Daniela Abritta Cota: No livro Arquitetura e política (1), publicado em português, você e o professor Josep Maria Montaner abordam o papel dos arquitetxs e urbanistas como agentes políticos. Fale-nos sobre isso.
Zaida Muxí: A relação que tratamos no livro entre a nossa profissão e os atores políticos é que tudo o que fazem arquitetxs e urbanistas, em suas vidas, é uma ação política. Nos últimos anos do século 20 e início do século 21 tem existido uma corrente de pensamento neoliberal que tem difundido a ideia de que, como técnicas e técnicos, nossa ação não tem nada a ver com ação política; como se nossas decisões fossem supostamente neutras, sempre técnicas. Entretanto, em todas as decisões técnicas existe um condicionante político. Você não pode separar quem você é de seu posicionamento no mundo e o seu posicionamento no mundo determina as suas opções tecnológicas, suas crenças, sua ética, e em função disso, suas ações – ações que cada um vai definindo como correta em sua trajetória. Assim, o que pretendemos, quando falamos com os alunos sobre isso, é que cada um tenha a consciência de que os passos que dá e para onde levam, que as escolhas que cada um faz, não serão capazes de controlar tudo o que acontece, mas que você tem uma responsabilidade coerente com sua maneira de pensar e, por outro lado, que há arquitetas e arquitetos que tem estado comprometidos diretamente com a ação política ou com o exercício da política como gestão do público, do coletivo, que são os dois eixos tratados no livro Arquitetura e política.
DAC: É possível existir na atualidade um projeto crítico, alternativo aos interesses do mercado, baseado na prática da arquitetura e do urbanismo com uma perspectiva política?
ZM: Acredito que sim, obviamente existem ambientes urbanos que facilitam a existência desses projetos alternativos mais que outros. Isso dependerá do ambiente urbano e também da forma como trilhamos nosso êxito profissional e definimos nossas aspirações pessoais e profissionais individuais: ou ser um grande profissional com sucesso econômico – possivelmente acredita que não há muitas alternativas para o mercado e você vai aceitá-lo, ou se você acredita que além do dinheiro tem que viver e que pode separar sucesso do dinheiro e que há tantos outros caminhos e outras possibilidades. Então existem alternativas para o mercado.
notas
1
MONTANER, Josep Maria; MUXÍ, Zaida. Arquitetura e política: ensaios para mundos alternativos. São Paulo, Gustavo Gili, 2014, p. 253.