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drops ISSN 2175-6716

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Segundo Janot, ao contrário do que se pensava durante a década de 80, atualmente a cidade do Rio de Janeiro está dando a volta por cima - além da política de segurança pública nas favelas, sobressaem as obras de infraestrutura Copa e para as Olimpíadas

how to quote

JANOT, Luiz Fernando. Volta por cima. Drops, São Paulo, ano 12, n. 055.01, Vitruvius, abr. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.055/4307>.


Região da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
Foto Southamerican [Wikimedia Commons]


O pessimismo que tomou conta da população carioca a partir dos anos 1980 contribuiu para agravar, ainda mais, o quadro de degradação urbana que a cidade apresentava naquela época. À medida que essa triste realidade se consolidava surgiam, de todos os lados, manifestações denegrindo a qualidade de vida na cidade. Para os detratores de plantão, o Rio de Janeiro se assemelhava a uma terra de ninguém, onde predominava a barbárie, a miséria e a decadência financeira. Os morros eram vistos, por eles, como territórios exclusivos de marginais e traficantes. Nem mesmo a bela paisagem natural escapava dessas críticas implacáveis. As praias eram consideradas imundas e redutos de fim de semana para os pobres da periferia. No contraponto dessa imagem negativa, a cidade de São Paulo era admirada como paradigma da cidade do luxo e da riqueza, enquanto o Rio era visto como uma velha senhora atingida pelo espectro da pobreza e da decadência. Só escapam desse olhar preconceituoso alguns bairros da zona sul que preservam uma certa aparência sofisticada. Para quem se considera um autêntico “carioca da gema”, deve ter sido difícil conviver, por anos a fio, com essa dura realidade.

Hoje, podem criticar o que bem entenderem, falar mal do governo e maldizer as obras que estão sendo realizadas, mas não têm como negar o fato de que o Rio, apesar da descrença de alguns, está sacudindo a poeira e dando a volta por cima. Se, antes, a inépcia dos governos, o desinteresse dos empresários e as dificuldades políticas prejudicavam a continuidade e a renovação de algumas iniciativas louváveis – Rio Cidade, Favela Bairro, Despoluição da Baía da Guanabara – de uns tempos para cá se percebe uma inversão de conduta. A solidariedade que transparece nas relações entre os governos municipal, estadual e federal trouxe bons resultados para a cidade. Além do sucesso da política de segurança pública nas favelas cariocas, sobressaem as obras de infraestrutura para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016. No entanto, é nesse aspecto que reside a principal preocupação: como planejar esses megaeventos e deles extrair as melhorias que a cidade necessita, sem comprometer, ao longo prazo, a qualidade de vida da população?

Partindo do pressuposto que essas competições esportivas deixarão um importante legado para o Rio, compete às organizações que representam a sociedade avaliar os projetos que estão sendo realizados e evitar que se perca essa rara oportunidade para alavancar o desenvolvimento sustentável da cidade. Para isso, é necessário que a avaliação das propostas de intervenção urbana não fique restrita à apreciação dos sedutores vídeos que ilustram tais realizações. Há que se examinar, cuidadosamente, as particularidades dos projetos apresentados de forma a antever os benefícios ou prejuízos que estas obras poderão trazer para o Rio. Cabe, portanto, à sociedade, não apenas apreciar os projetos, mas, também, denunciar as incongruências que, eventualmente, possam comprometer o contexto urbano da cidade. E não são poucos os projetos que deverão ser avaliados.

Com relação aos três eixos de transporte coletivo (BRT) ligando, respectivamente, a Barra da Tijuca a Deodoro, ao Aeroporto Internacional e a Santa Cruz, causa preocupação o provável impacto urbano decorrente da ação especulativa do mercado imobiliário. É indispensável dotar cada uma das áreas servidas por esse meio de transporte de uma legislação urbana compatível com as condições ambientais dessas localidades. Especialmente a região de Guaratiba, que não possui condições geomorfológicas para absorver uma intensa ocupação do solo. Outro projeto que merece atenção é o do “Porto Maravilha”. Caso se confirme a demolição do elevado da perimetral, os transtornos no sistema viário da cidade e na ligação com os municípios vizinhos serão imprevisíveis. Se as soluções apresentadas no projeto já não contemplam satisfatoriamente o tráfego atual, imagine quando toda aquela área estiver ocupada pelos mega edifícios empresariais previstos para o local. Outro caso, ainda mais grave, é a absurda expansão do metrô até a Barra da Tijuca através de um traçado contínuo passando por Ipanema e Leblon. Ao ser preterido o projeto original de expansão do metrô em rede – via Humaitá e Jardim Botânico – se impôs à cidade uma nova ampliação do já congestionado “linhão” que se estende atualmente até a Pavuna.

Não há dúvida de que todas essas realizações trarão grandes benefícios para a cidade. Porém, se não forem feitos alguns ajustes nos projetos apresentados, o resultado final poderá não ser o desejado. Nesse sentido, espera-se que as autoridades responsáveis compartilhem das preocupações da sociedade e encontrem, solidariamente, os meios possíveis de contemplar os interesses comuns paraelevar a qualidade de vida na cidade.

nota

NE
Publicação original: JANOT, Luiz Fernando. Volta por cima. O Globo, Rio de Janeiro, 24mar. 2012.

sobre o autor

Luiz Fernando Janot, arquiteto urbanista, professor da FAU UFRJ.

 

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