Os temas deste texto (1) já fazem parte da historiografia do urbanismo no Brasil cuja produção se intensificou desde 1994, a partir da realização de uma série de encontros e de publicações, algumas derivadas desses encontros, outras em esferas independentes (2). Porém, apesar da relativa banalização da temática, aproveitamos a chamada do Enanparq 2016 sobre o “estado da arte” para repensar terminologias que embora freqüentemente empregadas em nosso campo disciplinar, ainda sugerem reflexões e podem ser devidamente aprofundadas no âmbito de dois tópicos que se articulam: a) em relação às trajetórias dos atores do urbanismo (aqui chamados pioneiros) e aos limites do seu internacionalismo, na expectativa que as propostas trouxessem não só o aprofundamento das trajetórias conhecidas, mas que viessem à luz novos nomes, documentos e interpretações; b) em relação às referências ou aos ideários internacionais convocados por eles – questão central em nosso estudo – propondo-nos a revisar conceitos a ela relacionados como circulação, intercâmbio, difusão, ressonância, tradução, transferências, apropriação e re-interpretação de modelos.
Sobre os pioneiros do urbanismo no Brasil
Por pioneiros do urbanismo no Brasil, entendemos aqueles que formaram a primeira geração (3), situada a partir da segunda metade do século 19 até os decisivos três primeiros decênios do século 20 (4) – ao reconhecê-los como protagonistas ou atores, assumimos uma postura metodológica que se inscreve na história dos intelectuais e na história cultural urbana desde os anos 1980, voltada para o estudo das elites técnicas atuantes na cidade, encarando-as como um “fenômeno sociocultural total” (5) – esta postura articula experiências individuais a situações precisas em vários campos correlatos: história institucional ou acadêmica, história de projetos e de intervenções urbanas inovadoras, diagnósticos sobre “problemas”, planos de implantação de infra-estruturas e de equipamentos fundamentais de modernização (transporte, saneamento, energia), regulamentação e legislação do espaço e do território urbanos. Entendemos aqui não só os atores dos quadros nacionais, mas os experts estrangeiros, que em contato estreito com os primeiros (não sem eventuais conflitos), por meio de projetos efetivos ou situações informais de trocas, atuaram de alguma maneira, gravitando em nebulosas reformadoras, mais ou menos sincrônicas em diversos países, em torno da planificação, organização, previsão e racionalização das cidades em crescimento (6).
Se nos anos 1960-1970, nas áreas de literatura e outras, escreveu-se sobre “a morte do autor”, e no campo da história da cidade as trajetórias individuais eram dissolvidas nos processos impessoais das mentalidades coletivas, na relação funcionalista e ideológica das sociedades com o espaço, ou seja, definindo a sociedade como um decalque das relações de produção, estas análises revelaram sua ineficácia e reducionismo, sendo posteriormente particularizadas com a volta do ator em situações concretas. Passou-se a pensar a partir de estudos de casos, reabilitando-se a singularidade das práticas na afirmação de percursos micro-históricos, em vez das generalizações de classe, levando-se em conta pesquisas biográficas que consideram a historicidade dos perfis e seus engajamentos contextuais múltiplos. Constatamos que ainda há muitas lacunas biográficas e necessidade de aprofundamento de trajetórias de inúmeros pioneiros da primeira geração de urbanistas, especificas às questões locais.
Retomando nossa reflexão: referir-se a pioneiros ou protagonistas, não significa pensar apenas na escala individual – remetemo-nos ao “jogo entre os atores” no âmbito de um “sistema de representações partilhadas” (7), e em situações determinadas, sob a perspectiva das histórias cruzadas em que eles se inscrevem (8); nesta linha, entre os trabalhos recebidos, buscou-se entender os “homens nos espaços e redes de sociabilidade da vida coletiva” e intelectual. Por exemplo: a partir do aporte sociológico e comunitário da Escola de Chicago e a relação associativismo/urbanismo voltada para a “educação urbana” de novos cidadãos, ideário presente em urbanistas locais como Luiz de Anhaia Mello e Everardo Backheuser (proposta da comunicação de Margareth da Silva Pereira); buscou-se também revisar figuras conhecidas (pois os casos individuais ganham ao serem relidos de forma aprofundada: vide o “aporte documental” do texto de Adalberto Retto Jr. sobre Victor da Silva Freire); e retomar dados da formação e filiação de ideários de experts estrangeiros que atuaram no país, como D.-A. Agache (proposta de Fernando Diniz Moreira), cuja trajetória no Brasil continua a nos interessar além dos episódios já conhecidos de sua formação na França.
Assim, os pioneiros não trabalhavam sozinhos; a multiplicidade de atores é certamente uma constante que se aguça no século 20, no trato dos problemas urbanos, pois “a cidade [...] além de sua trama material, é o cruzamento de individualidades” (9), de experiências sociais concretas localizadas historicamente.
Revisão do estado da arte
Revisar “o estado da arte” (conforme a proposta do Enanparq e no âmbito das pesquisas aqui referidas) é especialmente tocar na questão das referências internacionais nutridas por nossos atores, pioneiros no “trânsito das ideias”, nas transferências, apropriação e assimilação (paper de Roseli D’Elboux sobre Bouvard em São Paulo), nas circulações e nos fluxos, incluindo também “itinerários transatlânticos” sob a luz de novas fontes ligando atores a instituições e a eventos (comunicação mencionada de Adalberto Retto Jr); na busca de identificar e aprofundar as citações de autores estrangeiros em projetos efetivos de figuras de destaque do cenário paulistano, voltados para situações urbanas locais (texto de Daniela Krogh e Ivone Salgado sobre o ante-projeto de Anhaia Mello para Campinas).
Em todas essas instâncias, é ponto passivo para nós que a noção de apropriação de referências inscrita na reflexão sobre as modalidades da circulação e da difusão, substituem com vantagem a desgastada noção de influência (discutida mais adiante), ainda presente em textos recentes (10).
Para nós, fazer uma história intelectual do urbanismo significa entender os mecanismos da apropriação de ideários e modelos expressos nos textos e projetos em suas nuanças e associações possíveis, apesar das barreiras conceituais entre eles, recortes e propósitos em que foram convocados. De toda forma, a despeito das lacunas ainda em vigor em vários níveis, compreende-se melhor hoje o que se anunciava nos anos 1990, graças às tentativas de mapeamento da produção historiográfica que vêm permitindo conhecer o que se produziu e o que falta estudar, aos avanços da história e sociologia da cultura que se estendem aos estudos urbanos, e às releituras pontuais de situações que envolveram diretamente a internacionalização, como a difusão dos discursos fundadores e os congressos de urbanismo (11). Um breve parêntese acerca do cenário urbanístico em torno desta última questão se impõe aqui.
A caracterização do cenário internacional do urbanismo, assim como a formação de seu campo disciplinar, ao longo da segunda metade do século 19, é assunto ainda relativamente pouco estudado por pesquisadores brasileiros, razão pela qual propusemos esta mesa para fomentar a troca de experiências acerca dessas temáticas. A bibliografia a respeito deste cenário também não é muito extensa entre nós, e na maioria das vezes, tais fontes secundárias possuem abordagem fragmentada dos processos internacionais, como por exemplo, os estudos a respeito da experiência urbanística alemã, da escola francesa e da vertente americana, que carecem de visões comparativas.
