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drops ISSN 2175-6716

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Carlos Martins, professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos, comenta imagens marcantes das comemorações do bicentenário da independência do Brasil.

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MARTINS, Carlos A. Ferreira. Cotas, inclusão e justiça social II. Independence day. Drops, São Paulo, ano 23, n. 180.03, Vitruvius, set. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/23.180/8581>.


Revista naval da Marinha brasileira em comemoração ao Bicentenário da Independência, Baía de Guanabara, Rio de Janeiro
Foto Tânia Rêgo [Agência Brasil]


As imagens mais marcantes da semana, até a morte de Elizabeth II, que tende a ocupar todos os espaços mediáticos, eram uma foto de Lola Ferreira publicada no UOL e o palanque em que o espertalhão da Havan dividia a cena com o casal presidencial se beijando ao coro de “imbrochável”.

Na primeira, oito jovens negros pendurados nas janelas de um ônibus, vaiam e mostram o dedo médio para a motociata que o presidente convocou em seu apoio no Sete de Setembro.

A força da foto, que viralizou, está no contraste entre os jovens, a maioria sem camisa, de atitude e expressão decididos, fazendo o tradicional gesto dedicado aos desafetos, e as quatro figuras em primeiro plano, das quais se sabe apenas que são duas mulheres na garupa de dois homens ao guidão de motos potentes (sic) e caras.

Estes, naturalmente, ostentam alguma peça verde e amarela cuja contiguidade a coletes com inscrições de Harley-Davidson e Chapter Brasil parece ter sido tão naturalizado quanto a figura que ocupa a presidência bater continência para a bandeira dos Estados Unidos ou de Israel, inaugurando assim um novo capítulo na história do patriotismo.

A foto viralizou e para muitos seria a síntese perfeita do Brasil de hoje. Jovens negros descamisados andando no precário transporte coletivo que se insurgem contra a classe média alta que se considera a dona do Brasil e de suas cores.

Para reforçar a compreensão de que esta foto resume a tão falada polarização que os mercadores de ilusões da terceira via prometem superar, notícias e vídeos mostram que minutos depois da cena eternizada na foto de Lola Ferreira, integrantes da tropa de choque pararam o ônibus e obrigaram os garotos a descer e revistaram suas mochilas e celulares.

Os policiais, que não é excessivo imaginar como admiradores da liberação geral das armas e eventuais compradores de algum dos best sellers que incorporam em seus títulos a palavra “Foda-se”, pareceram ver no singelo e popular gesto do dedo médio ereto uma ameaça à ordem pública digna da intervenção policial.

Não deixa de ser interessante que no contexto da disputa semiótica entre o indicador e o polegar fazendo Arminha e os mesmos indicador e polegar fazendo o L, tenha ressurgido do inconsciente popular o dedo ereto, em involuntário contraponto à necessidade freudiana de acompanhar o beijo presidencial com o coro de “imbrochável”, que tanto trabalho vem dando aos correspondentes internacionais.

Sobre a outra cena-síntese da usurpação do feriado nacional, que mobilizou o velho de verde, a receptora dos cheques do Queiróz e o dublê de presidente, a única observação que resta fazer depois dos rios de pixels gastos nas redes sociais é que eles sabem muito bem o que estão fazendo e tem obtido razoável sucesso.

Antes mesmo que a velha senhora tenha encontrado seu fim no amado castelo de Balmoral, o coro saudando as virtuais qualidades viris do personagem que fez da bufonaria uma arte atualizada já havia atingido o objetivo de desviar a atenção dos 51 imóveis comprados em dinheiro vivo e da continuidade das múltiplas ameaças às eleições naquele país em que já não há mais corrupção, a mídia reclama que o PT ainda não fez a sua autocrítica e o velho do outro supermercado repete que a política econômica de Guedes é boa embora ele não saiba se comunicar direito.

O que tudo isto tem a ver com o título de nossa coluna? Bem, podemos começar nos perguntando o óbvio: qual dos dois segmentos sociais representados na foto terá tido acesso à chamada “educação superior”? Quem terá vindo das escolas públicas da zona norte e quem das “boas” escolas privadas da Zona Sul?

Mas também podemos – e devemos – nos perguntar se o fato de que o dublê de presidente tenha clara vantagem na intenção de voto dos mais escolarizados não nos obriga a ir além do surrado lugar comum de que a educação de terceiro grau é condição de consciência cidadã ou civilidade.

Teremos que voltar a esse tema.

sobre o autor

Carlos Alberto Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.

 

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