Dirigentes da Universidade Federal de Minas Gerais foram levados com estardalhaço e manchetes para depor sobre um inquérito que corria sob sigilo de justiça.
As reações à arbitrariedade do ato, além do protesto, incluem várias perguntas.
Por que policiais portando fuzis e roupa de combate precisaram levar à força quem não havia sido convocado previamente a depor?
Se o processo corre em sigilo de justiça por que o delegado encarregado pode vazar a acusação de desvio de recursos, com valor e destinação?
Porque a juíza responsável autorizou uma ação que o próprio Ministério Público considerou desnecessária?
Não seria de se esperar que depois do suicídio do Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, preso, humilhado, proibido de entrar na Universidade que dirigia por um suposto desvio anterior à sua gestão, as atividades espetaculosas como essas, claramente dirigidas para a mídia, sofressem algum controle?
Infelizmente, o ataque às universidades não é de hoje. Desde o impeachment, a autonomia universitária, garantida expressamente pela Constituição, é letra morta para a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário. Junto com a presunção de inocência e outros direitos constitucionais.
Já sofreram violência ou ataque à autonomia universitária as reitorias das Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de Goiás, entre outros.
Não dá para ignorar que esses atos ditatoriais vem se somar às campanhas que igualam servidores públicos a privilegiados e ensino gratuito a injustiça social.
Difundir a imagem da universidade pública como ineficaz, abrigo de privilegiados e, agora, corrupta tem três objetivos claros: naturalizar o fim da liberdade de expressão, justificar a asfixia de recursos e implantar o ensino pago.
O Brasil vai pagar muito caro pela subordinação do consorcio golpista aos interesses do grande capital internacional na educação.
nota
NE - Publicação original: MARTINS, Carlos A. Ferreira. Quem quer acabar com a universidade pública? Jornal Primeira Página, São Carlos, p. 2.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.
biblioteca tempos temerários
Tempos Temerários é um projeto de Abilio Guerra e Giovanni Pirelli, produzido pela equipe do Marieta (portal Vitruvius + Irmãos Guerra Filmes + produtora Cactus), que visa ser um momento de debate sobre temas da atualidade, como um laboratório permanente para pesquisar técnicas, ações e ideias de resistência e transformação politica, social e cultural.
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