Parte significativa do que foi publicado ao longo dos últimos trinta anos (livros, periódicos internacionais e anais de eventos nacionais – sobretudo do Enanparq e nos SHCU) utilizou como referência autores consagrados como Anthony Sutcliffe (12), Giorgio Piccinato (13), Helen Meller (14), Christiane Crasemann Collins (15), Gehrard Fehl (16), Stephen Ward (17), Brian Ladd (18), Donald Kruckenberg (19), Donatella Calabi (20), e Arturo Almandoz (21), que se apresentam fundamentais pelos estudos comparados realizados, destacando a contribuição dos alemães, franceses, ingleses e norte-americanos, assim como as ressonâncias do ideário urbanístico entre eles.
Os encontros entre os primeiros “profissionais do urbano” (engenheiros em sua maioria), ocorridos na Europa e Estados Unidos desde o início do século 20, foram momentos de intercâmbio de experiências, oportunidades para promover a circulação de ideias e o desenvolvimento do campo disciplinar dessa nascente ciência, o urbanismo. Muitas viagens eram realizadas por comissões de urbanistas para conhecer outras cidades e experiências; assim aconteceu com as muitas excursões de ingleses às cidades alemãs, exemplos do bom urbanismo finissecular do dezenove, que viabilizaram a implantação de muitas políticas na área de habitação na Inglaterra, sobretudo a partir dos relatos de Horsfall (22).
Registre-se que o engenheiro Victor da Silva Freire, participou de algumas dessas excursões internacionais para cidades alemãs e inglesas, fato que muito contribuiu para a sua formação de urbanista e para os projetos que realizou e implementou em São Paulo.
A difusão desse novo campo de conhecimento acontecia também por meio de periódicos específicos, como Der Städtebau, (a primeira revista dedicada exclusivamente ao urbanismo), o periódico Städtebauliche Vortrage (ambos de Berlim) e as revistas La Vie Urbaine (francesa), Town Planning Review (inglesa) e a National Municipal Review (norte-americana).
Além das revistas, havia também os manuais de urbanismo, livros que foram extensamente utilizados como referência para a geração dos urbanistas pioneiros do Brasil, como Victor da Silva Freire, Francisco Prestes Maia e Luiz de Anhaia Mello, em São Paulo. Dentre essas obras cabe mencionar as edições de Town Planning in Practice (1909), de Raymond Unwin, Handbuch des Wohnungswesens und der Wohnungsfrage (1909), de Rudolf Eberstadt, Études sur les transformations de Paris (1903 a 1909), de Eugène Hénard, The Improvement of Towns and Cities (1901) e The Widht and Arrangement of Streets (1911), de Charles Mulford Robinson, Civic Art (1911), de Thomas Mawson, Der Städtebau (1907), de Joseph Stübben (segunda edição do original de 1890), L’Art de bâtir les Villes (1902, em tradução francesa do clássico livro de Camillo Sitte, originalmente publicado em 1889), e Garden Cities of To-morrow (1902), de Ebenezer Howard – presentes nas bibliotecas dos nossos pioneiros.
Entre as outras referências relevantes neste processo de transposição/apropriação do ideário internacional destacam-se os congressos europeus, fóruns de discussão e avanço desse conhecimento, como o Ersten Deutschen Städteausstellung, ocorrido em Dresden em 1903, a Town Planning Conference, que conseguiria reunir em 1910 na cidade de Londres os mais destacados urbanistas da época, como Rudolf Eberstadt, A. E. Brinckmann, Augustin Rey, Louis Bonnier, Thomas H. Mawson, Stanley D. Adshead, além de Joseph Stübben, Charles Mulford Robinson, Eugène Hénard, Patrick Geddes, Raymond Unwin e Ebenezer Howard.
Representativo foi também o encontro Internationale Städtebau-Ausstellung, ocorrido em 1910 em Berlim e em 1913 em Dusseldorf, e também o Congrès International et Exposition Comparée des Villes, em Gand, na Bélgica em 1913, onde alguns urbanistas brasileiros estiveram presentes.
Estes fatores foram reforçados com a difusão promovida pelas associações de urbanistas, que foram sendo fundadas em cada país, como as Vereins alemãs, as inglesas Town Planning Institute e Garden Cities and Town Planning Association, e a Societé Française des Urbanistes.
A presença americana neste cenário só se tornaria marcante a partir do final da primeira grande guerra, embora poucos eventos urbanísticos sediados nos Estados Unidos tenham contado com expoentes europeus. Merece destaque um pioneiro evento, comemorativo dos 400 anos da descoberta da América, ocorrido em Chicago em 1893 (Chicago World’s Fair), que contou com a presença do eminente urbanista alemão Joseph Stübben. Na ocasião foi organizado o International Engineering Congress, onde se difundiu o ideário do movimento City Beautiful, do qual Charles Mulford Robinson se tornaria o maior apologista. Posteriormente, após 1909, seriam organizados as National Conference of City Planning, e somente após 1917, os fóruns de urbanistas norte-americanos ganhariam impulso, com a fundação da American Planning Association. Ainda no âmbito do continente americano, merecem destaque as Conferencias Interamericanas, organizadas pelos países latinos, a partir de 1897, fóruns onde a questão urbanística era, entre outros temas, assunto das discussões.
Por estes fatos todos, vários autores como Collins (23), Piccinato (24), Sutcliffe (25) constatam que esse período anterior à 1ª Guerra Mundial é o momento a ser considerado como aquele em que se dá a gênese do urbanismo enquanto campo disciplinar específico do conhecimento, enquanto uma ciência, processo este conduzido pelos países europeus.
É relevante mencionar que esses fóruns eram divulgados nos periódicos brasileiros, restando estudar melhor o grau de apropriação dos seus conteúdos. Muitos profissionais atuantes nas prefeituras, nos setores de urbanismo e obras públicas, participaram desses encontros internacionais, tendo assim acesso às suas revistas e anais de congressos. Desta forma, buscaram assimilar parte deste ideário, adaptando-o à nossa realidade, como foi o caso de Victor da Silva Freire, diretor de obras da cidade de São Paulo e professor da Escola Politécnica, ou de Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, urbanista e sanitarista que realizou projetos em mais de uma dezena de cidades brasileiras. Ou dos profissionais que atuavam em Porto Alegre e que por afinidade cultural, tinham acesso a publicações em língua alemã, e aos pioneiros trabalhos de urbanistas como Reinhard Baumeister, Rudolf Eberstadt e Cornelius Gurllitt. Ou ainda casos de profissionais que circulavam nas obras em Salvador, Recife, Belo Horizonte, Belém e Rio de Janeiro. O ideário internacional também esteve presente através da atuação de alguns urbanistas europeus de passagem pelo Brasil, que comentaremos mais adiante.
