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drops ISSN 2175-6716

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Gabriela Celani, professora do curso de arquitetura e urbanismo da Unicamp, faz um balanço do Digital Darq, evento ocorrido em abril deste ano na Universidade de Coimbra, que discutiu vários aspectos da informática aplicada à arquitetura.

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CELANI, Gabriela. Digital Darq. Um encontro entre a teoria e a tecnologia. Drops, São Paulo, ano 15, n. 092.02, Vitruvius, maio 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.092/5514>.



De 27 a 30 de abril de 2015 foi realizado o evento Digital Darq, como parte das comemorações dos 725 anos da Universidade de Coimbra, uma das mais antigas e tradicionais do mundo. O evento, organizado por Jorge Figueira (1), Mauro Couceiro e Isa Clara Neves, teve como tema o encontro de gerações, e incluiu dois workshops, uma exposição dos trabalhos desenvolvidos por alunos da escola em disciplinas de modelagem, fabricação e projeto digital, e um colóquio, no qual foram reunidas ao menos três gerações de pesquisadores ligados à arquitetura digital.

Curiosamente, o workshop que atraiu mais participantes foi o de técnicas avançadas de renderização, oferecido pelo arquiteto Nuno Silva, que desenvolve trabalhos nessa área para escritórios de arquitetura em Portugal e no exterior. O segundo workshop foi oferecido por uma equipe liderada por Pablo Baquero, que é professor em diversas escolas de arquitetura em Barcelona, e teve como tema a modelagem paramétrica em Grasshopper aliada ao uso de um simulador de fenômenos físicos. A proposta foi projetar um espaço subterrâneo, em que a estrutura tivesse a forma de uma catenária inverstida. Ainda no período da manhã o professor Pau Sola Morales, atualmente professor de Teoria da Arquitetura e Técnicas de Representação na Escola de Arquitectura de Reus, Catalunia (filho do famoso arquiteto e professor Ignasi Sola Morales), falou sobre os sistemas formais e suas aplicações na arquitetura. Segundo seu modelo de inovação na arquitetura, o arquiteto precisa alternar momentos de racionalismo, em que faz uso de regras e de sistemas formais, com os de um certo empiricismo, em que propõe novos conceitos e os testa, em um processo de tentativa e erro.

O colóquio, realizado no dia 30, teve início com uma palestra (2) do prof. José Pinto Duarte, doutor pelo MIT e discípulo de William Mitchell, que dirigiu, nos últimos três anos, a Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. Duarte falou sobre a criação do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design, e sobre suas ações no sentido de estimular, a partir da pesquisa, a criação de patentes e de aplicações, por meio de incentivos, de orientação e da criação de uma incubadora de empresas na Faculdade. Em seguida, Duarte apresentou as pesquisas de seu grupo, voltadas em especial para aplicações da gramática da forma e para a personalização em massa da habitação, por meio do desenvolvimento de software. Seu colega Luís Romão, também professor da FAUL e também egresso do MIT, apresentou em seguida o desenvolvimento de um software de representação que utiliza a perspectiva cônica, ao invés da convencional, permitindo um tipo de visualização muito mais próximo ao dos croquis normalmente feitos por arquitetos nos estágiosiniciais do projeto.

José Pedro Sousa, professor da Escola do Porto, apresentou os trabalhos desenvolvidos por seus alunos, que mostram um forte impacto das novas tecnologias. Sousa, que desenvolveu seu doutorado sob orientação de José Duarte, apresentou também suas pesquisas mais recentes, com o uso de um braço robótico que está sendo utilizado para assentar tijolos e montar estruturas, à maneira do que vem sendo feito no laboratório Dfab, na ETH Zurich. Ele também mostrou alguns trabalhos desenvolvidos por sua empresa ReD (Research and Design), principalmente na área de instalações artísticas e stands, sempre com o uso da modelagem paramétrica e da fabricação digital.

Vasco Branco, professor da Universidade de Aveiro, apresentou um panorama da computação na arquitetura, mostrando como as tecnologias evoluiram, desde os anos 1980. Gabriela Celani, da Unicamp, única participante brasileira do evento, apresentou palestra intitulada “O futuro do emprego do arquiteto. Quão suscetível é nossa profissão à computerização?”. Celani citou estudos da área de economia do trabalho que estimam que em 20 anos cerca de 40% dos empregos nos Estados Unidos serão sibstituídos pelo computador, e analisou detalhadamente a profissão do arquiteto para estimar qual a probabilidade de perdermos nossos empregos, e o que podemos fazer a esse respeito.

No bloco seguinte três jovens pesquisadores apresentaram trabalhos práticos que vêm desenvolvendo: Pedro Varela, mostrou seus “iglus” feitos de blocos de cortiça cortados por fresadora de controle numérico segundo a técnica da estereotomia, Ana Maria Feijão descreveu o processo de produção, com corte a laser, de esculturas cenográficas para uma peça de teatro, e Brimet Silva, diretor do Digitalab, mostrou alguns projetos desenvolvidos para concursos de arquitetura com o uso de modelagem parmétrica e fabricação digital.

