As esculturas de Sérvulo Esmeraldo atraem sorrateiramente o olhar para um confronto entre a objetividade do visível e um equilíbrio essencialmente subjetivo, enigmático. O inconsciente moderno se encarrega dos investimentos culturais destinados à sua apreensão e experimentação. Apesar da precisão quase matemática, a sensibilidade e o devaneio não escapam, estão presentes, condensados na singularidade dos sólidos inspirados por um ideal (problemático) de perfeição e apropriação da luminosidade. Surgem para o olhar, soltas, emancipadas, mas foram inventadas fazendo parte de um sistema, de uma história. É preciso circular em torno delas para perceber suas sutilezas específicas.
O artista trabalha a partir de poucas variações formais, mas intimamente entrosado com o fazer da arte, não só os materiais e a técnica utilizados como também os dados da história. Luz e espaço se articulam como resultado de uma experiência de trabalho, cada escultura é uma soma de volume e luz. Um silêncio estilizado e denso, resistente às falas e definições.
Por trás desse equilíbrio quase imperturbável, existe um processo de saber obcecado em inventar, com os mais simples sólidos do universo da geometria, objetos/monumentos de arte que, além de conviver harmonicamente com a luz e a sombra, acentuam a paixão por uma espécie de “belo clássico”, livre de inquietações, um belo puro e destilado, próximo ao êxtase da perfeição. Momentos de humor.
sobre o autor
Antônio Luiz M. de Andrade (Almandrade) é artista plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano e poeta. Desde 1972 dedica-se ao pensamento da arte concretizado em suas pinturas, esculturas, instalações e poemas visuais, participando de várias mostras coletivas, nacionais e internacionais. Realizou cerca de trinta exposições individuais em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo; escreve em jornais e revistas especializados em arte, arquitetura e urbanismo. Recebeu diversos prêmios, dentre eles o da Fundarte em 1986 e da Copene em 1997 e publicou vários livros dentre os quais “Arquitetura de Algodão" e “Escritos sobre arte: arte, cidade e política cultural”.