Se todos esses fatos demonstram que o internacionalismo é irrefutável tornando-se senso comum na história do urbanismo, isso não quer dizer que não permaneceu restrito a certos meios ou que os cenários de acolhida dos ideários tinham plenas condições de absorvê-los. Sendo a proposta deste texto de ordem mais reflexiva, lembremos autores como Pierre Bourdieu, que já havia observado em texto clássico que “a vida intelectual não é espontaneamente internacional”, e que o fato de os textos circularem sem seu contexto de produção, gera mal entendidos ligados às re-interpretações do campo que os acolhe, os recebe (26). (Voltaremos às observações dessa conferência de 1989, que apresenta ainda hoje uma pertinência e lucidez sem equivalente). Estudos do que se lia e como se interpretava autores estrangeiros no país constituem uma pauta incontornável para avançar novas hipóteses (27) – em curso desde o início dos anos 1990, eles já preparavam o terreno para o aprofundamento proposto. Neste âmbito cabe destacar alguns dos papers apresentados nos mencionados Encontros Nacionais da Anpur e os Seminários da História da Cidade e do Urbanismo, eventos realizados bienalmente e suas conhecidas publicações.
Revisando terminologias e conceitos à luz das trajetórias
Na questão das referências internacionais, a banalização de alguns conceitos relacionados a elas – circulação, difusão, intercâmbio, ressonância, tradução, transferências, apropriação de modelos – solicita um esforço reflexivo de revisão terminológica para que se afine a compreensão das condições sociais de circulação e os contextos de recepção dos ideários, compreensão que requer, por sua vez, melhor conhecimento das próprias tradições intelectuais, para que se estabeleçam os limites de alcance e inteligibilidade do internacionalismo.
Sabe-se que naquele período inicial, nossos engenheiros-arquitetos (a representação como urbanistas só se generalizará no país em torno dos anos 1920) começam a participar ativamente do debate urbano, a se inteirar cada vez mais das referências internacionais com a chegada de livros, manuais e periódicos adquiridos pelas agremiações e redes profissionais às quais se filiavam, a circular nas esferas externas (congressos, exposições, cursos), a receber experts/consultores estrangeiros no país, e a estabelecer diálogos, ainda que por vezes unilaterais e de relativa sintonia teórica, com estes. Identificá-los é fundamental – em geral são herdeiros de capital familiar e institucional, acumulam posições de autoridade nos seus países, e no trânsito por outros, assumem uma mobilidade cosmopolita que demonstra que os interesses da internacionalização são, muitas vezes, indissociáveis da reprodução de hierarquias sociais nos espaços nacionais (28). Observa-se, porém, no âmbito de uma historiografia crítica geograficamente mais ampla, que os estudos evoluíram e voltam-se hoje não apenas para as trajetórias dos “grandes nomes”, como passam a dar importância aos “segundos da classe”, a partir da extensão dos estudos sobre a recepção (antes restritos às artes visuais) para outros campos do conhecimento (29).
Se voltarmos às circulações dos urbanistas nos primeiros decênios do século 20, registre-se por parte dos estrangeiros, além da intermediação dos interesses de mercado (investimentos) e diplomáticos, a presença dos interesses científicos em “testar suas teorias em novos contextos” – para a França, a América latina e os territórios coloniais da África são lugares de experimentação e verificação de certas teses e sua difusão (30); registrem-se também entidades ativas de urbanistas franceses que buscam articulação internacional na América do Sul, como o Musée Social (reproduzido em Buenos Aires já em 1911), cabendo a um de seus principais representantes, o arquiteto-urbanista D.-A. Agache, que acabou permanecendo por longos períodos no Brasil, fazer consultorias e propor planos para o Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Curitiba e Vitória. (Reflexões em curso por Candido Malta Campos em relação ao periódico La vie Urbaine, devem esclarecer detalhes de sua atuação). É conhecido o caso de outro urbanista estrangeiro, o inglês Richard Barry Parker, contratado para projetar loteamentos residenciais da Cia City em São Paulo em 1917, segundo os novos padrões dos “garden suburb”, tendo aqui permanecido cerca de dois anos, ocasião em que participou ativamente dos debates sobre a modernização da legislação urbanística paulistana, em especial a nova lei dos arruamentos (31).
Em contrapartida, há também o fenômeno da retro-transferência, quando experts e consultores não só traziam seu know how, mas também levavam de volta experiências vividas aqui que afetavam seu ideário e projetos futuros (como observam Alicia Novick e Christiane Crasemann Collins em seus estudos); caso conhecido é o de Le Corbusier (analisado por Margareth da Silva Pereira e outros autores) que, em visitas como “mediador transatlântico” via, sobretudo, a possibilidade de por em prática suas teorias, mas que acaba incorporando a elas, mais tarde, até a paisagem dos trópicos. E ainda, o caso de Gaston Bardet “que passa de um pais a outro, navegando em sua rede internacional” (32).
Assim, a viagem torna-se outro tema correlato que atravessa todos os campos de nosso interesse. Jean-Yves Saunier observa que para os protagonistas dessas travessias, séjours no exterior são momentos de redefinição, de elaboração de posturas intelectuais” (33), e considera o poder das circulações, das redes dos lugares de produção do saber que conectavam os intelectuais e dos canais de divulgação – sendo os mais eficientes na história do urbanismo do período, além dos livros e manuais, os periódicos especializados (34). O que faz com que mesmo aqueles que não viajavam, como é o caso do paulistano Anhaia Mello, estivessem plenamente ao par dos debates na área, graças à sua vasta e atualizada biblioteca pessoal, como temos observado em pesquisa em curso.
E embora as reflexões sobre as trajetórias de atores daquela geração, bem como as dinâmicas implícitas aos empréstimos ou ao estudo de mecanismos de apropriação das referências internacionais estejam presentes há tempos em nossos trabalhos, ainda cabe retomar a discussão na linha de se perguntar sobre as nuanças da pertinência dos conceitos anunciados (circulação, intercâmbio, difusão, ressonância, tradução, transferência e apropriação de ideários e modelos), que passamos a comentar.
Inicialmente propomo-nos a repensar terminologias relativas às situações de difusão, pois conceitos implícitos a estas necessitam aprofundamento epistemológico: entre eles nos perguntamos sobre os vocábulos circulação e intercâmbio no caso do Brasil (que já estavam contidos na ideia de cosmopolitismo que vigorava no século 19, e depois na de internacionalização, própria da “gênese do urbanismo” remetida pela historiografia aos primeiros decênios do século 20). As pessoas e através delas, as palavras em livros, artigos, relatórios, conferências, cursos, congressos, são algumas das formas de circulação – medir seus efeitos e impactos, seja nos indivíduos que as carregam e as difundem, seja nos objetos que as materializam, faz parte da metodologia de trabalho voltada para uma história intelectual das representações e práticas, que em nível local, apesar dos avanços, ainda é fértil em temas inéditos de pesquisa.