Mário Kruger, professor da casa, encerrou o evento, com uma palestra em que descreveu o projeto Digital Alberti e apresentou seus resultados. O projeto, desenvolvido ao longo de vários anos com financiamento da FCT, teve início com a tradução para o português do tratado de Arquitetura de Alberti, pelo próprio prof. Kruger. Em seguida, o mesmo tratado foi traduzido em regras visuais por uma equipe de pesquisadores de Coimbra e Lisboa, e que incluiu uma aluna de doutorado da Unicamp. Essas regras foram representadas por meio de modelos paramétricos e utilizadas na análise de obras de arquitetura de Portugal e do Brasil. Ao fim da palestra foi feito o lançamento oficial de um número especial da Joelho, a revista do Departamento, dedicado ao projeto Alberti Digital. Um detalhe interessante: esse número da revista traz todos os artigos em inglês, apontando para uma intenção de internacionalização do grupo de pesquisas e do próprio departamento.

Reflexões

Neste evento do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra, o encontro entre gerações de pesquisadores nos mostra que o pensamento e a representação computacionais não são questões recentes e muito menos questões superficiais para a arquitetura. As possibilidades abertas pelas tecnologia, como a modelagem paramétrica, a fabricação digital e os sistemas computacionais de análise de fenômenos físicos apenas facilitam um tipo de pensamento que já estava presente, de um modo, em Alberti, e, de outro, em Gaudi. No primeiro caso, como apresentado pelo prof. Mário Kruger, o tratadista italiano sistematizou a arquitetura clássica por meio de regras tão claramente definidas que era possível repetí-las a partir da leitura de seus algoritmos verbais, mesmo sem que seu tratade tivesse qualquer ilustração. Já no segundo caso, Gaudi extrapolou o método tradicional de projeto baseado em tipologias e utilizou representações que simulavam fenômenos físicos para encontrar formas inovadoras, como no workshop de Pablo Baquero oferecido durante o Digital DArq.

As reflexões extraídas deste evento coincidem com aquelas presentes no livro Algorithmic Aided Design, recentemente publicado por Arturo Tedeschi (2014):

“Apesar de suas limitações, o desenho tem sido o meio estável [de representação] na arquitetura ao longo dos séculos, e isso foi possível enquanto os arquitetos se baseavam na tipologia, isto é, o uso de soluções e sistemas tectônicos pré-concebidos e comprovados. O desenho convencional foi questionado pela primeira vez por uma nova abordagem, a “form-finding” – que apareceu na arquitetura no final do século XIX – a qual tinha como objetivo explorar estruturas novas e otimizadas, encontradas por meio de relaçoes complexas e associativas entre o material, a forma e a estrutura. Pioneiros como Gaudi (1852-1926), Isler (1926-2009), Otto (1925-) e Musmeci (1926-1981) rejeitaram a tipologia e olharam para os processos auto-formativos da natureza como uma forma de organizar os edifícios. (...) A pesquisa acadêmica e a prática profissional de vanguarda – tentando escapar das limitações de simples edicção dos programas [de CAD] – começou a explorar novas maneiras de manipular os software ‘a partir de dentro’, com o objetivo de encontrar soluções e formas ainda não exploradas  por meio da programação. Muitos projetistas logo perceberam que programas mais sofisticados permitiam gerenciar a complexidade além da capacidade humana, por meio de rotinas e procedimentos” (p.18-22, tradução livre).

notas

1
Ver entrevista com Jorge Figueira: CELANI, Gabriela. Entrevista com o professor Jorge Figueira. Sobre o evento Digital DArq e a tecnologia no ensino de arquitetura. Entrevista, São Paulo, ano 16, n. 062., Vitruvius, maio 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/16.062/5515>.

2
O vídeo desta e outras palestras serão postados em breve no site do evento: http://www.digitaldarq.info/.

sobre a autora

Gabriela Celani é arquiteta e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp.

Entrada de uma das salas de workshops
Foto Gabriela Celani

Sinalização do evento, cortada a laser
Foto Gabriela Celani

Os organizadores do evento: Prof. Jorge Figueira, diretor da escola, Isa Clara Neves e Mauro Costa
Foto Isa Clara Neves

Professor Mário Kruger na palestra de encerramento do evento, apresentando o projeto Alberti Digital
Foto Gabriela Celani

Trabalho exposto na mostra de projetos desenvolvidos pelos alunos
Foto Gabriela Celani

Professor Mário Kruger apresentando uma definição, em Grasshopper, de um modelo paramétrico de pilar albertiano
Foto Gabriela Celani

 

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