A propósito da espera de Kapoor para Inhotim, uma vez mais me veio à mente a sensação de perplexidade diante da obra Leviathan, apresentada há um ano em Paris, Grand Palais (1).
Lembrei mais uma vez porque foi, de fato, uma experiência memorável.
Durante dias acompanhei a extensa fila que se formava à frente do Grand Palais para ver Leviathan. Minha curiosidade era aguçada: nada tinha visto, de fato, deste também gigante das artes.
Filas, mesmo quando civilizadas, são desestimulantes. Mas, como é impossível evitá-las, decidi que não perderia essa oportunidade única, que, aliás, espero tenha sido a primeira de outras.
Era sábado, saí da estação mais próxima do metrô por volta do meio-dia e inexplicavelmente encontrei uma fila pequena, cordial e rápida. Tive sorte, ticket barato: voilá! Uma passagem estreita conduzia à Leviathan. Sem receios de sensações claustrofóbicas, precipitei-me atrevidamente para o seu interior: não sou dada a aventuras, sejam elas nas alturas ou nas catacumbas e afins.
Surpresa total. Estava nas entranhas da obra de Kapoor. Um gigantesco útero? O olhar buscava ao alto a luz que vinha filtrada por uma película avermelhada. Certo aconchego no grande ventre, no qual o som do burburinho das pessoas magnetizadas não impedia que a razão desse lugar à emoção. Que coisa! Pensamento sem razão! Fiquei por alguns minutos vagueando os olhos no sentido dos clarões de luz, assim como todos. Estamos sempre à procura da luz? Fascinados como pequenos insetos?
Ao sair, o encantamento se agigantou. Estava ao lado, à frente e abaixo de grandes berinjelas enlaçadas, cabaças extraordinárias em tons de violeta ou eram zepelins aterrissados? Sorria meio abobada diante daquela “coisa” enorme. As proporções colossais da obra tomavam todo o espaço interno do Grand Palais, na justa medida para dominar a cena.
O deslumbramento pela estrutura fazia a razão prevalecer sobre os sentidos. Mil perguntas chegavam: Como foi concebida? Como foi executada? Com quais materiais? Como foi insuflada? Quantas pessoas estiveram envolvidas no projeto? Quanto tempo para a montagem?
Eu e a leva de admirados espectadores tateávamos o colosso como pequeninos liliputianos. Incrível obra: dentro, só emoção; fora, a “razão encantada” querendo desvendar o fazer.
O que será que Kapoor prepara para nós? Grandes expectativas para 2013.
nota
1
Exposição Monumenta 2011 – Anish Kapoor: Leviathan, Grand Palais, Paris, de 11 de maio a 23 de junho 2011. Catálogo da mostra: Monumenta 2011 – Leviathan, Paris, Éditions de la Réunion des musées nationaux et du Grand Palais, 2011.
sobre a autora
Silvia Palazzi Zakia, arquiteta (FAU PUC-Campinas), doutora em História da Arquitetura (FAU-USP)