Circulações podem ser equacionadas quando se conta com redes de atores em lugares de produção do saber devidamente estruturados. No caso brasileiro, seriam raros os casos de diálogos bilaterais, pois estamos diante de uma série de situações unilaterais, em que referências são apropriadas em descompassos diversos, em todos os níveis. Ora, os termos circulação, que supõe ir e vir, e intercâmbio, que supõe troca afiguram-se discutíveis nesse caso, pois os ideários raramente têm essa dinâmica naquele momento inicial. Nossos pioneiros são, em sua maioria, desconhecidos na historiografia internacional, seus textos não circulavam, não eram lidos lá fora ou adquiriam qualquer legitimidade referencial – escritos em português, em cidades periféricas como a São Paulo dos primeiros decênios do século 20, em um Brasil que não se inscrevia ainda em projetos internacionais ou nutria relações de reciprocidade crítica ou teórica. (Registrem-se relativas exceções já citadas, como é o caso de Saturnino de Brito e Victor Freire). A ação da maioria dos protagonistas e atores estava restrita ao cenário local, seus textos circulando entre os pares; enquanto seus projetos, embora acolhidos nacionalmente, muitas vezes não saíam do papel – temas que constituem ainda objeto de estudos de caso, imprescindíveis para o avanço da nossa própria historiografia.
Intérpretes seria melhor dizer, das referências internacionais – pois raramente porta-vozes de teorias pessoais, mergulhados em referências culturais produzidas em outras conjunturas, atuando em espaços receptores e não produtores de pesquisas de primeira mão ou de ideários originais. A interpretação em diferentes contextos implica, pois, níveis de leituras e introduz matizes, segundo a inteligibilidade dos leitores das referências que as reformulam e segundo as circunstâncias em que as convocam. Levar em conta as “condições de possibilidade” em todos os níveis é um jargão da história cultural, mas que não perdeu sua atualidade.
Já nos referimos às conhecidas análises de Pierre Bourdieu, sobre “as condições sociais da circulação internacional das ideias”, observando que a dificuldade da comunicação internacional está no fato que raramente se reconstrói o sentido e a função de um texto no seu campo original, ou seja, “textos não carregam com eles o campo de sua produção” (forçosamente diverso). E se o sentido e a função de uma obra estrangeira são determinados tanto no campo de origem, quanto no da recepção, as transferências se dão, não raro, sob descompassos temporais e contextuais por parte dos receptores. O que requer dos pesquisadores que estão do outro lado do Atlântico, uma análise fina e aprofundada das referências que aqui circulam. É Roger Chartier quem afirma em um artigo que se tornou um clássico: “as recepções são sempre apropriações que transformam, reformulam, excedem o que elas recebem” (35).
Ou seja, observamos que a “circulação” não apresenta mão-dupla na maioria dos casos, pois nossos atores escreviam textos que não cruzavam fronteiras – imported but not exported (parodiando o titulo de um conhecido livro), com raras exceções, até os anos 1930 – dai o cuidado em empregar o termo “circulação” no período fundador enfocado. Já entre 1940-50 o cenário muda: além do Brasil passar a ser o centro das atenções nos meios profissionais, especialmente da crítica da arquitetura, graças à difusão de obras do “estilo internacional” em periódicos e livros, no campo de uma cultura urbanística se estabelece um efetivo intercâmbio, especialmente pan-americano (36), que vem sendo objeto de estudos, tema que foge da nossa periodização.
Ainda segundo Bourdieu, a circulação internacional das pessoas, textos e ideias implica não só as referidas “condições sociais” da circulação, como os processos de seleção, filtragem, tradução que dependem de campos de forças ou interesses que as viabilizem e as legitimem, posições políticas e acadêmicas, e, muitas vezes, “oportunismos” ou usos circunstanciados e estratégicos, “imposição simbólica” e reforço dessas posições, já que o meio intelectual como os demais espaços sociais é lugar de imperialismos e nacionalismos, onde são veiculados preconceitos, estereótipos, clichês, narcisismos, resistências…
Sob um olhar mais positivo, merecem igualmente consideração, as afinidades culturais eletivas em relação a certas referências, e (por que não?) o idealismo próprio de alguns “pioneiros” – sutilezas que pedem cuidado ao historiador nas análises de estudos de cada caso, de cada ator, de cada situação urbana, procurando manter a necessária distância crítica.
Autores alertam também para que não engesse a temática complexa da circulação segundo oposições estigmatizadas de “duplas simples” como industrialização/modernização, centro/periferia, emissão/recepção, chegada/partida, demanda/oferta, local/nacional, dominante/dominado (37). Graças às novas perspectivas dos estudos culturais que alcançaram a história do urbanismo, modificaram-se essas antigas posturas de cunho ideológico. Especialmente a última polaridade, própria da teoria da dependência, que se apoiava apenas em “estratégias de dominação política e econômica”, eliminando aspectos de convergência de um universalismo intelectual de fato, em torno de temas ou problemas urbanos, quando engenheiros acreditavam ainda no “progresso como missão” (38), buscando soluções comuns para as cidades mediante a construção dos ideários do urbanismo moderno, difusão de doutrinas e acumulação de experiências (39).
Concluindo sobre as opções metodológicas mencionadas acima, sua adequação ao nosso estudo se revela também ao sugerir que o aprofundamento da reflexão sobre a circulação (em suas possibilidades e limites) nos afasta de uma das “mais preguiçosas noções, a de ‘influência’ estrangeira [alheia às] evoluções culturais, sociais, e mesmo políticas de uma sociedade local” (40). Retomamos aqui Baxandall na recusa às genealogias e filiações dos esquemas sumários das “influências”, termo que “por comodidade” ainda circula, apesar de críticas já antigas (da literatura às artes) ao seu emprego, para observar que as nuanças do modelo e as transformações que lhe são inerentes, bem como as vicissitudes de sua aplicação em situações vividas por atores da arquitetura e do urbanismo brasileiro, vão muito além dessa relação mecânica de “influência” (41). As criticas de Baxandall em relação a essa noção, originária da astrologia, portanto inadequada ao vocabulário científico, ressaltam, sobretudo, que o uso de referências jamais é passivo, e que a complexidade das apropriações indica que se substitui com vantagem “influência” por outras fórmulas. Entre as sugeridas por Baxandall, resumimos nossas escolhas: “apropriar-se de”, “referir-se a”, “recorrer a”, “retomar”, “citar”, “adaptar”, “assimilar”, “interpretar”, “transformar” – mas excluímos verbos que implicam juízos de valor (como “deformar”), ou de cunho romântico (como “inspirar-se em”).
Também no campo da história urbana (42) trabalhos convidam a revisar a “fácil” evocação das “influências”, levando em conta situações de micro-história que consiste em compreender as lógicas plurais dos atores locais, e, acrescentaríamos, seu tempo próprio (voltaremos a este ponto mais adiante).
Mencionar os termos circulação e intercâmbio implica, vimos, considerar que ideias, formas e modelos se desconstroem nas experiências de deslocamento (43) para outras latitudes. Retomamos em conseqüência, outra assertiva: transferência supõe transformação (44) –, há tempos digerida nos vários campos do conhecimento, sabendo-se que modelos são transferidos para um sistema cultural e uma história que não são iguais aos da origem dos mesmos, o que acarreta indiscutivelmente as diferenças (45).
