O II Encontro DOCOMOMO SP, realizado em Taubaté de 6 a 9 de novembro último, pelo Departamento de Arquitetura da UNITAU, cumpriu o papel de continuar a montagem da rede de colaboradores, reunindo estudiosos, profissionais, instituições e ativistas em torno da documentação e da conservação da memória do movimento moderno no Estado de São Paulo. Possibilitou também, a troca de idéias e dessa forma, constituiu-se num momento importante para a atuação do Docomomo entre nós. Ao comentar estes aspectos do evento, apresentaremos a seguir, algumas das observações e propostas que surgiram nas mesas formais do evento, bem como nos cafés, nos corredores, nos bares... Relicário paralelo onde borbulham comentários e contribuições valiosas.
O II Seminário promovido pelo Grupo de Trabalho do Vale do Paraíba e Alto Tietê (GTVPAT) durante o Encontro Estadual teve como tema "O moderno e os modernismos no Estado de São Paulo". Buscou a montagem de um panorama representativo do que se investiga nas instituições paulistas e obteve-se uma boa receptividade junto aos cursos de graduação e programas de pós-graduação. Neste aspecto o Docomomo ampliou o raio de abrangência no Estado e o Seminário parte agora para a sua afirmação como um fórum específico no calendário acadêmico paulista. Essa condição será confirmada na sua próxima edição, provavelmente em Mogi da Cruzes, promovido pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da UBC, Universidade Braz Cubas. Pretende-se então, consolidar o evento como catalisador e que tem como característica principal, a reunião, lado a lado, de experientes pesquisadores com iniciantes, estudantes de mestrado e doutorado. Notou-se que a implantação de programas de iniciação científica nas universidades repercutiu no seminário, ampliando esse convívio. A interação resultante desse encontro tem proporcionado um ambiente estimulante, resultando na ampliação do interesse pelo estudo, pela documentação e pela ação preservacionista do legado moderno. Surge assim, como uma evidente tarefa para o Docomomo, aprimorar o formato do evento para que seja aproveitado esse potencial mobilizador que o estudo da modernidade possui, fazendo como que o Docomomo se firme como referência de uma entidade atuante.
Os trabalhos apresentados evidenciaram objetos e modalidades de pesquisas marcados por esforços historiográficos, tematizando acervos de arquitetos, de cidades, bem como o estudo aprofundado de setores de uma cidade ou de apenas uma edificação. Nesta edição do Arquitextos são publicados com exclusividade, três trabalhos representativos do evento. O paisagismo, as artes plásticas e o design, tal como no I Seminário (1998), fizeram-se presentes como tema de trabalhos de grande importância para alargar os horizontes da compreensão do modernismo em São Paulo.
Por outro lado, percebeu-se grosso modo, que se prefere o estudo da produção dos "modernos" à dos "modernismos", fato que revela um certo apego à uma versão oficial e grandiosa que permeia a historiografia do movimento moderno no Brasil. Ela se manifesta no estudo de obras canônicas ou na produção de arquitetos recorrentes. Situação que delineia um vasto caminho para se percorrer, e que extensas terras virgens nos separam da compreensão dos contornos da modernidade no Estado de São Paulo, principalmente a amplitude social, política e antropológica que assumiu no interior e nos arrabaldes industrializados da metrópole paulistana.
É necessário fazer um breve relato sobre as homenagens e os lançamentos de livros (Biblioteca Docomomo), iniciando pela mesa "Centenário de Lúcio Costa", que reuniu na abertura do evento, o depoimento de Alberto Xavier, a apresentação da tese de doutoramento de Abílio Guerra (IFCH-Unicamp) e do livro de Guilherme Wisnik (Cosac & Naify). Foram três falas reveladoras sobre a obra e o lugar ocupado pelo arquiteto na história da Arquitetura brasileira. Miguel Forte, o segundo arquiteto homenageado, falecido dias antes de receber nosso convite, foi o tema de Mônica Junqueira de Camargo, autora da apresentação do livro "Diário de um jovem arquiteto", onde Forte registrou sua viagem pelos EUA no ano de 1947. A trajetória de Eduardo Corona, terceiro homenageado, foi o tema da palestra de Antônio Gameiro, antigo colaborador e sócio do arquiteto-professor. Corona faleceu dias antes de ver editado seu último livro, intitulado Oscar Niemeyer: uma lição de arquitetura. Complementou essas homenagens, o lançamento de Rino Levi: arquitetura e cidade (de Renato Anelli, Abílio Guerra e Nelson Kon), de Os rumos da cidade: urbanismo e modernização em São Paulo (de Candido Malta Campos) e de Urbanismo sanitário de São José dos Campos (de Ana Sousa e Laerte Soares). Os autores apresentaram além do conteúdo dos livros, o trabalho de pesquisa que demandou a edição das obras, constituindo-se num relato de grande interesse metodológico.
No que diz respeito à organização do Docomomo, o II Encontro SP teve como objetivo principal, preparar o próximo Seminário Nacional, que será realizado no segundo semestre de 2003, pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, EESC-USP. Num horizonte não muito distante, vislumbra-se também a próxima Conferência Internacional, prevista para Nova York em 2004. A participação do coordenador do Docomomo Brasil, Hugo Segawa e da secretária Mirthes Baffi, foram fundamentais para apresentar aos presentes, a posição de relativo prestígio da organização brasileira e os resultados da Conferência Internacional realizada em Paris no último mês setembro. Uma repercussão imediata do reconhecimento da importância da participação efetiva foram as novas adesões que ampliaram o quadro de associados no Estado.
Quanto à organização do Docomomo em São Paulo e no Brasil, o encontro de Taubaté apontou para importância do Seminário Nacional de 2003 em São Carlos, como momento bastante propício para se fortalecer a entidade e dar um salto qualitativo na sua organização. No plano local, ficou evidente para o GTVPAT, a quem coube a organização do evento, que o apoio do Departamento de Arquitetura da Universidade de Taubaté representou o começo de uma nova fase para as atividades do grupo, em especial para suas atividades de documentação e de defesa das obras modernas que promove na região desde o início de suas atividades em 1997.
sobre o autor
Arquiteto pela UEL em 1986, doutor pela FAUUSP, é professor da UNITAU, Universidade de Taubaté e coordenou a organização do II Encontro Docomomo SP