JZ: No memorial do Plano Piloto de Brasília, o Sr estabelece esses princípios gerais para os edifícios habitacionais, denominando-os por “blocos”. Essa menção era uma sugestão à adoção generalizada dessa tipologia?
LC: Para não ficarem nas quadras edifícios muito pequenos, individualizados, só com um acesso, me parecia que deviam ser geminados, três ou quatro, conforme as possibilidades de formar então um bloco contínuo e com vários acessos. Pareceu-me que agrupando-os teria mais liberdade de espaço entre os edifícios. A quadra então teria um certo número desses blocos geminados, conjuntos geminados que eu chamei de “blocos”.
JZ: Porque a média desses edifícios é de onze por quadra?
É o que resultou mais ou menos, e ficou estabelecido como se fosse um tabu, eu não tinha esse propósito.
JZ: Como o Sr. Previa os espaços abertos?
LC: Gostaria que fossem até mais livres, mais a moda inglesa, aqueles parques ingleses que têm o chão gramado sem definir muitos caminhos, ter alguns encaminhamentos naturais. O gramado é um lugar mais para uso, não um gramado daquele tipo “não pise na grama“, ao contrário “pise na grama”, um gramado para você usar, como se fosse um tapete verde, as pessoas sentam, põem suas cadeiras ai se quiserem, deitam, ficam ali, usam, brincam a vontade! Se o pisoteio gastasse certa área, não teria importância, depois recuperava-se. Mas começaram logo a urbanizar, a fazer caminhos, com muito espaço asfaltado sem necessidade.
Inclusive as crianças aproveitam bem os espaços abertos, protegidos pelas árvores, elas brincam, correm...
Livres, é ... (pausa). Sem ser aquela coisa murada, aquela coisa fechada, com guarda de entrada, onde você tem que mostrar passaporte. É uma coisa nobre por causa do espaço existente. As crianças ficam naturalmente controladas pelo fato dos prédios e do enquadramento verde definir a área, e pela própria presença dos porteiros que conhecem as famílias que estão ai, independente de qualquer outra fiscalização mais rigorosa, de modo que a sensação de liberdade é total.