JZ: Existem filiações entre os blocos habitacionais e as unidades de habitação projetadas por Le Corbusier, como a Unidade de Marselha?
LC: Aquela proposição de Marselha e mais algumas três outras, eu acho, inclusive na Alemanha. Aquilo era uma concepção abrangente, era uma coisa muito coletiva, estabelecendo prédios bastante grandes, com muitas unidades, para que tivessem uma espécie de vida autônoma.
Na Unidade de Habitação de Marselha fora prevista uma rua comercial, era uma rua interna dentro do edifício. Como o prédio era muito grande, tinha muitos apartamentos, era uma solução para propiciar uma chamada “Rua-corredor” para dispor o comércio; de modo que com o mau tempo no inverno, todo aquele frio, você não teria a necessidade de ir para fora, pegar neve, chuva. Teria comércio, padaria e todas as facilidades de bairro no próprio prédio, essa era a ideia.
Além dessa rua comercial, os edifícios tinham muros sempre bastante altos na cobertura, para permitir que servissem de áreas de recreio das crianças, uma escola, um jardim de infância, de modo que deixam o resto então muito livre, a ideia dele sempre foi a criação de um espaço bastante livre.
JZ: E do Sr.?
LC: Eu reduzi à uma escala mais individualizada, mais rasteira, é mais próxima de nossa tradição digamos, e isso se estabeleceu nas quadras assim limitadas a seis pavimentos.
Cada conjunto de quatro quadras formaria uma espécie de área de vizinhança, com as facilidades de comércio e de interesse comunitário: cinema, igreja. Essas áreas de vizinhança iriam se suceder ao longo dos 6 Km, como se fosse uma cadeia, um colar, uma corrente, você ia passando pelas unidades de vizinhança, mas cada uma com sua autonomia relativa. Estabelecer a comunhão ai num ponto.
Passa-se de uma quadra para outra e tem-se as interquadras que são faixas intermediarias de 300m por 80 m, separando umas quadras das outras. Essas interquadras são destinadas precisamente a implantar jogos, clubes, recreios.
Aquelas que estão contíguas às vias de acesso puderam servir para um cinema, uma igreja ou qualquer coisa assim de uso mais coletivo, e as restantes, as mais profundas, para a criação de grupos mais recreativos.
JZ: Sua intenção era ter vários tipos de unidades nos blocos habitacionais, para diversos tipos de moradores?
LC: Sempre sugerindo que cada área de vizinhança, composta de quatro quadras, tivesse dois ou três padrões de apartamentos diferentes, para permitir justamente, como numa cidade ideal, o convívio da escola, o convívio normal de populações de vários graus econômicos diferentes.
O esquema de implantação da cidade permitia prever esses serviços: escolas, centros de saúde e assistência social, servindo umas três unidades de vizinhança, teriam esses centros como se fossem bairros.
Escolas primárias em todas as quadras e escolas secundárias para cada conjunto de quatro quadras, uma igrejinha, o clube também. Auto-suficiente. Estabelecer uma vida comunitária agradável. Esses serviços foram muito bem projetados, mas depois abandonaram, as pessoas que tomaram conta da cidade não tomaram partido disso.