Porém, antes de concluir sobre a questão da transferência de modelos e ideários, estendemos alguns comentários sobre as noções de difusão e de ressonância, cuja impropriedade relativa está submetida aos mesmos cuidados dos termos circulação e intercâmbio, já mencionados. Recorremos a um texto conhecido da área do urbanismo, o de Stephen Ward, “Reexamining the International Diffusion of Planning”, que remete as ligações internacionais ao “inicio do urbanismo moderno” (reafirmaremos mais adiante o tempo próprio de cada situação urbana), referindo-se a centros europeus dominantes de inovação (principais tradições nacionais e contatos entre elas), à variedade de experiências práticas de difusão, e a modelos de emulação “traduzidos e interpretados seletivamente, segundo contextos específicos” (46). Ele comenta os mecanismos da difusão em vários países por meio de uma “tabela” sobre os níveis ou “tipologias de difusão”, destacando nela “atores e seu papel”, “mecanismos de dependência”, tipo de empréstimo (”sintético, seletivo, não-diluído, negociado, contestado, imposto”), compreendendo situações de neocolonialismo e exemplos geograficamente localizados. Ward menciona ainda a desconstrução dos modelos – consciente, inconsciente, e seu parcial entendimento. Conclui destacando “o papel dos indivíduos como variáveis independentes no processo de difusão”, embora os limites dos contextos e dos meios profissionais acabem sendo determinantes.
Quanto ao termo ressonância (que aparece não raro associado a difusão), segundo o dicionário Houaiss, é um vocábulo científico que se refere na física e na acústica à repercussão de sons – no caso de nossa disciplina, é obviamente empregado como metáfora; porém, se formos à sua origem etimológica, estão implicadas definições como “vibrações a partir de freqüências idênticas, processo de transferência de energia de um sistema para outro [...] algo que faz eco, repete o som, ecoa...” Ora, esses significados revelam sua inadequação no caso de nosso campo de estudos, quando nos referimos a transferência ou a apropriação de ideários, pois as referências de que os atores do urbanismo se apropriam, vêm de “freqüências” diversas e distantes, cuja passagem para “outra freqüência” não constituem de modo algum em eco idêntico, repetição, continuidade. No Grand Robert de la Langue Française, a explicação é mais detalhada, e na significação literária, ressonância é “um efeito que se repercute no espírito”, ou seja, um eco em harmonia, a ser tomado também como uma interpretação, cujo sentido, porém, aparece ambivalente: “guardar a mesma ressonância” ou “dar a um termo, uma nova ressonância”; há, porém, autores como Georges Duhamel que chegam a afirmar, que uma palavra muda de significado ou de ressonância em função de um leitor mais sutil, ou seja, apresenta-se diferente se empregada por um mestre e por um aprendiz...
Retomemos agora o caminho dos modelos ou ideários urbanos, que passam pelos atores, suas instituições, políticas urbanas, e se particularizam sempre localmente. Para estudos sobre o século 19, as relações de transferência de modelos tornaram-se lugar-comum; a noção de modelo implica saber que este se localiza em algum lugar, e supõe materialização para provar sua eficácia. Um modelo frequentemente invocado como o da Paris haussmanniana não é apenas espacial, mas indissociável das representações de seu tempo e da história da própria cidade em que se deu – as apropriações feitas fora desse universo se revelaram todas parciais e fragmentárias, distintas da noção de sistema integrado e global de composição, própria do modelo original – constatações que são hoje um consenso na vasta historiografia sobre o tema, também discutido em situações locais (47). As referências ao haussmannismo vão muito além do peso mítico deste “caso exemplar” e de representações simplistas que o interpretavam em termos “da fascinação da burguesia por Paris” (48).
A eventual adoção de um modelo urbano supõe o processo de transposição parcial, de tradução possível de partes dele (embora o termo tradução implique, por si só, conhecidas restrições), de adaptação a outro contexto, como aconteceu com o modelo haussmanniano na fundação de Belo Horizonte no final do século 19, e no Rio de Janeiro, no começo do 20. Se um modelo deve ser reconhecido pela sua capacidade de se exportar, é evidente que ele não vai reaparecer da mesma forma em outros países ou que as “transferências” de seus traços se façam sem transformações. E “embora um modelo se apresente como referência exemplar oriunda de um conjunto de teorias, debates, enunciados, as regras que o compõem são constantemente colocadas à prova pelas circunstâncias de sua execução. Todo modelo pressupõe essa dinâmica da invenção ou adaptação sobre a reprodução. A apropriação sendo uma resposta conjuntural e parcial faz com que o resultado não seja o mesmo, de um caso a outro. Além disso, os limites da transposição de um modelo evidenciam-se com o crescimento da cidade, na complexa articulação entre o espaço e o tempo das formas urbanas, que não ‘escapam da história’ como observava Bernard Lepetit” (49).
Na historiografia do urbanismo do século 20, o que se propõe é substituir a noção de modelo urbano pelo estudo de paradigmas de urbanidade, que teóricos pioneiros do urbanismo local, como Anhaia Mello a partir dos anos 1930, já buscavam quando refletiam sobre a cidade. E referências internacionais, planos de remodelação ou novas propostas para solucionar os problemas das cidades, presentes nas leituras dos nossos engenheiros, desde Aarão Reis no século 19, a Anhaia Mello no 20, representavam roteiro seguro, exemplo, experiências a serem estudadas e não transplantadas, ou “copiadas” simplesmente, devendo ser adaptadas “às nossas condições locais”, ou “apropriadas a condições especificas de tempo e lugar” (50) – evidenciando uma certa consciência do relativismo da sua aplicação.
Há uma questão ainda a ser lembrada, sobre “a busca das origens” de referências e ideários, que pode se revelar duvidosa ou inoperante em muitas situações; vários autores, entre eles os latino-americanos, sugerem nessa linha que alguns desses paradigmas acabam sendo “uma forma de fazer urbanismo, na época, presente em todos os lugares, como se fossem técnicas universais transmitidas [ou assimiladas] em todos os centros do mundo”, ou que “os experts acreditavam na existência de soluções de valor universal” (51). O humanismo de Anhaia Mello inscreve-se nesse sentido, nos pontos comuns que circulam entre os autores que convoca; ele mesmo destaca a circulação dos ideários e sua internacionalização sob uma retórica exacerbada própria do seu tempo: “as ideias têm hoje uma efetividade imensa e um raio de ação quase ilimitado e imediato, que abraça o globo, e mesmo vai sondar outros planetas” (52). Por extensão, sabe-se que tanto quanto as referências, os modelos se interpenetram e se combinam sob hibridismos intemporais que podem anular eventuais arquétipos nacionais ou autores precisos.
