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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Octavio Lacombe faz um breve relato de algumas das apresentações do simpósio “Dinâmicas construídas: explorando a arquitetura que se transforma”.

english
A brief report of some talks held on the symposium “Building Dynamics: exploring architecture of change”.

español
Una breve reseña de algunas de las presentaciones del simposio “Construcción dinâmica: explorando la arquitectura del cambio”.

how to quote

LACOMBE, Octavio. Explorando arquiteturas que se transformam: um breve relato. Drops, São Paulo, ano 13, n. 068.01, Vitruvius, maio 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.068/4733>.


Media TIC, de Enric Ruiz-Geli (Cloud-9). Barcelona
Foto Matt Clark [Wikimedia Commons]


Foi realizado no último fim de semana de abril, o simpósio “Building Dynamics: exploring architecture of change”. A designação do simpósio pode ter várias interpretações e traduções, discutidas inclusive pelos participantes do simpósio. Algumas das possíveis traduções para o português: “Construções Dinâmicas ou Construindo Dinâmicas: explorando arquiteturas da mudança ou explorando arquiteturas que se transformam”).

Realizado pelos professores Branko Kolarevich e Vera Parlac, integrantes do LID, ligado a Faculty of Environmental Design da Universidade de Calgary, a reunião de cerca de 140 profissionais e pesquisadores em arquitetura e áreas afins, aconteceu no Banff Centre, na pequena vila de Banff, dentro do parque nacional do mesmo nome localizado na província de Alberta, no Canadá.

Algumas das falas merecem destaque, começando pela de David Leatherbarrow. Professor de história e teoria da arquitetura na Universidade da Pensilvânia. Leatherbarrow é autor de vários livros, entre eles “On weathering: the life of buildings in time”, que tem como subtítulo “a vida dos edifícios após sua construção”. Sua fala foi mais uma vez sobre o tempo e as transformações da arquitetura, dos edifícios. Ao passo que a arquitetura deseja permanecer, essa continuidade não ocorre sem mudanças. Ele chama a atenção para três tempos que incorrem na obra de arquitetura. Primeiro, o tempo do mundo, do calendário, dos ciclos, das estações, e as transformações que a edificação sofre no decorrer de sua existência. Segundo, o tempo do projeto, da produção e da construção. Talvez aqui residam as maiores transformações no âmbito da arquitetura, com a possibilidade de carregar nos projetos todas as informações necessárias para sua realização (sistemas BIM). Por fim, o tempo da experiência da arquitetura, da relação das pessoas com os espaços que pode alterar tanto espaços como pessoas.

Em seguida falou Robert Kronenburg, professor da Universidade de Liverpool, especialista em arquiteturas flexíveis, portáteis, transportáveis, moventes. Seu livro mais conhecido é “Flexible: architecture that responds to change” (Flexível: arquitetura que responde a mudanças), publicado em 2007. Sua premissa é de que a arquitetura deve ser tão flexível, tão adaptável e interativa como nós, humanos. Mostrando uma imensa variedade de soluções ao longo da história da humanidade, ele afirma que na atualidade, a boa arquitetura deve considerar e conter dispositivos que permitam pelos menos quatro importantes características: adaptação, transformação, interatividade e mobilidade. Atualmente Kronenburg desenvolve pesquisa sobre a história arquitetônica da música Pop.

Uma das estrelas do evento, Sir Peter Cook, um dos fundadores do Archigram, fez uma apresentação em que falou muito mais de relações humanas com os espaços construídos e muito menos de arquitetura do que se esperava. Atualmente integrante do CRAB, ele afirmou que, apesar dos tempos difíceis, é preciso encarar as situações reais respondendo criativamente. Mais atitude e menos pose, pode ser o resumo de sua fala. Ele fez duas importantes declarações: que ainda é fascinado por espaços metamórficos e que seu arquiteto preferido era Clorindo Testa, recentemente falecido.

