próprias relações, utilizando todas as sinergias possíveis. O verde e o espaço público devem se adequar, auxiliar esses ritmos e modificá-los, devem, portanto, acompanhar o cidadão – usuário no interior deste percurso com o objetivo de oferecer-lhe momentos de pausa e um sistema agradável de realizações sociais.
A praça deve então ser compreendida como um instrumento de desenvolvimento urbano que estabelece um foco de atividades, anunciando posteriores transformações.
O jardim é destinado a satisfazer a procura pelo verde e, ao mesmo tempo, possibilitar as atividades que não podem ser feitas na praça.
Entre esses dois elementos urbanos é necessário, depois, selecionar as relações espaciais, visivas, de acesso para pedestres, a máxima economia e racionalização ao posicionar o mobiliário urbano, o verde, as instalações.
Dadas essas premissas, a primeira exigência foi aquela em encontrar uma forte conotação do lugar. Identificar um sinal que poderia oferecer uma identidade a um espaço que, por sua vez, pudesse superar os limites geométricos da atual situação. Nasceu assim um movimento do solo, um pequeno evento telúrico que procuraria arranhar e a rachar o terreno como se as três "zonas à deriva" estivessem se aproximando até uma colisão, fragmentando-se em vários planos.
Um minimalismo fragmentado, rumo a uma unidade: uma revisão dos planos do terreno, criando pendências, coincidindo espaços, estabelecendo relações e triangulações visivas, em um contínuo jogo de projeção e de alinhamento entre as partes, reunificando as partes atravessadas pelo Viale Sabatini com um sistema de arbustos de Trachelospermum jasminoides.
Outra condição inicial foi a vontade de não modificar a estrutura original do conjunto – apenas eliminar algumas vagas em Via Bata que serão, depois, compensadas com o estacionamento subterrâneo (P.U.P.) previsto na Piazza Vannetti.
Uma posterior intervenção ablativa foi feita sobre aqueles gêneros arbóreos, considerados incongruentes, como os eucaliptos e as tílias no espaço verde entre a Via Bata e a Via M. Castaldi, e as tílias e as acácias no espaço entre o Viale Sabatini e Via Lordi; mantivemos na nossa proposta somente a fileira de álamos e de pinos marítimos.
A lógica geométrica do novo espaço é fechar em direção ao Viale Sabatini, e, abrir rumo aos edifícios sobre pilotis, atravessados pela continuidade do verde do bairro.
No nosso projeto podemos indicar três escalas diferentes: aquela "monumental" dada pelos edifícios e pelas árvores; aquela "intermediária" , composta pelos postes, cujas alturas são niveladas na mesma cota, e pelos pequenos objetos como a banca de jornal, o ponto de ônibus, a loja de flores, um outro para acolher a circunscrição regional; e, por fim, aquela da "pequena escala", dada sobretudo pelo uso específico das partes como a cerca viva, os bancos, as pavimentações, etc.
Um projeto, portanto, feito de verde, de pavimentação, de iluminações específicas das zonas projetadas e pequenos objetos dispostos nas respectivas áreas.
A qualidade desses espaços é dada também pelas diversas modalidades de uso das áreas, pela pavimentação que indica três zonas: uma urbana, da Piazza Vannetti; outro para o lazer, com a área de jogos para as crianças entre Via Bata e Via M. Castaldi; e aquela verde, entendida como jardim entre Viale Sabatini e Via Lordi.
A intervenção é concluída com uma cerca viva colocada em uma das extremidades da fileira de álamos, em forma de prima triangular, e é atravessado por uma rampa que harmoniza as diversas cotas do terreno.
Do lado oposto do Viale Sabatini, rumo à Piazza Vannetti, um outro prisma triangular, em mármore Verde-Alpes versa a água que se acumula em um tanque feito no mesmo material.
As pavimentações são em faixas de travertino e de cimento nas partes de pedestres; e temos o gramado para a zona de jogo das crianças e aquela mais limitada somente ao verde.
O quiosque para os jornais, aquele para a florista, um outro para a circunscrição regional, o ponto de ônibus e os postes são os elementos de "mobiliário urbano".
Por fim, se previu a disposição de algumas esculturas, em bronze, caracterizadas por uma superfície "dobrada", desenvolvidas horizontalmente, e repetidas e distribuídas nas praças: podem ser usadas como bancos – uma escultura "disponível" – para tocar, para usar.
notas
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Leia também em Arquitextos a série de artigos sobre as Praças Italianas, com editoria de Marcos Tognon:
ROTA, Italo; BALDASSARI, Alessandro; VIVIANI, Susanna; CINACCHI, Paolo. "Empoli. Mobiliário urbano para o centro histórico". Arquitextos 005, Texto 005.03. São Paulo, Portal Vitruvius, out. 2000 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq005/arq005_03.asp>.
ZAGARI, Franco. "Restauro da Piazza Montecitorio". Arquitextos 006, Texto 006.03. São Paulo, Portal Vitruvius, nov. 2000 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq006/arq006_03.asp>.
GHIO, Ricardo. "O desafio da requalificação". Arquitextos 008, Texto 008.03. São Paulo, Portal Vitruvius, jan. 2001 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq008/arq008_03.asp>.
LETO, Maria Raffaella. "Piazza Aldo Moro". Arquitextos, Texto Especial n. 042. São Paulo, Portal Vitruvius, jan. 2001 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp042.asp>.
[editoria da série e tradução de Marcos Tognon]
sobre o autor
Aldo Aymonino é arquiteto e coordenador do projeto. Grupo de trabalho: Adriana Feo, Ezio Rizzutti, Giovanna De Sanctis Ricciardone (escultora); colaboradores: L. Agi, A. Baldoni, G. Catania, F. Gatti, M. Lo Russo, A. Mancini, G. Quaraglia.