Assim, o caráter fragmentário e plural dos mesmos remetidos à complexidade de deslocamentos e apropriações sugere atenção às temporalidades específicas do espaço de cada história. Ou seja, a reconstituição dos caminhos de um ideário mostram que ele não obedece a regras rígidas de cronologia, o que não nos autoriza etiquetar uma apropriação como “tardia” em relação a outra, pois cada situação urbana tem seu tempo próprio de absorção. Representações e práticas se inscrevem em historicidades que anulam o epíteto tardio (vale a repetição) nas dinâmicas urbanas e suas durações especificas. Trata-se igualmente de detectar os mecanismos das circulações dos saberes e experiências, para compreender de outra maneira a coexistência de ideários, bem como o comportamento de um modelo que, colocado à prova das condições de possibilidade de tempos e lugares diferentes, segue outras lógicas: questão central das transferências.
* * *
Especialmente a partir dos anos 2000, quando se banaliza o termo “globalização”, escreve-se e debate-se muito sobre perspectivas transnacionais (e não mais internacionais que caracterizaram o período aqui mencionado). Acompanhando outros campos do saber, os estudos urbanos também adotam perspectivas que vão além das “comparações” e das “transferências”, atentos a revisões de terminologias e de conceitos sob múltiplos parâmetros metodológicos, entre eles os da história cultural, discutidos neste texto; as linhas das shared histories, connected histories, e histórias cruzadas interdisciplinares afiguram-se pertinentes para articular as elites intelectuais e suas referências a contextos e periodizações peculiares.
No debate que se seguiu à apresentação deste texto e das comunicações da sessão 36 no Enanparq, contestou-se a periodização adotada observando-se que “a história do urbanismo não começa em 1890”. Sabemos que limites temporais são sempre elásticos e fluidos, além de historicamente relativos. O arco histórico considerado segue uma indicação convencional da historiografia (européia e americana certamente) levando em conta obras conhecidas (citadas em notas do texto) que se constituíram como marcos de estudo em diversos países, porém, sem deixar de lado, em nível nacional, textos e intervenções de modernização que ocorreram nas nossas cidades, e mesmo, a construção de novas capitais, prevista na constituição republicana. Embora considerando a internacionalização de questões do urbanismo moderno, a partir de uma historiografia que toma por base a difusão de textos-chave que mencionam ou prenunciam ideários e reformas urbanas, estamos conscientes das recorrências anteriores de projetos de melhoramentos ao longo do século 19, especialmente a partir do decênio de 1870. Antecipações e ideias em formulação ou maturação, sob tempo, ritmo e duração diferenciados ocorrem segundo as lógicas de cada espaço urbano. Daí a ênfase em buscarmos a recuperação dos indivíduos, “pioneiros”, case studies de trajetórias locais e nacionais e seus cruzamentos, démarche fundamental que esclarecerá intenções e projetos que foram postos em prática. Mencionamos aqui apenas alguns nomes aos quais outros devem ser acrescentados, inclusive eventuais “precursores” e suas redes de relações. O debate continua aberto...
notas
1
Este texto foi originalmente escrito como Introdução à sessão “Pioneiros do Urbanismo no Brasil (1890-1930) e suas referências ao ideário internacional” (IV Enanparq, Porto Alegre, julho 2016). Apresentado de forma bastante resumida no evento e com pouco tempo para debate, sua publicação aqui com poucas modificações visa torná-lo acessível a um maior número de estudiosos. Os textos apresentados nessa sessão, mencionados no inicio da análise, podem ser consultados no CD do encontro e anais disponíveis no site do evento, na sessão 36 . https://enanparq2016.wordpress.com/principal/anais/.
2
Alguns livros (em geral coletivos) compõem a historiografia na área, reunindo pesquisadores nacionais e estrangeiros em torno da questão dos atores e suas referências: RIBEIRO, Luiz Carlos de Queiroz; PECHMAN, Robert (org.). Cidade, povo e nação. Gênese do urbanismo moderno, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996, com textos do seminário intitulado: Origens das políticas urbanas modernas: Europa e América Latina. Empréstimos e Traduções – cujo texto introdutório afirma que não se tratava “de trabalhar em termos de ‘influências’, cópias ou imposição dos reformadores franceses sobre seus homólogos brasileiros [mas de considerar] a lógica dos atores singulares de cada país” – propósito mantido por alguns autores, com exceções e equívocos próprios a uma coletânea. Em 2004, realizou-se em Baruru/Agudos, um dos mais importantes eventos internacionais nessa linha de análise: “Camillo Sitte e a circulação de ideias de estética urbana. Europa-América Latina: 1880-1930”. Ver ainda entre as publicações de encontros: GOMES, Marco Aurelio de Filgueiras; PINHEIRO, Eloísa Petti. A cidade como história. Os arquitetos e a historiografia da cidade e do urbanismo. Salvador, EDUFBA, 2005; SALGADO, Ivone; BERTONI, Angelo (org.) Da construção do território ao planejamento das cidades: competências técnicas e saberes profissionais na Europa e Américas (1850-1930). São Carlos, Rima, 2010.
3
Entendemos o conceito de geração intelectual segundo autores franceses como Jean-François Sirinelli, Christophe Charle, Michel Winock, publicados do final dos anos 1980 a 2011. No âmbito da historiografia latino americana, Silvia Arango Cardinal afirma empregar o “método generacional” de J. Ortega y Gasset e seu discípulo Julián Marías que, porém, remonta aos anos 1940-1950. ARANGO, Silvia Cardinal. Ciudad y Arquitectura. Seis generaciones que construyeron la América Latina moderna. México/Colômbia, Fondo de Cultura Economica, 2012.
4
O enunciado dessa Sessão publicado nos Anais do evento mencionado refere-se a uma série de nomes inscritos na periodização que vai do inicio da República aos anos 1930, momento decisivo para a eclosão de práticas urbanísticas no país, dada a necessidade de modernização de muitas das cidades-capitais em face da internacionalização da economia urbana, quando novos atores entram em cena em todos os Estados – a maioria desses nomes carece ainda de biografias intelectuais aprofundadas.
5
Expressão de Bernard Lepetit. Cf. as posturas deste autor em: ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. (org.) Bernard Lepetit. Por uma nova história urbana. São Paulo, Edusp, 2001 (reeditado em 2016 com novo prefácio).
6
Ver entre outros: CLAUDE, Viviane; SAUNIER, Pierre-Yves. L’urbanisme au début du siècle. De la reforme urbaine à la compétence technique. Vigtième Siècle. Revue d’Histoire, n. 64, out./dez. 1999, p. 25-40.
7
Op. cit. nota 5, supra.
8
WERNER, Michael; ZIMMERMANN, Bénédicte (org.). De la Comparaison à l’Histoire croisée. Paris, Seuil, 2004.
9
RONCAYOLO, Marcel. La ville est toujours la ville de quelqu’un. In MASBOUNGI, Ariella. La ville sur mesure. François Greteher, Grand Prix de l’urbanisme 2012. Hommage a Marcel Roncayolo. Marselha, Parenthèses, 2012. E ainda, os enfoques presentes em: PEREIRA, Margareth da Silva. Globalização e história ou atores sociais e culturas urbanas já são levados a sério? In MACHADO, Denise B. Pinheiro (org.). Sobre urbanismo. Rio de Janeiro, Prourb, 2006.
