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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Entrevista com o arquiteto Moacyr Gomes, que projetou, ao longo de seis décadas de atuação profissional, algumas das construções mais importantes edificadas na cidade de Natal, dentre as quais está o estádio “Machadão”, recentemente demolido.

english
Interview with architect Moacyr Gomes who, over six decades of professional experience, designed some of the most important buildings in Natal, among which we can find the recently demolished ‘Machadão’ stadium.

español
Entrevista con el arquitecto Moacyr Gomes, quien, a lo largo de seis décadas de trabajo profesional, ha construido algunos de los más importantes edificios de Natal, entre los que se encuentra el recientemente demolido estadio ‘Machadão’.

how to quote

BEZERRA BARBOSA, Luciano César. Entrevista com o arquiteto Moacyr Gomes. Entrevista, São Paulo, ano 14, n. 054.02, Vitruvius, maio 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/14.054/4757>.


Sede do Clube da Associação Atlética Banco do Brasil – AABB, Natal. Arquiteto Moacyr Gomes.
Foto Luciano Barbosa.

Luciano Barbosa: E sobre as construções atuais?

Moacyr Gomes: Então, eu acho que, do Modernismo na Ribeira, eu não tenho muito mais a acrescentar. Analisando o atual processo de ocupação do bairro, principalmente dos novos prédios que estão surgindo na ladeira da General Cordeiro de Farias, percebe-se um novo processo de ocupação do solo, desejável como forma de revitalização do bairro, porém com efeito negativo pela obstrução da visão paisagística, outrora muito bonita, vista por quem descia a ladeira. Em tudo existem os dois lados da moeda, mas, de qualquer forma, acho que esse processo provocará a tão sonhada revitalização da Ribeira. É claro que essa ocupação deverá ter rigoroso controle, mas é necessária, pois não é possível revitalizar o que não tem vida. Você tem que dar vida à Ribeira para tal fim.

LB: Talvez através da moradia?

MG: Justamente através da moradia, porque traz a farmácia, a mercearia, o supermercado, a escola e traz gente! Então a Ribeira hoje tem uma atividade comercial em estado de decadência e à noite fica abandonada e perigosa. Os entraves poderão ser a obstrução da paisagem ou o excesso de densidade demográfica, se tomar um caráter especulativo. Este é, sem duvida, um dos maiores problemas do crescimento urbano desordenado. Onde se podia fazer um prédio com 20 apartamentos estão construindo com 80. Isso gera outro problema, a mobilidade urbana. Então nós estamos vivendo uma cidade que lamentavelmente cresce de forma desordenada, e aí vai também a culpa dos próprios arquitetos e urbanistas, inclusive eu, que não estão se preocupando com a cidade. Ah, a mobilidade urbana! Aí, fecha canteiro e bota esse retorno algumas quadras mais na frente. Não consigo entender essa lógica, depois fecha-se de novo e coloca-se outro retorno noutras tantas quadras adiante, e depois mais adiante. Quer dizer, são essas coisas que as universidades estão negligenciando; têm que mostrar para que servem os retornos, as rótulas, como medir e direcionar os fluxos, enfim, mostrar as verdadeiras soluções técnicas para o problema e não medidas empíricas paliativas caras e inúteis. O que se está ensinando hoje nas escolas de arquitetura é mais voltado para a venda de móveis, de decoração, enfim, é o que dá alguma compensação financeira ao arquiteto, que deixa de ser um obreiro e passa a ser um vendedor de “grife”. E o que é pior, ironicamente, deu-se agora o título de Arquiteto e Urbanista. Ora, um período normal universitário não é bastante para fazer um urbanista, cuja atividade eclética é essencialmente multidisciplinar. Outra grave deficiência que o “ensino” brasileiro impôs aos arquitetos, reduzindo ou eliminando seus conhecimentos básicos de mecânica dos solos, resistência dos materiais, instalações domiciliares, cálculo estrutural, limitando o arquiteto a simples operador de AutoCad, ou um simulacro de “modista”, ou um simples decorador. Portanto, essa coisa não está fazendo bem ao arquiteto. Ressalvo: não pretendo diminuir a importância dos nossos arquitetos atuais, antes pelo contrário, quero realçar seus esforços no sentido de superar as deficiências do ensino, e conheço vários arquitetos jovens de muito boa qualidade, frutos de sua própria paixão e talento, porque, parodiando Noel Rosa: “ninguém aprende samba no colégio”. Mas convenhamos que, se o sambista nato tivesse preparação erudita, poderia ser melhor. Desculpe, a crítica pode não ser simpática, mas é pertinente. Acabei de apontar as causas e efeitos, na minha ótica, que precisam ser corrigidas, concluindo, ainda sobre a Ribeira, do ponto de vista histórico não tem mais nada. Estou me antecipando ao fato novo.