Depois foi a vez de Skylar Tibbits. Professor do MIT e membro das organizações TED, Skylar desenvolve pesquisas procurando inscrever informações em materiais para constituir materiais auto-montantes. Seus trabalhos podem ser vistos no Self-Assembly Lab. Ele é daqueles arquitetos que mais parecem cientistas, levando a extremos os processos iterativos de experimentação, postura mais facilmente encontrada em laboratórios de física, química ou biologia. Suas experimentações envolvem colaborações com esses e outras ramos das ciências. O atual estágio de suas pesquisas impressiona e a possibilidade de contar com materiais auto-montantes no futuro próximo é instigante. Entre seus desafios está construir materiais na escala do edifício, que possam ser utilizados na construção civil. 

Trabalhando na escala da transformação urbana e no engajamento das pessoas em projetos públicos, Usman Haque apresentou sua visão otimista sobre o papel do design participativo no futuro das cidades. Haque projeta sistemas dinâmicos e responsivos (por falta de melhor designação em português). O que ele quer é dar às pessoas poder de escolha. Pessoas informadas e capacitadas para fazer escolhas podem interferir positivamente no espaço construído, transformando as cidades.

O inventor, engenheiro e artista visual, Chuck Hoberman ficou conhecido pela invenção da esfera de brinquedo que se expande e se contrai ao ser manipulada. Partindo do estudo do simples mecanismo da tesoura, ele está interessado em tudo o que pode ser transformável, mutável. Hoje tem projetos de diferentes aplicações de estruturas dinâmicas em edifícios, através da ABI, seu escritório. Seu objetivo é construir estruturas transformáveis na escala do edifício. Uma de suas realizações de maior visibilidade talvez tenha sido a mega tela expansível na turnê U2 360, em 2009.

Kas Osterhuis é velho conhecido daqueles que estudam arquitetura relacionada aos meios computacionais e digitais. Arquiteto reconhecido por suas obras instigantes, Osterhuis vem perseguindo a realização de uma arquitetura que funcione como o corpo humano, como um organismo, interagindo com o ambiente e com as pessoas. É o que ele chama de Hyperbody. Avesso a hiper-valorização das tecnologias envolvidas no projeto, ele utiliza códigos simples para realizar ele mesmo seus projetos, com orçamentos pequenos e reduzida mão de obra. Seu objetivo é que a arquitetura contenha emoção, que o edifício expresse emoções.

A última apresentação coube ao catalão Enric Ruiz-Geli. Arquiteto junto ao escritório Cloud-9, Talvez mais conhecido pelo edifício Media TIC em Barcelona, considerado um dos mais inovadores dos últimos anos. Inovador nos sistemas construtivos, nos materiais e nos dispositivos de conforto ambiental, nas tecnologias interativas e responsivas. Cada uma das fachadas é diferente e interage com o ambiente de maneira distinta. Em uma delas uma pele infla e desinfla por ação pneumática de acordo com a intensidade da luminosidade externa, sendo preenchida com nitrogênio, melhorando o desempenho ambiental da obra. Ruiz-Geli é um dos arquitetos que considera que a matéria dos arquitetos não é o desenho, o projeto em si, mas a informação. E diz ainda que arquitetos devem ser como um vírus, infectando a mudança nos modos de habitar e viver.

Das muitas ideias discutidas no simpósio, talvez fique a imagem de que as inovações em arquitetura acontecem no âmbito das explorações cientificas, sejam elas realizadas dentro das universidades, em escritórios de arquitetura ou em empresas privadas dedicadas a experimentar para inovar. Como num grande laboratório, é preciso experimentar para encontrar novas possibilidades para a realização de uma arquitetura que responda às demandas de um planeta cada vez mais urbanizado. Os resultados começam a aparecer.

sobre o autor

Octavio Lacombe é Arquiteto e Urbanista, doutor pela FAU USP, atualmente faz doutorado na Faculty of Environmental Design da Universidade de Calgary. Sua pesquisa é sobre o tempo na arquitetura: as várias manifestações do tempo e as diversas respostas da arquitetura.

Building Dynamics: exploring architecture of change [divulgação]

 

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