10
Silvia Arango, embora desenvolva considerações significativas sobre protagonistas, canais de transmissão e elaboração de projetos, ao insistir no “conceito de influência”, perde a força de sua argumentação – a impropriedade deste conceito já foi discutida por vários autores e por nós mesmos, tanto no campo da história da arquitetura quanto na do urbanismo. ARANGO, Silvia Cardinal. A arquitetura e o urbanismo, entre a influência difusa e a influência profunda. In SOUZA, Célia Ferraz de (org.). Ideias em circulação na construção das cidades. Porto Alegre, Marcavisual/Propur/Propar, 2014. Ver a seminal “Digressão contra a noção de influência” do historiador de arte Michael Baxandal, em Padrões de intenção. A explicação histórica dos quadros, São Paulo, Cia das Letras, 2006, prefaciado por Heliana Angotti-Salgueiro, especialmente p. 20-21; 101-112. (A edição original inglesa é de 1985). No campo da história urbana internacional, ver a crítica no Posfácio da reedição de: PINOL, Jean-Luc; WALTER, François (org.), Histoire de l’Europe urbaine. La ville contemporaine jusqu’à la Seconde Guerre mondiale. Paris, Éditions du Seuil, 2012, p. 378 (reedição de 2003, acrescida de Posfácio).
11
Sobre níveis de intercâmbio internacional, ver: SIMÕES JUNIOR, José Geraldo. Internacionalização do urbanismo e a relevância dos eventos de 1910: os Congressos e Exposições de Urbanismo de Berlim, Londres e Nova Iorque. In: XV Encontro Nacional da Anpur, 2013, Recife. Anais do XV Enanpur – Desenvolvimento, Planejamento e Governança. Recife, Anpur, 2013. v. 1. p. 1-20.
12
SUTCLIFFE, Anthony. Towards the Planned City – German, Britain, the United States and France (1780-1914). New York, St. Martin Press, 1981.
13
PICCINATO, Giorgio. La Costruzione dell'urbanistica Germania 1871-1914. Roma, Officina Edizione, 1974.
14
MELLER, Helen. Patrick Geddes. Social Evolutionist and City Planner. London/New York, Routledge, 2004; MELLER, Helen. European Cities, 1890-1930. History, culture and the Built Environment. Sussex, John Wiley and Sons, 2001.
15
COLLINS, Christiane Crasemann; COLLINS, George. Camillo Sitte and the birth of modern city planning. 2ª edição. New York, Rizzoli, 1986.
16
FEHL, Gerhard; LORES, Juan R. Städtebau um die Jahrhundertwende. Materialen zur Entstehung der Disziplin Städtebau. Köln, Deutsche Gemeindeverlag, 1980.
17
WARD, Stephen. Reexamining the International Diffusion of Planning. In: FREESTONE, Robert (org.) Urban Planning in a Changing World. The Twentieth Century Experience. Londres, E & FN Spon, 2000.
18
LADD, Brian. Urban Planning and Civic Order in Germany, 1860-1914. Cambridge, Harvard University Press, 1990.
19
KRUCKENBERG, Donald. An Introduction to the Planning History in the United States. New Jersey, Rutgers University, 1985.
20
CALABI, Donatella. Il “male”città: diagnosi e terapia. Didattica e istituzioni nell’urbanistica inglese del primo ‘900. Roma, Officina, 1979.
21
ALMANDOZ, Arturo. Planning Latin America’s Capital Cities 1850-1950. London, Routledge, 2002.
22
HORSFALL, Thomas Coglan. The Improvement of the Dwellings and surroundings of the people: the example of Germany. Manchester, University Press, 1904.
23
COLLINS, Christiane Crasemann; COLLINS, George. Op. cit.
24
PICCINATO, Giorgio. Op. cit.
25
SUTCLIFFE, Anthony. Op. cit.
26
Bourdieu observa que leitores em um campo de pensamento diverso aplicam na leitura e apropriação de um texto suas próprias categorias de percepção dadas as diferenças de tradições intelectuais. Voltaremos à questão da apropriação. BOURDIEU, Pierre. Les conditions sociales de la circulation internationale des idées. Actes de la Recherche em Sciences Sociales, n. 145, 2002, p. 1-10.
27
Cf. ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. A biblioteca de Luiz de Anhaia Mello: referencial teórico – apropriações. Comunicação inédita apresentada na 1ª Jornada Anhaia Mello, organizada pelos autores deste texto, no âmbito do PPGAU-UPM, em novembro 2015.
28
A mecânica das conexões, ou seja, a circulação, fluxos de pessoas, ideias, objetos, formas e textos convidam-nos a cruzar os níveis local, nacional, internacional, e merecem longas considerações apenas sugeridas aqui, com base em: SAUNIER, Pierre-Yves. Circulations, connexions et espaces transnationaux. Génèses, 4, n. 57, 2004, p. 110-126; NOVICK, Alicia. La ciudad, el urbanismo y los intercambios internacionales. Notas para la discusión. Texto reformulado da apresentação ao II Seminário de História urbana, Campinas, 2009.
29
Hélène Jannière assume posições cujo valor metodológico embora enfoque autores da critica da arquitetura, podem ser também pertinentes em relação à crítica do urbanismo: um tema de pesquisa deve se referir a conjunturas particulares, a momentos e meios histórica e culturalmente situados. Cf. JANNIÈRE, Hélène. Présentation. Pour une ‘cartographie’ de la critique architecturale e La critique architecturale, objet de recherche, in Les Cahiers de la recherche architecturale et urbaine, La Critique en temps et lieux, n. 24-25, Ed. du Patrimoine/Monum, 2009, p. 15-19, e121-140.
30
Como já indicaram: NOVICK, Alicia. Foreign Hires: French experts and the Urbanism of Buenos Aires, 1907-1932. In VOLLAIT, Mercedes; NASR, Joe (ed), Urbanism. Imported or Exported? Native aspirations and foreign plans. Chichester, Wiley Academy, 2003; PEREIRA, Margareth da Silva. Pensando a metrópole moderna: os planos de Agache e Le Corbusier para o Rio de Janeiro. In RIBEIRO, Luiz Carlos de Queiroz (org.). Cidade, povo e nação. Gênese do urbanismo moderno, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996.
31
ANDRADE, Carlos R. Monteiro de. Barry Parker. Um arquiteto inglês na cidade de São Paulo. Tese de Doutorado FAU-USP, 1998.
32
COHEN, Jean-Louis. Le ‘nouvel urbanisme’ de Gaston Bardet. Le Visiteur, Paris-SFA, n. 2 1996, p. 143.
33
Jean-Yves Saunier cita vários autores sobre as experiências vividas pelos “protagonistas das travessias” em seu artigo: “Circulations, connexions et espaces transnationaux” (op. cit.), p. 113 e ss. Não seria possível nos limites deste texto tratarmos das viagens, embora de importância central para os enfoques propostos. Limitamo-nos a indicar as indicações bibliográficas presentes em: SIMÕES JUNIOR, José Geraldo. Op. cit.; ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. Viagem moderna, in ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana (org.) O olho fotográfico. Marcel Gautherot e seu tempo. São Paulo, MAB-FAAP, 2007.
