Roberto Conduru: O sr. disse numa outra ocasião que, durante o seu período de formação profissional, sofreu o impacto da repercussão internacional da arquitetura moderna do Brasil. No início dos anos 1990, o sr. esteve no país e pode conhecer parte dessa produção, bem como parte da produção contemporânea brasileira. Como o sr. avalia a arquitetura do Brasil?
Alan Colquhoun: Eu admiro muito a arquitetura brasileira dos anos 1930 a 1950, particularmente Affonso Eduardo Reidy e Jorge Machado Moreira, além da obra inicial de Niemeyer em seu desenvolvimento da linguagem de Le Corbusier. Mas não sou um admirador da obra de Niemeyer em Brasília, que me parece vistosa (porém vazia) e teatral, em comparação com seus primeiros trabalhos.
RC: Qual é a importância de Brasília?
AC: Brasília é um belo símbolo político. Mas ela é socialmente falha, uma vez que exclui sua própria população trabalhadora. O que pretendia ser um símbolo da emancipação nacional tornou-se uma espécie de área recreativa para alojar a classe administrativa.
RC: Brasília é uma cidade tombada nacional e internacionalmente: alguns prédios e espaços, bem como os princípios urbanísticos estão preservados e não podem ser alterados. Como o sr. vê essa idéia de preservação de uma cidade modernista?
AC: A rigidez do plano ao qual o sr. se refere parece ter sido o resultado daquele avassalador objetivo político. A “Cidade para três milhões de habitatantes” de Le Corbusier, de 1922, sofria da mesma rigidez. Mas ele corrigiu isso quando projetou a Ville Radieuse. Mesmo nos termos limitados da ortodoxia corbusiana, entretanto, o plano de Costa parece retardatário. Toda a idéia de “preservar” uma cidade parece ser contra a ideologia do modernismo, segundo a qual a “vida” era mais importante do que a arte. A contradição entre o simbólico e o real, que foi tão importante na retórica do modernismo (poderia ser chamada de “a retórica da não-retórica”), torna-se evidente quando o objeto idealizado é esse artefato essencialmente incontrolável, a cidade.