
"O ser urbano no caminho de Nuno Portas" no encontro mundial de artes Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura [divulgação]
Nicolas Braga / André Luiz Pinto: Como vê o momento atual da cidade do Rio em relação a realização aos megaeventos esportivos previstos?
Nuno Portas: Espero que o Rio (e não só) aproveite a oportunidade para melhorar a cidade para além dos “jogos” (e do que eles arrastam), mas também que o tal “maior número” não seja só alvo da segurança, mas possa melhorar os seus habitats sem os empurrar para longe.
NB / ALP: Observa-se constantemente críticas às decisões tomadas em relação aos investimentos destes megaeventos. Considera que pode existir um descompasso grande entre o que se pretende fazer e o que a cidade efetivamente precisa?
NP: A única precaução que vos posso deixar é a que em situações semelhantes, o pós-evento desta dimensão tem deixado marcas negativas por excesso de “novidades” ou de demolições evitáveis, para além dos gastos desproporcionados.
NB / ALP: Considera que talvez falte uma perspectiva mais alargada, metropolitana? Aliás, como a experiência europeia pode contribuir com este tema no Brasil?
NP: A questão “metropolitana” é insatisfatória, há muitas décadas, nas regiões de maior atração demográfica, desigualdade social, dispersão de atividades e, em consequência, dispersão territorial. Os municípios que compõem essas áreas metropolitanas (AMs) não têm as mesmas características das restantes: os seus habitantes não habitam, trabalham, estudam e desempenham outras atividades, viajando entre os municípios da AM, embora só voltando a um deles. Aqueles que governam os sistemas de transporte que os ligam, as questões ambientais e econômicas, os serviços públicos de que se servem, etc., precisam desempenhar uma governança em dois níveis, a dos que ligam e as dos municípios. Esta é a razão administrativa; as outras são as das desigualdades gritantes que não se reduzem… Mas na Europa são ainda poucas as experiências de governo metropolitano.