Felipe Contier: Mike Davis, em seu livro Ecologia do medo, apresenta um impressionante painel da história natural do território norte-americano, cuja paisagem se vê modificada ao longo dos séculos e milênios por constantes enchentes, incêndios e terremotos. Sob a ótica humana, estas ocorrências naturais são percebidas como desastres naturais. Como explicar e ultrapassar esta dicotomia?
Álvaro Rodrigues dos Santos: Toymbee, em seu excelente A humanidade e a mãe terra, nos dá uma visão mais ampla das relações do homem com a Terra e do significado catastrófico decorrentes de uma visão utilitária que o homem vem tendo, ao longo de suas diversas civilizações, do planeta. Há uma relação direta entre a forma como o homem vê seu próprio semelhante e a forma como lida com a Natureza. A atitude pessimista e catastrofista, no entanto, não nos leva a nada. Pior, leva-nos à inação. Entendo que, com mil dificuldades, a consciência ambiental vem se impondo até como saída econômica para empresas e países. E como não acredito em uma vocação coletiva suicida de nossa atual civilização, penso que teremos chance de nos livrarmos de catástrofes gerais via cuidados e ações preventivas. Ainda que muitos venham a aderir a esses cuidados por interesses econômicos mediatos, infelizmente.
FC: Jared Diamond, em seu livro Colapso, nos mostra como a interação inadequada entre fatores humanos e ambientais produziu o colapso econômico de diversas civilizações ao longo da história. Há alguma saída para a atual civilização globalizada?
ARS: Essa questão está abordada na anterior. O fato é que os limites ambientais do planeta apresentaram-se à espécie humana antes que essa atingisse um estágio civilizatório espiritual maior. Em essência ainda nos comportamos como tribos que disputam mortalmente territórios necessários à sua sustentação. E ainda o homem se comporta como o lobo do homem. Mas fazer o que? Esse é um fato que nos é dado, imutável a curto e médio prazos. Ou seja, o esforço em garantir que o planeta continue sendo capaz de prover a sustentação da espécie humana tem as cores de uma odisséia civilizatória, e deverá ser vitorioso mesmo antes do amadurecimento espiritual pleno da Humanidade. Aliás, esse esforço será, ele próprio, elemento precioso para esse pretendido amadurecimento.