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drops ISSN 2175-6716

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Com uma presença inédita de público, Zaha Hadid e Patrik Schumacher apresentaram palestra comum na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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SEGRE, Roberto. Zaha Hadid e Patrik Schumacher na FAU UFRJ. Parametrização é um novo estilo na arquitetura? Drops, São Paulo, ano 12, n. 055.02, Vitruvius, abr. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.055/4312>.



Há dezoito anos leciono na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiroe nunca testemunhei a passagem de um evento arquitetônico deste porte no edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – edifício que também abriga a Reitoria e a Escola de Belas Artes –, nem mesmo durante greves ou reuniões sindicais, que são as que mais reúnem pessoas.

Finalmente, tive o prazer de por uma única vez, ver os generosos espaços livres do térreo – criados por Jorge Machado Moreira em um edifício idealizado para ser preenchido nos anos cinquenta pelos alunos de arquitetura de um “Brasil grande e moderno” –, quase sempre vazios, ocupado por centenas de estudantes de arquitetura – muito provavelmente mais de mil –, vindos de diferentes escolas cariocas para escutar no dia 31 de março, um sábado, a fala de Zaha Hadid (1).

Foi emocionante assistir a presença de uma juventude entusiasmada no Campus do Fundão, sempre silencioso no fim de semana. Desde cedo se formou uma grande fila para entrar no vestíbulo principal do prédio. Como o edifício não possui um auditório que tenha capacidade para acolher tantos assistentes decidiu-se utilizar o grande vestíbulo de entrada e instalar ali um telão gigante para a projeção das imagens. Simultaneamente foi colocado outro no exterior sob os pilotis monumentais, para a assistência que não cabia no espaço principal.

É a primeira vez que uma personalidade desta importância – ganhadora do Prêmio Pritzker – veio até à escola a convite da diretora Denise Pinheiro Machado. Ela e os colaboradores Flávia de Faria, professora da FAU, e Israel Nunes, arquiteto, aproveitaram as presenças de Zaha Hadid e Patrik Schumacher (2) no Rio de Janeiro, que, com Shigeru Ban, se apresentaram no evento Arq.Futuro.

Deve-se reconhecer, em primeiro lugar, a eficiente organização da equipe de alunos e funcionários da FAU, que sob o comando da Diretora, asseguraram a eficiência, a ordem e o desenvolvimento tranquilo do evento; e, em segundo lugar, a generosidade dos convidados, que depois da palestra responderam às perguntas e autografaram os livros de Zaha Hadid levados pelos alunos.

Ao longo da palestra, em que se alternaram Zaha e Patrik, foram apresentadas, em velocidade quase cinematográfica, as 800 imagens de um colossal power point. Schumacher se propôs demonstrar como a “parametrização” é o “estilo” do século 21, baseando seu argumento em um processo histórico que se inicia nas cabanas primitivas africanas e culmina com a obra de Zaha; ela pontuava o desenvolvimento desse assunto com comentários sobre as suas obras apresentadas.

Foi significativa da quantidade de edifícios construídos apresentados, assim como o número de projetos elaborados no seu escritório. Em paralelo, é intensa sua dedicação à docência universitária. Sensível à importância de transmitir seus conhecimentos e a sua experiência como projetista às novas gerações, ao longo da sua vida Zaha sempre dedicou um tempo considerável ao ensino universitário – na Architectural Association de Londres, no Instituto de Arquitetura de Viena e na Universidade de Columbia em Nova York.

Como a crítica carioca Ana Luiza Nobre já fez em seu blog (3) uma descrição detalhada dos pontos principais apresentados na palestra, desejo adicionar algumas observações que acredito importantes. Em primeiro lugar, a chamada “autopoiesis parametrizada” como intervenção na paisagem não é uma novidade e muito menos uma “invenção” humana; já ocorre há muito nas moradas dos Joões de Barro, nos formigueiros, nos cupinzeiros, nas colmeias. A relação simbiótica com a natureza de formigas, cupins, abelhas e de outros animais, representam a possibilidade inata – e inconsciente – de transformação da paisagem, e neste caso sem o auxílio de computadores.

