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interview ISSN 2175-6708

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Segundo os entrevistadores Lays Lucena Benjamin e Fernando Diniz Moreira, os arquitetos Vinicius Andrade e Marcelo Morettin tem se destacado por fazer uma arquitetura singular e conectada ao lugar, mesmo que adotem pré-fabricados e princípios da montagem.

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BENJAMIN, Lays Lucena; MOREIRA, Fernando Diniz. A arte da montagem: técnica e lugar em Andrade Morettin. Entrevista com Vinícius Andrade. Entrevista, São Paulo, ano 19, n. 073.01, Vitruvius, jan. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/19.073/6849>.


Residência P.A., Carapicuíba SP, 1997-1998. Escritório Andrade Morettin Arquitetos Associados
Foto Nelson Kon

Lays Lucena Benjamin e Fernando Diniz Moreira: Um dos grandes desafios da prática arquitetônica contemporânea consiste em criar edifícios originais e adequados com o lugar quando grande parte dos materiais já existem antes mesmo de se pensar o projeto. Este desafio está muito presente na obra de vocês, que preferem materiais industrializados e pré-fabricados, mas sempre buscam uma arquitetura expressiva e em conexão com o lugar. Como este diálogo acontece no momento do projeto?

Vinicius Andrade: Boa pergunta. Vou tentar construir um raciocínio para que seja possível formular uma resposta. Na prática essas coisas não acontecem de uma maneira concomitante. Nós podemos fazer uma associação com esses origamis mais complexos: você vai dobrando as folhas pelas beiradas, pelas linhas e tal, e tem um momento no meio do processo, que chamamos de colapso, onde fazemos uma dobra chave, todas aquelas dobrinhas encaixam e viram uma forma. É difícil falar de cada uma dessas dimensões isoladamente, mas vamos tentar. A adequação ao lugar é algo que para nós vem a priori. O processo de elaboração do projeto, entender o lugar e o programa, a necessidade, ou seja, a atividade que vai ser acolhida no projeto, isso vem em primeiro. O sistema construtivo, no nosso entender, deve se submeter a essa primeira interpretação. Por exemplo, chegamos em um lugar com um clima quente e úmido, mas que é na beira de um lago. Então vamos levantar o edifício do chão, vamos tomar uma série de medidas estratégicas de adequação ao lugar, vamos formatar um espaço de acordo com a necessidade programática. Precisamos de grandes salões, ou de salinhas pequenas? Isso para nós vem a priori. A partir daí você fala ok, é isso que a gente quer construir. Como vamos construir isso? Aí começamos a pensar nos possíveis sistemas construtivos. Isso era muito mais verdadeiro no princípio do escritório. Por isso eu falo que hoje esse processo não é tão linear assim, porque estávamos descobrindo possíveis repertórios construtivos. E eram repertórios que realmente nós não conhecíamos, não eram ensinados na época em que fazíamos faculdade. Naquela época, existia um único e hegemônico sistema construtivo a disposição: concreto. Assim, passamos a dedicar muito do nosso tempo à pesquisa. No processo do projeto, logo depois da primeira definição em relação ao lugar, passávamos à pesquisa dos materiais. Com o tempo isso foi se fundindo um pouco, porque esse escritório está fazendo vinte anos, e esta experiência nos permitiu criar atalhos. Sempre tem que olhar cada projeto como se fosse único, mas você não precisa sempre redescobrir a mesma coisa. Então para nós, hoje, as coisas são um pouco mais parecidas com um origami, como falei há pouco. Mas pensando no processo como lá no começo, eu acho que era assim nossa ideia.

Na questão do sistema construtivo, não sabíamos como fazer ainda, mas nós já sabíamos como não fazer. E esse foi o grande ponto em comum entre o Marcelo e eu. Nós somos sócios desde o princípio e não havia muitos pontos em comum, mas esse era um com certeza. Não queríamos fazer uma arquitetura bruta, pesada, uma construção artesanal que as pessoas trabalhassem penduradas, em cima de uma tábua, chapiscando massa em uma parede, para depois que a parede estivesse pronta, quebrar a parede. Isso era uma coisa que nos incomodava muito. Pensávamos, puxa fizemos uma universidade, estudamos, lemos, e é assim que nós vamos trabalhar? Acho que chegar aos componentes industrializados e pré-fabricados, foi uma consequência dessa inquietação, mais que uma busca por uma expressão plástica talvez.

Residência P.A., Carapicuíba SP, 1997-1998. Escritório Andrade Morettin Arquitetos Associados
Foto Nelson Kon

LLB/FDM: Diante da imensa oferta e rápida mudança no mercado de materiais industrializados, como acontece o processo de estudo e escolhas desses materiais no escritório? A pesquisa surge a partir de uma necessidade específica ou os materiais são viabilizados primariamente e adaptados ao projeto?

