Arquitetura moderna brasileira, arquitetura de tal qualidade que foi aclamada no exterior, ombreando-se com o que de melhor foi realizado em todo o mundo. Como se deu essa passagem do clássico para a modernidade?
Arquitetura contemporânea brasileira, arquitetura de tal confusão que não se sabe o que se quer construir nem o que se quer consumir. Como se configurou essa miscelânea de estilos e preferências duvidosas?
Gregori Warchavchik, arquiteto de origem russa se radicou no Brasil a partir de 1923. Nasceu em 1896 em Odessa, onde iniciou seus estudos em arquitetura. Em 1918 se graduou como arquiteto pelo Instituto Superior de Belas Artes de Roma. Trabalhou com Marcelo Piacentini, com quem contribuiu em diversos projetos na Itália. Veio para o Brasil defender o movimento moderno em detrimento ao provincianismo arquitetônico que então se realizava.
Warchavchik foi referência para os antecedentes da arquitetura moderna brasileira. Com seus discursos e casas-manifesto, foi capaz de fazer parte de importante transformação arquitetônica.
Quase um século depois, o contexto é completamente diferente. Questões sociais, políticas e econômicas não possibilitam que apenas uma figura ou um movimento tomem conta da paisagem urbana. Quem poderia nos salvar?
As escolhas de hoje estão muito ligadas à segurança e à especulação imobiliária em detrimento da boa arquitetura. Os consumidores querem viver isolados e as construtoras, em geral, só pensam em ganhar mais e mais. O resultado formal é exatamente aquilo que Warchavchik discursava contra e a favor…
Contra os estilos passados:
“Vejam as clássicas pilastras, com capitéis e vasos, estendidas até o último andar de um arranha-céu, numa rua estreita das nossas cidades! É uma monstruosidade estética! O olhar não pode abranger de um só golpe a enorme pilastra, vê-se a base e não se pode ver o alto. Exemplos semelhantes não faltam” (1).
A favor da nova técnica e dos novos materiais de construção:
“Os arquitetos da nova geração, procurando ardentemente a verdade, procurando o contato com a terra, procurando compreender as exigências da vida de hoje, aprendendo a usar materiais novos, e aproveitando-se das possibilidades de uma nova técnica (com as quais as gerações passadas nem teriam ousado sonhar), estão criando a arquitetura nova” (2).
Um momento de reflexão para tentar entender como que no início do século já se pensava de tal maneira, lógica e racional, e como esses conceitos se perderam. Como que com o avanço da tecnologia, é possível acreditar que significado de riqueza ou nobreza é viver como os nossos antecedentes europeus.
As imagens (3) ilustram alguns exemplos de boa arquitetura concebida por Warchavchik, procurando mostrar algumas imagens e entendê-las como mensagens que podem continuar sendo referências para os dias de hoje.
notas
1
Publicado originalmente em italiano, com o título “Futurismo?”, no jornal Il Picollo, São Paulo, 14.junho. 1925. No mesmo ano com o título “Acerca da arquitetura moderna”, no Correio da Manhã, 1 nov. 1925, e republicado in FERRAZ, Geraldo. Warchavchik e a introdução da nova arquitetura no Brasil: 1925 a 1940. São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, 1965; XAVIER, Alberto (org.). Depoimento de uma geração. São Paulo: Cosac Naif, 2003; MARTINS, Carlos A. Ferreira (org.). Arquitetura e outros escritos. São Paulo, Cosac Naif, 2006.
2
Publicado originalmente no Correio Paulistano, São Paulo, 05 ago. 1928. Republicado in MARTINS, Carlos A. Ferreira (org.). Op. cit.
3
Além do acervo de Gregori Warchavchik, foi consultado como fonte bibliográfica a seguinte públicação: AQUINO, Paulo Mauro Mayer de (org.). Gregori Warchavchik – Acervo Fotográfico I. São Paulo, edição Família Warchavchik, 2005.
sobre a autora
Camila Oliveira, graduação Arquitetura e Urbanismo Mackenzie (1997); pós-graduação Forma Moderna/Proyectos Arquitectonicos UPC, Barcelona (2002); mestrado em Arquitetura e Urbanismo Mackenzie (2008). Atualmente cursando MBA em Gestão de Projetos FGV e trabalhando com o arquiteto Gui Mattos.