
Duarte Cabral de Mello
Foto Paulo Miguel Melo [revista Ascensor]
Estudou Arquitetura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, onde usufruiu da promiscuidade entre a prática artística e a da arquitetura, bem como do contacto com outras áreas do conhecimento como a Química, a Física, a Matemática, a Geometria e a Sociologia, lecionadas na altura na Faculdade de Ciências nas Ruas da Escola Politécnica. Na sua aula do júbilo, a que chamou “Primeira Aula” referiu também a sua experiência enquanto aluno no ensino primário onde conviveu no mesmo contexto de “sala de aula” com vários níveis de ensino.
M. Piedade Ferreira: Pensa que terão sido estas experiências que o levaram a ter uma maior abertura a diferentes áreas do conhecimento, construindo os alicerces para uma perspectiva mais alargada do que é projetar?
Duarte Cabral de Mello: Também eu gostaria de ter uma resposta simples para a essa pergunta. Só que são sempre complexas as situações, ou os diferentes estados de coisas, presentes sempre que tomamos decisões.
Quero acreditar que as experiências que referi nessa Primeira Aula terão marcado muitas das minhas escolhas sobre o que é projetar. Não sei é se foram mais ou menos determinantes do que as conversas com as pessoas que faziam parte do meu círculo familiar – artistas plásticos, poetas, escritores, engenheiros, músicos, filósofos, médicos, juristas – ou com os amigos de várias idades, nacionalidades e formações que têm vindo a enriquecer-me a vida.
MPF: Até que ponto o seu contato com os colegas na Escola de Belas Artes o levou a interessar-se pela “poesia concreta”? Tratou-se sempre de um interesse estético em si mesmo ou já na altura se preocupava em cruzar esta dimensão semiótica da transmissão das ideias através da imagem e/ou da palavra, no contexto da Arquitetura?
DCM: A escrita sempre fez parte da minha vida que nunca consegui encarar como uma seleção de “atividades discretas”, mas como um jogo entre pensar, registrar, transmitir e operar sobre o retorno de tudo isto, não necessariamente por esta ordem. E foi a minha vida quando, aos vinte anos e após duas operações oftálmicas, estive privado da visão durante uns meses.
A poesia concreta surgiu do cruzamento do que ia escrevendo e o convívio breve mas muito intenso que, no final dos anos 60, tive com a artista Mira Schendel e a escritora Vilma Arêas, ambas brasileiras, que conheci através do meu amigo Luís Noronha da Costa.