34
Acerca de periódicos especializados, locais e internacionais, que circulavam em São Paulo, ver: ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana; SIMÕES JR., José Geraldo. Luiz de Anhaia Mello – em busca de um urbanismo humanizado: ideário e autores de referência. Comunicação ao XIV SHCH. Cidade, arquitetura e urbanismo. Visões e revisões do século XX. São Carlos, set. 2016.
35
CHARTIER, Roger. Le monde comme représentation. In Annales ESC, n. 6, 1989, 1505-1520. (Retomado em Au bord de la falaise. L’histoire entre certitudes et inquiétudes, Paris, Albin Michel, 1998, publicado em português em 2002). Ver KRAUS, Dorothea. Appropriation et pratiques de la lecture. Les fondements méthodologiques et théoriques de l’approche de l’histoire culturelle de Roger Chartier. Labyrinthe, 31, Thèmes n. 3, 1999, p. 13-25 (http://labythinthe.revues.org/56, consultado a 22/08/2014).
36
GOMES, Marco Aurelio de Filgueiras (org.). Urbanismo na América do Sul. Circulação de ideias e constituição do campo. 1920-1960. Salvador, EDUFBA, 2009.
37
SAUNIER, Jean-Yves. Circulations, conexions et espaces transnationaux (op. cit.), p. 116.
38
ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. Engenheiro Aarão Reis. O progresso como missão. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro/ CREA-MG, Coleção Centenário, 1997.
39
Essas expressões são tomadas de empréstimo a: NOVICK, Alicia. La ciudade, el urbanismo y los intercâmbios internacionales. Notas para discusión (op. cit.), p. 7.
40
SAUNIER, Jean-Yves. Op. cit., p. 117.
41
BAXANDALL, Michael. Digressão contra a noção de influência. In Padrões de intenção. A explicação histórica dos quadros, São Paulo, Cia das Letras, 2006 (Introdução à edição brasileira de Heliana Angotti-Salgueiro).
42
PINOL, Jean-Luc; WALTER, François (org.). Op. cit., p. 378 (reedição de 2003, acrescida de Posfácio).
43
Esta expressão foi empregada em seminários interdisciplinares, referentes à França e ao Brasil, por Heliana Angotti-Salgueiro, no âmbito do seu projeto “Image, language, voyage – expériences de déplacement”, como Professora-titular da Chaire Brésilienne de Sciences Sociales Sergio Buarque de Hollanda, Paris, CRBC/MSH, entre 2004-2008.
44
Ver ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. Paris-Belo Horizonte. Image transferée, image transformée. Cahiers du Brésil Contemporain, EHESS, France-Brésil, n. 12, Paris, dec. 1990, 69-78. (www.revues.msh-paris.fr/pdf).
45
Em pauta, Alicia Novick cita ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana (org.). Cidades Capitais do século XIX. Racionalidade, cosmopolitismo e transferência de modelos. São Paulo, Edusp, 2001 (textos de D. Calabi, B. Lepetit e A. Picon, apresentados em Jornada de Estudos, 1996), além da conferência não publicada, feita no congresso internacional de Agudos em 2004, ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. Augustin Rey, leitor de Camillo Sitte na obra La Science des Plans des Villes. In “Camillo Sitte e a circulação de ideias de estética urbana. Europa-América Latina: 1880-1930”, Anais do Congresso Internacional, Bauru/Agudos, 2004. Dentro desta linha de pesquisa, ver também um texto mais recente, escrito sob uma perspectiva auto-reflexiva: ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. Repensar transferências e comparações sob a ótica das histórias cruzadas – do historiador e de seus estudos de caso. In: Simpósios temáticos: Historiografia I – narratividade, tempos e memória. Anais do III Enanparq – arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva, São Paulo, 2014 <www.anparq.org.br/dvd-enanparq-3/iniciar.htm>.
46
WARD, Stephen. Reexamining the International Diffusion of Planning. In: FREESTONE, Robert (org.) Urban Planning in a Changing World. The Twentieth Century Experience. Londres, E & FN Spon, 2000.
47
ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. La pensée française dans la fondation de Belo Horizonte. Des représentations aux pratiques. In Revue de l'Art, n. 106 (Haussmannisme), Paris, CNRS, 1994, p. 85-96 ; ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. Revisando Haussmann, ou os limites da comparação – a cidade, a arquitetura e os espaços verdes. Revista USP, n. 26, 1995, 195-205. <http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i26p195-205
48
Ramón Gutiérrez (1992). Apud NOVICK, Alicia. Foreign Hires: French experts and the Urbanism of Buenos Aires, 1907-1932, (op. cit.) p. 266. Essa representação sobre o modelo parisiense no texto de Novick refere-se ao contexto em que Bouvard atua na Argentina, mas vale também para o período anterior, pois constantemente invocado nesses termos.
49
Cf. ANGOTTI-SALGUEIRO, Heliana. Introdução. In: Cidades Capitais do século XIX... (op. cit.), p. 31-32.
50
Expressões de Luiz de Anhaia Mello em: ANHAIA MELLO, Luiz I. R. Problemas de urbanismo. São Paulo, Escolas Profissionais Salesianas, 1929, p. 13; ANHAIA MELLO, Luiz I. R. Regulamentação dos serviços de utilidade pública. Boletim do Instituto de Engenharia, v. XII, n. 59, abr. 1930, p. 185.
51
Cf. Silvia Arango, no artigo cit. nota 6, p. 76, e Alicia Novick, “Foreign Hires: French experts and the Urbanism of Buenos Aires, 1907-1932”, op. cit. Vale acrescentar aqui a necessidade de uma reflexão mais acurada sobre a periodização que a historiografia determina e vem sendo aceita para todas as latitudes – questão que vai além dos limites deste texto.
52
ANHAIA MELLO, Luiz I. R. A verdadeira finalidade do urbanismo. Boletim do Instituto de Engenharia, v. 11, n. 51, ago. 1929, p. 107.
sobre os autores
Heliana Angotti-Salgueiro é doutora em História (EHESS, Paris), foi Profa. Titular da Chaire en Sc. Sociales Sérgio Buarque de Holanda (MSH, Paris). É pesquisadora com pós-doutorados pela The Getty Foundation e CASVA (USA), FAPESP e CAPES (recentemente, junto ao PPGAU da Universidade Presbiteriana Mackenzie). Organizadora e co-autora de: O olho fotográfico. Marcel Gautherot e seu tempo. São Paulo, MAB-FAAP, 2007, e Por uma nova história urbana. Bernard Lepetit. São Paulo, Edusp, 2016 (2001).
José Geraldo Simões Junior tem pós-doutorado em Urbanismo pela Universidade Técnica de Viena (2010) e graduação pela FAU-USP (1983). Desde 2000 é professor do curso de pós-graduação da FAU-Universidade Presbiteriana Mackenzie. Livros Publicados: Urbanismo de Colina, uma tradição luso-brasileira (org.,2012); Palacete Santa Helena: um pioneiro da modernidade em São Paulo (org.,2006); Anhangabaú: História e Urbanismo (2005).