Manoel de Oliveira: as casas de uma vida
Ana Sousa Dias
Foi no Japão que festejou, em Dezembro passado, os 95 anos. Consegue agora arranjar um dia para conversar, entre a filmagem e a montagem de mais um filme – Quinto Império, baseado numa peça de teatro de José Régio, filmado no Convento de Tomar. Aceita falar de casas, lugares, objectos, cenários, e recebe-nos no apartamento onde vive, no Porto. Na verdade, são dois apartamentos, em pisos diferentes e separados por um longo corredor que Manoel de Oliveira percorre com uma leveza que desmente a idade. Num dos andares fica a casa de descansar e dormir, no outro estão o escritório e o “restaurante”, como diz D. Isabel, a mulher vivíssima e encantadora com quem partilha a vida há 63 anos. Nem a vista ampla, com o mar ao longe, os compensa da perda da casa projectada por José Luís Porto onde viveram 40 anos, na Vilarinha, vendida por absoluta necessidade na sequência da perda da fábrica de passamanarias herdada do pai. Povoada de plantas extraordinárias, criadas por D. Isabel , e de livros, quadros, fotografias, fica num prédio de apartamentos recente, o oposto da casa filmada já em ruínas no “Porto da minha Infância”. Não estudou arquitetura mas é doutor honoris causa pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, a cidade onde nasceu e à qual ofereceu o seu acervo. Um outro apartamento guarda os numerosos caixotes onde tudo está guardado, à espera da assinatura de um contrato que a Câmara Municipal do Porto tarda em estabelecer – só depois Manoel de Oliveira autorizará a transferência de tudo para a futura Casa do Cinema, projetada pelo arquiteto que ele próprio escolheu – Eduardo Souto Moura.