São Carlos perderá em breve 29 médicos. São os profissionais cubanos que, pelo programa Mais Médicos, traziam sua formação generalista e sua experiência em atenção primária e medicina preventiva para os setores mais carentes da nossa população.
Esse é o resultado de mais uma trapalhada do presidente eleito, que retribui assim a votação consagradora que recebeu dos são-carlenses.
Aqui haverá um agravamento da já precária atenção à saúde de quem não tem condições de pagar medicina privada. Para mais de 800 municípios em todo o país isso significará voltar a não ter nenhum médico.
Tão grave quanto o impacto dessa decisão na vida de milhões de brasileiros pobres talvez seja a aceitação irrefletida, por quem não necessita desses profissionais, dos argumentos usados para justificar essa decisão.
Quem diz de que o Programa seria fruto de uma opção ideológica do governo brasileiro em apoio à ditadura cubana, finge ignorar que o convênio é firmado por intermédio da Organização Pan-americana de Saúde. E que, por meio da OPAS, esses profissionais atuam mediante pagamento em 34 países da América do Sul, Oriente Médio e Ásia além de atuar gratuitamente em 27 países, sobretudo na África.
Dizer que a situação dos médicos cubanos seria análoga à escravidão é pura hipocrisia vindo de quem apoia a destruição da legislação trabalhista e recentemente ficou inconformado com o registro profissional das empregadas domésticas.
A diferença entre o valor pago pelo convenio e o recebido pelos médicos é proporcionalmente menor do que aquela entre o que você, leitor, paga à Unimed e o que os nossos médicos recebem por consulta ou procedimento. Reclamar de um e não do outro é, aí sim, pura ideologia.
O presidente eleito ainda caprichou ao dizer que não conhecia nenhuma autoridade atendida pelos médicos cubanos. Esse argumento é verdadeiro. Todos sabemos que eles só usam o Einstein e o Sírio Libanês.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.