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drops ISSN 2175-6716

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Carlos A. Ferreia Martins, professor do IAU USP São Carlos, comenta a relação incestuosa entre a indústria privada da guerra e a crise atual da Ucrânia.

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PORTAL VITRUVIUS. Os impérios e os patos, mancos ou não – 3. Drops, São Paulo, ano 22, n. 173.01, Vitruvius, fev. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/22.173/8416>.


Império em crise
Fotomontagem AG


Uma das coisas que o fenômeno BBB põe em evidência é a compulsão pela torcida. Não tenho nenhum elemento para dizer que esse seja um fenômeno exclusivo do Brasil. É provável que seja mais universal.

Mas é extremamente raro que alguém possa acompanhar o curiosamente chamado reality show pelo prazer de ver. Parece que é preciso torcer, se identificar, se alinhar na defesa ou no ódio a protagonistas ou grupos. O que, em se tratando da multimilionária atração, não parece acarretar prejuízos maiores do que um balde na cabeça de alguém ou uma carreira de influencer ou cantora pop que derrapa por cálculos equivocados.

Essa reflexão, do terreno das inutilidades aleatórias, me ocorre a partir da novela (ou seria um reality show num sentido mais preciso?) das “invasões” da Ucrânia. Invasões entre aspas e no plural porque parece evidente que há várias.

A mais presente é a que tem frequentado o noticiário da nossa grande mídia e sobretudo da grande mídia norte-americana, com sua enorme capacidade de influenciar as pautas da periferia do capitalismo.

Recente artigo publicado na revista New Yorker chamava a atenção para o fato que de que os grandes veículos da mídia impressa norte-americana, especialmente o New York Times, Washington Post e, sobretudo, o Wall Street Journal, atuam como porta-vozes do complexo industrial militar e das grandes corporações privadas envolvidas no lucrativo negócio das guerras terceirizadas.

É bom não esquecer que a desastrosa retirada do Afeganistão não trouxe prejuízos apenas para a já combalida administração Biden. As chamadas “sociedades militares privadas”, das quais a famosa Blackwater é apenas a ponta do iceberg, chegaram a empregar naquele país em torno de 150 mil mercenários, o que representava 70% do pessoal norte-americano em terra.

A interessante série de televisão, Homeland, baseada em original israelense, mostra de forma clara a permanente relação incestuosa entre essas multinacionais da guerra privatizada e os serviços de inteligência “oficiais”.

O fato é que o tal complexo industrial militar não vive apenas de fabricar e vender armas. É preciso manter empregado esse enorme contingente do setor de “serviços”.

Voltando à Ucrânia, todo o noticiário nos leva a “torcer” pelo “mundo livre” ou pelo direito à autodeterminação do “povo ucraniano” diante da ameaça da invasão russa que há semanas, a mídia e os porta-vozes do governo estado-unidense insistem em qualificar como iminente. Certamente serão minoritários os que torcem por um Putin elevado a herói da resistência contra o imperialismo moribundo do Ocidente.

Seria mais prudente avaliar a possibilidade de que nesse Big Brother planetário não haja bonzinhos nem heróis. E que num período histórico marcado pelo declínio econômico dos EUA, que ainda são a grande potência militar do planeta; pela ascensão tecnológica e econômica de uma China que abriga 1,4 bilhões de pessoas e caminha para ser o maior PIB e por uma Rússia que amarga as dificuldades de um ex império, humilhado e ameaçado pela instalação de mísseis nas suas fronteiras, talvez não exista final feliz.

E também não adianta a tentação de torcer pela “vítima”. Pelo menos não antes de lembrar que o regime “pró-ocidental” instalado a partir de 2014 tem se apoiado cada vez mais em grupos neonazistas infiltrados no Estado e no Exército ucranianos.

Em lugar de escolher por qual dos brothers ou sisters torcer, seria mais interessante estar bem informado. O que não é simples num país em que cobertura internacional isenta e de qualidade passou a ser uma raridade.

sobre o autor

Carlos Ferreira Martins é Professor Titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.

 

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