Uma pesquisa realizada no âmbito do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Regional de Blumenau – FURB – sobre arquitetura moderna, que está desenvolvendo o inventário arquitetônico em Blumenau e região, levou ao interesse em conhecer a história da construção da então igreja matriz da cidade (1953-61), hoje Catedral de São Paulo Apóstolo, e de conhecer pessoalmente o arquiteto Gottfried Böhm, autor desse projeto e também dos projetos da Igreja São Luis Gonzaga (1953-62), em Brusque, da Igreja Nossa Senhora da Piedade e de um centro de acolhida de crianças portadoras de deficiências visuais, de Tubarão, da Igreja São Francisco Xavier, de Joinville e de uma residência em Itajaí, todos em Santa Catarina, os quatro últimos não executados. Para alcançar este intuito realizou-se uma viagem a Colônia, na Alemanha, onde mora o arquiteto, para sabermos um pouco mais sobre suas obras no Brasil. Não foi exatamente uma entrevista, mas uma conversa informal num aconchegante ambiente envidraçado com visuais para um vistoso jardim, num dia chuvoso, na qual tudo se relaciona com arquitetura.
Gottfried Böhm é o único arquiteto alemão a receber o Prêmio Pritzker (1986). É o terceiro filho do arquiteto Dominikus Böhm, reconhecido pela construção de igrejas católicas e considerado pioneiro no rompimento da arquitetura eclesiástica em relação ao historicismo, construindo de acordo com os novos materiais e as novas ideias litúrgicas da época. Por esse pioneirismo foi nomeado, em 1952, Comendador da Ordem de Silvestre pelo Papa Pio XII.
Entre as obras mais importantes de Gottfried Böhm constam a Prefeitura de Bergisch Gladbach-Bernsberg (1962-67), a Igreja Paroquial de Düsseldorf-Garath (1962-1967), a Igreja e Centro de Peregrinação de Velbert-Neviges (1963-73), considerado por ele um de seus trabalhos mais relevantes, o Conjunto Habitacional em Colônia-Chorweiler (1969-1975), o Centro Provincial de Informática e Estatística em Düsseldorf-Golzheim (1969-1979), a Igreja e Centro de Peregrinação de Wigratzbad (1972-78) e o Teatro Hans Otto de Potsdam (1995-2006), todas na Alemanha. Sua obra torna-se altamente sugestiva e emocionante por justapor tradição e modernidade, conectar o antigo e o novo, o mundo das ideias e o mundo físico, integrando um edifício a seu marco urbano, inserindo elementos da história numa arquitetura moderna de linguagem própria.
Em 1985, antes da reunificação alemã, Böhm foi convidado pelo então chanceler Helmut Kohl para fazer, confidencialmente, um projeto para a reconstrução do Reichstag, em Berlin. Böhm desenvolveu a ideia da cúpula de vidro do parlamento, em cujo topo passarelas helicoidais proporcionassem vistas aos visitantes, tanto das atividades dos políticos – como forma de fiscalizá-los - como das adjacentes paisagens urbanas. Em 1992, quando da realização do concurso internacional, seu projeto tornou-se público e disponibilizado aos arquitetos participantes como informação complementar. Böhm não estava diretamente envolvido na sua implementação, mas algumas de suas originais ideias fizeram-se presentes no projeto vencedor apresentado por Norman Foster.