Uma das teses da “parametrização” é a da integração de todas as ações artísticas e materiais sobre o nosso contexto físico e os principais precedentes desta ideia do total environmental design, que Patrik apresentou na palestra, foram o barroco e a Bauhaus (à qual é possível adicionar a Escola de Desenho de Ulm). No século 21, essa integração se manifesta com as novas ferramentas oferecidas pela computação gráfica que permitem a definição de desenhos complexos e suas formas livres.

Como sempre acontece quando se deseja demonstrar uma tese, a visão de Schumacher procura adotar somente aquelas referências que o possibilitem justificá-la e, portanto, há o perigo da parcialidade e do esquematismo. Por exemplo, como não citar o Art Nouveau, a última proposta da burguesia europeia para estetizar todo o contexto de vida, desde a cidade até os adornos caseiros? Lembremos- nos também de Gaudí, certamente com uma expressão formal livre e intensamente relacionada com a natureza. Se a Bauhaus propagou as manifestações rígidas do racionalismo, como não falar da liberdade plástica do expressionismo alemão, nas formas fluidas de Erich Mendelsohn, nas fantasias de Bruno Taut, de Herman Finsterlin e o Goetheanum de Rudolp Steiner?

Poderíamos continuar citando exemplos do modernismo no século 20, que sem os computadores, conseguiram elaborar formas complexas e livres como a capela de Ronchamp de Le Corbusier ou o aeroporto da TWA de Eero Saarinen. Desde os anos noventa, surgiu um grupo significativo de arquitetos jovens europeus que se libertaram da rigidez miesiana para propor novas expressões formais, aproveitando os recursos oferecidos pela computação gráfica; por exemplo, UN Studio de Ben van Berkel, Daniel Libeskind e Frank Gehry.

Então cabe a pergunta: é licito aceitar a “parametrização” como um novo “estilo”, uma vez que é mais uma ferramenta de projeto do que uma representação estética? E se este novo potencial dos computadores se identifica com as obras de Zaha, como aplicá-lo para resolver os agudos problemas econômico, sociais e ambientais que exigem uma arquitetura sustentável e voltada para os novos desafios que se apresentam nesta etapa do século 21?

A “parametrização” é um método que possibilita a elaboração do projeto com a ajuda de um complexo instrumental tecnológico e, como tal, deve ser dominado e aprofundado pelos alunos no ateliê universitário, com o cuidado de se evitar modismos e uma superficialidade formal dos projetos, que infelizmente ainda predominam nas escolas de arquitetura.

Neste sentido, as presenças de Zaha Hadid e Patrik Schumacher foram importantes para despertar ideias renovadoras e perspectivas futuras nas novas gerações de profissionais, sempre fundamentadas no trabalho sério, dedicado e consistente que a boa arquitetura exige.

notas

1
NE – Sobre Hadid, ver no portal Vitruvius: GUATELLI, Igor. O MAXXI e o delírio de Zaha Hadid em Roma. Projetos, São Paulo, 11.129.03, Vitruvius, set. 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.129/4043>.

2
NE – Sobre Schumacher, ver no portal Vitruvius: LIMA, Beatriz de Abreu e; SCHRAMM, Mônica. Patrik Schumacher. Entrevista, São Paulo, n. 04.013.01, Vitruvius, jan. 2003 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/04.013/3339>.

3
NOBRE, Ana Luiza. Hadid e Schumaker no Fundão. Rio de Janeiro, Blog Posto 12, 01 abr. 2012 <http://posto12.blogspot.com.br/2012/04/5-hadid-e-schumaker-no-fundao.html>.

sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Cartaz do evento na FAU UFRJ com Zaha Hadid e Patrik Schumacher

Zaha Hadid e Patrik Schumacher no vestíbulo da FAU UFRJ
Foto divulgação

Público em mezanino e junto aos pilotis monumentais da FAU UFRJ, palestra Zaha Hadid e Patrik Schumacher na FAU UFRJ
Foto divulgação

Zaha Hadid e Roberto Segre
Foto divulgação

 

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