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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
José Veríssimo Teixeira da Mata e Katsirina Handrabura entrevistam o arquiteto Oscar Niemeyer, que completa cem anos este ano, sobre a relação do artista com as suas criações e com o tema da cultura

english
José Veríssimo Teixeira da Matta and Katsirina Handrabura interview the architect Oscar Niemeyer, who turns one hundred years this year, on the relationship between artist and his creations and with the theme of culture

español
José Veríssimo Teixeira da Mata y Katsirina Handrabura entrevistan al arquitecto Oscar Niemeyer, que cumple cien años este año, sobre la relación del artista con sus creaciones y con el tema de la cultura

how to quote

MATA, José Veríssimo Teixeira da; HANDRABURA, Katsirina . Oscar Niemeyer. Entrevista, São Paulo, ano 08, n. 031.01, Vitruvius, jul. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.031/3294>.


Centro Administrativo de Minas Gerais, Belo Horizonte. Arquiteto Oscar Niemeyer, 2007

José Veríssimo Teixeira da Mata e Katsirina Handrabura: Sua obra é considerada genial em todo o mundo. O que seria para o Senhor um gênio em arquitetura?

Oscar Niemeyer: Considero haver certo exagero nessa avaliação... Não tenho nenhuma definição fechada sobre o que seria um gênio em arquitetura.

JVTM/KH: Brasília, com certeza, detém algumas de suas experiências arquitetônicas mais conhecidas e importantes. No momento da construção de Brasília, quando todo um conjunto de projetos arquitetônicos foi colocado sob sua responsabilidade, o Senhor imaginava que se construiria uma cidade como alguma outra, ou o Senhor tinha consciência de que se estava fundando algo completamente novo? Brasília é para o Senhor uma cidade “ideal”?

ON: Brasília expressa – talvez de forma exemplar – o momento de entusiasmo que o Brasil estava vivendo na década de 1950. Entusiasmo que se deve associar à figura singela, de um verdadeiro empreendedor, que foi o presidente Juscelino Kubitschek. A construção da nova capital foi uma aventura, mas ela possibilitou a expansão e a integração de áreas importantes do interior do País. Passados mais de 40 anos, Brasília se converteu numa metrópole capitalista a exibir os problemas mais graves que afetam as grandes capitais brasileiras. Ela revela os desacertos que é possível associar ao modelo de desenvolvimento econômico adotado no Brasil. Assim sendo, não posso reconhecer em Brasília uma cidade “ideal”.

JVTM/KH: Como o Sr. avalia a idéia de se ter mudado a capital do Brasil para o centro do país? Valeria, por exemplo, se mudar a capital da Rússia para o centro geográfico do país?

ON: Foi uma decisão corajosa do presidente Juscelino Kubitschek. Não tenho conhecimentos suficientes sobre a Rússia para responder a sua outra indagação. Infelizmente conheci Moscou muito rapidamente, bem pouco tempo depois do final da Segunda Guerra Mundial.

JVTM/KH: Como o Sr. avaliaria o desenvolvimento da arquitetura atual, ele estaria na direção correta? O Sr. poderia citar algum jovem arquiteto cujo trabalho lhe agrada?

ON: Evito sempre criticar colegas. Existem tendências tão variadas na arquitetura atual que é, a meu ver, problemático fazer um juízo mais crítico a esse respeito. Continuo a defender, com o pensamento voltado para os jovens arquitetos, duas idéias básicas – a de que arquitetura é invenção (e, sob tal aspecto, todo arquiteto moderno deve seguir a sua intuição criadora, em busca da forma diferente), e a noção de que existe um mundo ilimitado de possibilidades a explorar que o concreto armado oferece aos arquitetos. Por que não explorá-las e encontrar outros caminhos para se alcançar o espetáculo arquitetural?

JVTM/KH: Quais dos seus últimos projetos o Sr. mais aprecia e trabalha o Senhor agora em algum projeto?

ON: É muito difícil responder a essas questões. São tantos os projetos recentes – no Brasil e no exterior. Eu poderia, ao menos, lembrar dois trabalhos que me agradam em particular, como o centro cultural projetado para Avilés, na Espanha, e o Centro Administrativo do Governo do Estado de Minas Gerais, a ser construído em Belo Horizonte. Nesses e em todos os demais eu pus todo o meu entusiasmo; foram todos elaborados com o maior interesse e carinho.

Centro Administrativo de Minas Gerais, Belo Horizonte. Arquiteto Oscar Niemeyer, 2007

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