Em busca de informações que pudessem subsidiar minha pesquisa de Doutorado “Competição e ícones urbanos - Arquitetura na cidade do sol e mar”, que estuda a cidade de Natal e suas características arquitetônicas marcantes, procurei o arquiteto Moacyr Gomes da Costa e solicitei que me recebesse para uma entrevista. De início, no primeiro contato telefônico, percebi certa relutância de sua parte em conceder a entrevista, talvez em função do seu estado de saúde ou, quem sabe, pelo seu afastamento cada vez maior das atividades profissionais. Na verdade, ao longo da entrevista, entendi que sua posição tinha como causa uma desilusão, um desencantamento com a cidade que o acolheu e com os recentes fatos que o colocaram como protagonista de uma polêmica envolvendo sua obra mais conhecida, o estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado – ou Machadão, como ficou popularmente conhecido –, demolido para a construção da Arena das Dunas, para a Copa de 2014. Encontrei-o em seu escritório no bairro de Nova Descoberta, na cidade de Natal, no dia 26 de março de 2013, com excelente disposição e muita vontade para contar aquilo que viveu e aprendeu ao longo de seis décadas de intensa atividade profissional e centenas de projetos realizados. Moa, como era chamado pelos colegas cariocas, projetou alguns dos prédios e monumentos mais conhecidos e significativos da cidade de Natal e do estado do Rio Grande do Norte. Dentre suas obras mais importantes construídas em Natal, devem ser citadas, além do Machadão: o Ginásio Poliesportivo Humberto Nesi – ou “Machadinho” (também demolido para a construção da Arena das Dunas); a Faculdade de Odontologia da UFRN; o Pórtico dos Reis Magos (com a colaboração do arquiteto Eudes Galvão Montenegro); a sede da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil); a Biblioteca Pública Estadual Luís da Câmara Cascudo; o Centro Administrativo do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (em parceria com o arquiteto Ubirajara Galvão); o edifício Barão do Rio Branco; e o edifício sede do DER/RN – Departamento Estadual de Estrada de Rodagens (em parceria com os arquitetos Daniel Holanda e João Maurício).
Esta entrevista precisa ser publicada para que os fatos relatados não caiam no esquecimento. É preciso registrar a obra de Moacyr Gomes antes que seus prédios e sua grande contribuição à arquitetura brasileira venham a ser vítimas, como parece ser agora uma rotina no país, de algum outro grande evento ou da mera especulação imobiliária.