Lays Lucena Benjamin e Fernando Diniz Moreira: Vocês têm tido a oportunidade de estarem envolvidos com o ensino. Como a experiência prática de projeto e obra dialoga com a forma de ensino? Ela enriquece a forma de ensinar?
Vinicius Andrade: Por trás da sua pergunta está a discussão sobre o papel da academia. Se olharmos do ponto de vista intelectual, fazer história em cima de fatos recentes é muito difícil. Dependemos do distanciamento do tempo, o chamado distanciamento histórico, para analisar. Tem uma anedota que eu acho muito boa. Um professor de história diz que nos anos 1960 saiu uma matéria no jornal, uma capa no jornal com uma foto enorme do avião que caiu com 120 pessoas. Isso é notícia de jornal. Tinham várias matérias e uma chamadinha para um grupo de franceses que estava desenvolvendo estudos para criar contraceptivos para mulheres: isso era história. Então isso acontece com Arquitetura.
Óbvio, acho que existe um lado bom do professor ter contato com a prática. Sou um professor que tem esse contato, leciono em uma disciplina onde arquitetura, urbanismo e paisagismo estão integrados. Posso falar muita coisa para os alunos que eles se interessam, vão pesquisar, mas isso eu acho que isso na formação é marginal, acho que a formação é mais sólida quando você tem o conhecimento histórico. Eu acredito nisto. Não é possível fazer uma crítica consistente apenas com fatos atuais. E acho que o mundo acadêmico tem um papel importante porque ele preserva essa inteligência de não aceitar o imediato, então seria legal ter um professor que está na prática porque certamente ele sabe o que está falando quando dá uma aula de projeto. Mas é importante também os professores mostrarem para os alunos como se constrói ou não se constrói a cultura, o sabor, a sabedoria acumulada. Justamente sobre aquilo que a gente já consegue ter um distanciamento necessário. O ambiente acadêmico é o último reduto aonde esse tio de consciência pode ser preservado, acho legal que os alunos tenham acesso ao contemporâneo, mas, por outro lado, se o mundo acadêmico não for conservador nesse sentido, quem será? Nós vamos perder uma certa preciosidade, a de ter essa consciência, vamos ver daqui a vinte anos se esse papo que estou defendendo vai ter consistência ou não.