José Veríssimo Teixeira da Mata e Katsirina Handrabura: Sua obra é considerada genial em todo o mundo. O que seria para o Senhor um gênio em arquitetura?
Oscar Niemeyer: Considero haver certo exagero nessa avaliação... Não tenho nenhuma definição fechada sobre o que seria um gênio em arquitetura.
JVTM/KH: Brasília, com certeza, detém algumas de suas experiências arquitetônicas mais conhecidas e importantes. No momento da construção de Brasília, quando todo um conjunto de projetos arquitetônicos foi colocado sob sua responsabilidade, o Senhor imaginava que se construiria uma cidade como alguma outra, ou o Senhor tinha consciência de que se estava fundando algo completamente novo? Brasília é para o Senhor uma cidade “ideal”?
ON: Brasília expressa – talvez de forma exemplar – o momento de entusiasmo que o Brasil estava vivendo na década de 1950. Entusiasmo que se deve associar à figura singela, de um verdadeiro empreendedor, que foi o presidente Juscelino Kubitschek. A construção da nova capital foi uma aventura, mas ela possibilitou a expansão e a integração de áreas importantes do interior do País. Passados mais de 40 anos, Brasília se converteu numa metrópole capitalista a exibir os problemas mais graves que afetam as grandes capitais brasileiras. Ela revela os desacertos que é possível associar ao modelo de desenvolvimento econômico adotado no Brasil. Assim sendo, não posso reconhecer em Brasília uma cidade “ideal”.
JVTM/KH: Como o Sr. avalia a idéia de se ter mudado a capital do Brasil para o centro do país? Valeria, por exemplo, se mudar a capital da Rússia para o centro geográfico do país?
ON: Foi uma decisão corajosa do presidente Juscelino Kubitschek. Não tenho conhecimentos suficientes sobre a Rússia para responder a sua outra indagação. Infelizmente conheci Moscou muito rapidamente, bem pouco tempo depois do final da Segunda Guerra Mundial.
JVTM/KH: Como o Sr. avaliaria o desenvolvimento da arquitetura atual, ele estaria na direção correta? O Sr. poderia citar algum jovem arquiteto cujo trabalho lhe agrada?
ON: Evito sempre criticar colegas. Existem tendências tão variadas na arquitetura atual que é, a meu ver, problemático fazer um juízo mais crítico a esse respeito. Continuo a defender, com o pensamento voltado para os jovens arquitetos, duas idéias básicas – a de que arquitetura é invenção (e, sob tal aspecto, todo arquiteto moderno deve seguir a sua intuição criadora, em busca da forma diferente), e a noção de que existe um mundo ilimitado de possibilidades a explorar que o concreto armado oferece aos arquitetos. Por que não explorá-las e encontrar outros caminhos para se alcançar o espetáculo arquitetural?
JVTM/KH: Quais dos seus últimos projetos o Sr. mais aprecia e trabalha o Senhor agora em algum projeto?
ON: É muito difícil responder a essas questões. São tantos os projetos recentes – no Brasil e no exterior. Eu poderia, ao menos, lembrar dois trabalhos que me agradam em particular, como o centro cultural projetado para Avilés, na Espanha, e o Centro Administrativo do Governo do Estado de Minas Gerais, a ser construído em Belo Horizonte. Nesses e em todos os demais eu pus todo o meu entusiasmo; foram todos elaborados com o maior interesse e carinho.