VA: Se fossemos uma corporação grande e bem organizada, teríamos um time de pesquisa de campo e materiais, mas não é o nosso caso. Então a coisa acontece em dois fenômenos, mas não necessariamente de forma tão organizada. Somos muito ligados na forma como construímos, em materiais e componentes industrializados que sejam interessantes. Então muitos materiais acabamos conhecendo por acaso. Vemos em algum lugar, em uma obra, nos interessamos, pesquisamos, descobrimos, guardamos para o dia que precisar. Nos chegam anúncios, também, imagino que todos recebem, até minha mãe que não tem nada a ver com arquitetura, recebe anúncio de persiana, de telha. Como gostamos disso, prestamos mais atenção e estudamos estes materiais, inclusive as diferentes possibilidades de uso deles. Isto acontece de uma forma mais organizada, mas por vezes é inconstante. Se é um material muito interessante e a gente já está precisando, por exemplo, nossa, chegou, resolveu aquele problema, quer ver? Vamos atrás disso aqui e tal. E agora a forma mais eficaz mesmo é projeto a projeto. Isto acontece com materiais que usamos hoje, a maioria deles foi assim. Como a casa do P.A. lá na beira da represa, foi a primeira casa do escritório. Era um amigo de infância, por isso nos chamou, mas eles não tinham dinheiro nenhum, casal de fotógrafos e tal. Então nós descobrimos esse plástico, que estava sendo utilizado em coberturas de galpões, que era muito barato. A gente falou: “o material não é lá essas coisas, mas é muito barato, vamos tentar, se ficar ruim a gente joga fora e quando vocês tiverem dinheiro colocam vidro na casa”. E o material ficou até hoje. A casa tem vinte anos e é o mesmo policarbonato. Na época não fazíamos ideia, mas foi assim, foi experimentando uma solução para um projeto específico que o policarbonato terminou virando um material que usamos muito.

A principal forma de chegar em um material é buscando o desempenho dele. Precisávamos de algo transparente, translúcido que não custasse tanto como o vidro, mas que pudesse ser fixado numa estrutura de madeira que não é completamente rígida, e aí acabamos encontrando o policarbonato. O uso da telha metálica como fechamento externo foi a mesma coisa. Antes dessa casa, nós projetamos outra que era uma palafita e nos perguntamos como fecharíamos a escada. Assim, chegamos na telha metálica. Quer dizer, nunca inventamos nada. Só usamos de uma forma diferente algo que já existia e resolvemos nosso problema. A medida que íamos usando fomos incorporando ao nosso léxico, fomos criando o nosso repertório. Por isso eu falo, hoje em dia, é mais automático, se eu vejo um problema eu já sei mais ou menos o que eu vou usar. A experiência, não apenas faz com que o tempo seja mais curto, mas acaba invertendo a ordem das coisas, sem você perceber. Antes quando eu olhava um lugar, um programa, eu tinha uma abordagem, um método mais rigoroso, mais acadêmico, hoje quando eu olho e começo a entender o lugar, sem querer, já aparece o material na minha cabeça. Aparece por causa da experiência. Então tem o lado bom, o lado ruim talvez, atropelar o processo, é inevitável também.

LLB/FDM: Percebemos que na obra de vocês houve um estudo arquitetônico, iniciado na Casa P.A., que resultou em uma série de projetos no qual vocês partem de um mesmo repertório. Como ocorre o processo de adaptação dessas ’soluções férteis' em cada novo caso?

VA: Eu acho que esse repertório que nós formulamos é como uma despensa. Você vai enchendo a despensa com os ingredientes que você gosta, mas você não vai usar todos cada vez que você for fazer um prato, certo? Depende um pouco do prato que você quer fazer, e é isso, com o tempo você vai aprendendo o que combina bem, não é? É assim na culinária. Você sabe o que combina com o quê, que reação dá, combinar uma coisa com a outra. Então acho que a gente criou talvez mais que um repertório, criamos um sistema. Acho que é um sistema porque ele admite a entrada de novos ingredientes, e isso está acontecendo, acontece permanentemente, porque, como você falou, a nossa indústria da construção civil é muito nova, então a cada ano surgem coisas, não param de acontecer coisas novas. Por isso eu acho que está mais para um sistema do que para um repertório. Porque os ingredientes da despensa estão sempre mudando, ou aumentando, o que permanece é esse exercício de combinar esses componentes que não nasceram para trabalhar juntos, e fazê-los trabalharem juntos, acho que essa sua pergunta toca nesse ponto. Acho que o desafio é pensar principalmente como combinar esses sistemas construtivos que não nasceram para trabalharem juntos. Então na prática o desafio está nas articulações, nos encontros. Porque os componentes vêm prontos, resolvidos, homologados, bonitos e acabados.

E qual é o único desafio construtivo que resta? Como você faz uma coisa encontrar com a outra, de um jeito que eles trabalhem bem juntos. Essa é a mão de obra do arquiteto na vida diária de projeto. Você tem o lado da concepção e tal, depois tem o lado que é arregaçar as mangas, é essa parte, o desafio de como agenciar esses ingredientes todos, um contra o outro. Temos uma equipe aqui que já está super acostumada, temos pouca rotatividade, tem um pessoal aqui que está há seis, sete, dez anos. Então, temos uma habilidade própria aqui para lhe dar com esses parafusos todos.

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Técnica sem abrir mão da beleza: notas sobre ser arquiteto

Ana Vaz Milheiro

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