Pode até parecer estranho, mas, dentre tantas outras coisas, o Brasil é conhecido mundo afora como um grande produtor de animações, com crescente importância. Mesmo que você possivelmente não se lembre do último filme de animação brasileira que assistiu, são muitos os nossos feitos na área: foram brasileiros os que levaram para casa diversos troféus de Annecy, o maior festival de animação do mundo, os últimos três deles em rápida sucessão, além de uma grande coleção de prêmios internacionais, incluindo a indicação ao Oscar de O Menino e o Mundo, de Alê Abreu; nosso Anima Mundi é um dos eventos mais importantes da área e somos grandes exportadores de profissionais de animação para os grandes estúdios americanos como Disney, Dreamworks e Blue Sky, casos de Carlos Saldanha (diretor de Rio e A Era do Gelo), Rosana Urbes (animadora de Mulan), Fabio Lignini (animador de Como Treinar seu Dragão) e outros.
Nesse ano, 2017, comemoramos 100 anos da animação no Brasil – comemoração que passou praticamente invisível. Apesar de nossa rica história, a produção brasileira hoje contempla o esquecimento, como se ameaçou acontecer com diversos grandes nomes do cinema, da arquitetura e das artes plásticas brasileiras.
Um primeiro passo – pequeno, mas importante – para evitar que nossa história caia no ostracismo pode ser visto no projeto de pesquisa para o livro Trajetória do cinema de animação no Brasil, de Ana Flávia Marcheti. Percebendo a dificuldade de se obter informação sobre o assunto e o fato de que essa informação vinha, quando encontrada, de forma dispersa, Marcheti se dedicou por anos à pesquisa e curadoria, focando-se em criar um olhar sem o filtro estrangeiro dominante, compondo uma coletânea de pesquisas dos nossos cem anos de animação, incluindo material imagético e textual, entrevistas, fotogramas e análises.
Concluído há mais de um ano, o livro é uma iniciativa independente e sem fins lucrativos, e nunca foi publicado por falta de verba; há pouco mais de um mês, Marcheti iniciou, com a ajuda do animador e storyboarder GutoBR, uma campanha na plataforma Catarse exclusivamente para financiar a impressão do livro. Agora, para sair do esquecimento, o centenário da animação no Brasil depende apenas da colaboração coletiva dos amantes das artes em geral e da animação em especial.
nota
NA - A campanha de financiamento coletivo do livro Trajetória do cinema de animação no Brasil, de Ana Flávia Marcheti, está disponível no link: http://catar.se/animabr
sobre o autor
Caio Guerra, ao lado de sua irmã Helena, dirige a Irmãos Guerra Filmes, produtora independente brasileira que atua no mercado audiovisual. Os sócios se revezam na criação de roteiros e na fotografia e direção de seus projetos. Amantes do cinema, os irmãos trabalham juntos desde 2009, e abriram sua empresa em 2012.