Lays Lucena Benjamin e Fernando Diniz Moreira: O componente industrial porta critérios determinantes: performance, aparência e preço. Certamente o escritório se ocupa de garantir os dois primeiros, mas há também uma preocupação com o valor final dos projetos de acordo com as especificações?
Vinicius Andrade: Sim, essa é uma característica que também acompanha a gente desde o primeiro projeto, vou te explicar por que. Hoje, no exercício do projeto, nós já controlamos os custos, nós mesmos, não é o orçamento, mas um controle de valores, por quê? Como nosso histórico é de apresentar uma alternativa ao tradicional, toda vez que apresentamos um projeto, qual é a primeira pergunta que o cliente faz? “não é muito mais caro fazer desse jeito?” Então, em todos os nossos projetos, não que isso tenha nascido de forma voluntária, mas aprendemos que se não apresentássemos uma comparação de custos entre o tradicional e o que estamos propondo, não conseguiríamos emplacar o projeto. Então a necessidade levou a trabalhar sempre sabendo dos preços de tudo que estamos propondo. Claro que não orçamos, não seríamos loucos de fazer isso porque, se os orçamentistas já erram 20%, imagina a gente? Conseguimos dizer “olha, o telhado tradicional custa mais ou menos R$ 350 por m2 só que o nosso custa R$ 285. Às vezes é mais caro só que o custo da mão de obra é menor” Então sempre buscamos chegar numa equivalência, vamos dosando, fazemos um projeto ousado aqui se acharmos que isso é do interesse do cliente, mas sempre falamos “olha isso aqui é 25% mais caro que o tradicional” e se a gente acha que o cara não vai topar baixamos a bola. Mas hoje existe o componente industrial para você fazer com o mesmo preço do que o convencional ou até mais barato que ele. Tem para tudo, hoje em dia não sei como seria, mas a gente acostumou a trabalhar com isso, toda vez que a gente apresenta um projeto tem sempre aquelas perguntas, “mas não vai ficar quente?...” A gente se especializou em explicar esses sistemas construtivos e esses materiais industrializados. A mesma coisa com o orçamento, tem sido ainda uma necessidade. A gente brinca que é a síndrome dos três porquinhos: o porquinho bom, bacana, é o que faz de tijolo, os outros, que fazem de palha e de madeira, são irresponsáveis. Então o lobo mau sopra e a casa desmancha toda. A gente fala para os nossos clientes “olha, fica tranquilo que se o lobo mal soprar sua casa não vai voar, ok? Ela é uma casa para valer apesar de não ser de tijolo.” Virou um modus operandi, fazer comparações técnicas de performance, de desempenho e de preço também. Acho que é difícil para o arquiteto hoje trabalhar sem ter uma noção desses parâmetros.
LLB/FDM: É acho que vocês não puderam só confiar no especialista de catálogo, vocês também tiveram que virar especialistas para poder defender a sua arquitetura.
VA: Ah sim, a gente acaba sendo, às vezes acabamos entendendo mais que os representantes, pesquisamos, entramos no site da fábrica e das representantes. Já tivemos o trabalho de fazer isso muitas vezes, descobrimos coisas que são primordiais e que o representante não sabia, fazemos um grande esforço de pesquisa.
LLB/FDM: Vocês parecem ser um escritório pioneiro em conseguir aplicar materiais industriais na arquitetura residencial brasileira, tema ainda pouco explorado no cenário nacional. Quais fatores vocês julgam limitar o uso mais generalizado dessa abordagem?
VA: São muitos fatores, poderia elencar alguns, mas sem necessariamente saber qual é a ordem de importância desses fatores, mas acho que existe uma resistência do consumidor, que seria a síndrome dos três porquinhos, que existe no imaginário coletivo: uma cultura da casa de tijolo, minha casa minha vida, para sempre, vou ficar lá até morrer e tal. Então existe uma resistência por conta disso, uma dificuldade por conta das faculdades que eu conheço, que priorizam muito o sistema construtivo mais tradicional, que lançou a arquitetura brasileira moderna internacionalmente. Isto acabou fazendo com que o Brasil se sentisse muito vitorioso, uma boa parte do nosso moderno se agarrou a isso, e seguem na cartilha eternamente tentando fazer isso porque é a arquitetura brasileira. Acho que esse é um dos grandes obstáculos, são poucos arquitetos que conseguem se livrar disso. Não sei como é na sua faculdade, mas aqui em São Paulo, conheço escolas nas quais existe quase um doutrinamento, assim como fomos doutrinados em nossa época. A maioria dos alunos embarcam, quase como uma causa missionária. Acho que essa é uma grande dificuldade, são poucos alunos como você que saem da caixinha e veem que pode ser diferente. Às vezes eu penso e acho incrível que já passou tanto tempo de uma arquitetura tão inadequada, equivocada para o nosso clima, para a nossa cultura. Nós vamos ficar incensando a cultura dos europeus até quando? Apesar de um discurso nacionalista, quando reproduzimos aqui essa construção moderna, corbusiana, na verdade estamos reiterando uma arquitetura europeia.