LB: Ainda sobre a primeira questão, o senhor vê algo marcante feito dos anos 1980 para cá, considerando a necessidade de atrair o turista?

MG: Nos anos 80, Natal tinha seus 400 mil habitantes, então o que vejo de marcante nessa nova tendência de Natal é, digamos, a Via Costeira. Era uma proposta, me parece, mais adequada para se utilizar a beleza paisagística e a orla no sentido do turismo. Teve um projeto muito bom feito por Luiz Forte Netto, de Curitiba, com nome fora de nossas fronteiras. Ele pegou os 10 quilômetros de Areia Preta até chegar ali no Guinza, projetou uma via acompanhando a topografia da área, os arrecifes, as falésias, integrada à paisagem, tinha até um horto florestal projetado para a fralda das dunas, projeto de Burle Max. Em vez de uma via expressa, projetou uma via de lazer e colocou três núcleos de ocupação. Me disse o professor Forte: “Olha, é fundamental que você tenha residências porque turismo é temporada, quando a temporada acaba, fica deserto, mas se tem gente morando, tem comércio local, escola etc., terá vida o ano todo”. Concordei totalmente, porém advertindo que para isto seria necessária a verticalização daqueles três setores e, por isso, o projeto sofreria forte oposição daqueles que se dizem ecologistas. Não deu outra. Como resultado do debate irracional, surgiu no Plano Diretor um regulamento estabelecendo um limite de altura em até 15m. Seria muito mais racional que tivéssemos três conjuntos de edificações verticalizadas a cada 2 ou 3 quilômetros intercalados, do que um paredão continuo de 15 metros de altura, sob alegação de preservar a paisagem. Algum ser humano é capaz de descortinar uma paisagem com um paredão de 15 metros à sua frente? Então esse é o defeito maior da Via Costeira, mas ela presta seu serviço, seu papel no processo. Foi melhor do que se tivesse ficado deserta, para virar uma favela. Infelizmente, deturparam o projeto original, por motivos que prefiro não discutir, mas ainda é possível salvar a outra metade desocupada. Lembro que, por volta de 1995/1996, o Governador Garibaldi Alves me pediu opinião para uma proposta do Exército no sentido de permutar a área da antiga escola de pilotagem do Aero Clube, entre a Av. Roberto Freire e as dunas, por obras para as quais a instituição não tinha recursos e que seriam a contrapartida do Governo. Esse espaço tinha a extensão ao longo da estrada de Ponta Negra de quase 2 quilômetros, a partir da Rua Solon de Miranda Galvão até as proximidades da bifurcação com a via costeira, com uma área de cerca de 130 hectares. De imediato, aconselhei ao Governador que aceitasse a proposta e, com todo entusiasmo, parti para os estudos preliminares de um parque urbano com o enfoque de preservação ambiental, mas tendo uma característica mais ambiciosa de resolver sério problema de mobilidade urbana, a partir do congestionamento que já se sentia naquela avenida na ligação de todo o litoral sul com os bairros centrais da cidade. O parque da cidade, na minha opinião, seria um grande negócio para todos, não só para dar utilidade pública a uma área ociosa, como para a preservação do sistema geomorfológico mais importante da cidade e sua principal característica paisagística. Nos estudos preliminares, eu propunha diversas mudanças arrojadas, mas o mais importante desse “delírio” é que fiz um projeto de lei para mudança do Plano Diretor, na área em questão, que resultaria em doação à Natal de cerca de 100 hectares. Eu disse 100 hectares de graça. Isso mesmo, custo zero! Seriam quase 2 quilômetros da Av. Roberto Freire, desde a bifurcação até à Rua Solon de Miranda Galvão. Vão dizer: “tá doido”, “bota camisa de força”, mas, na verdade, a proposta foi aprovada pelo Serviço de Patrimônio do Exército, que era o mais difícil, e o sonho só não se concretizou porque a politicagem mesquinha, vocação irreversível desse pobre Rio Grande do Norte, impediu. Era véspera de eleição e ainda tive que pedir desculpas pelo fracasso, em nome de Natal, envergonhado, aos Generais que o aprovaram. Foi um dos maiores desencantos da minha vida. Hoje posso dizer que metade de mim morreu ali. Porque eu cheguei a ter a vitória na mão. Bem, estou falando da Via Costeira que é um dos fatos marcantes na cidade. Em consequência, houve uma atração para Ponta Negra, que, de qualquer maneira, hoje é um dos bairros mais valorizados da cidade.

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