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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O texto apresenta conversa com a arquiteta e professora Zaida Muxí Martínez e a pesquisadora Daniela Abritta Cota sobre a relação entre cidade, política e gênero. A entrevista ocorreu no mês de julho de 2018 em Santa Coloma de Gramenet e em Barcelona

english
This text presents a conversation with the architect and professor Zaida Muxí and the researcher Daniela Abritta Cota on the relation between city, politics and gender. The interview took place in July 2018 in Santa Coloma de Gramenet and in Barcelona

español
El texto presenta conversación con la arquitecta y profesora Zaida Muxí y la investigadora Daniela Abritta Cota sobre la relación entre ciudad, política y género. La entrevista ocurrió en el mes de julio de 2018 en Santa Coloma de Gramenet y en Barcelona

how to quote

COTA, Daniela Abritta. Entrevista com Zaida Muxí. Cidade, política e gênero. Entrevista, São Paulo, ano 19, n. 075.02, Vitruvius, set. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/19.075/7123>.


Trabalho com as mulheres de Cali, 2015
Foto divulgação [Col.lectiuPunt6, Entornos Habitables, p. 30]

DAC: O que significa a participação nos processos urbanísticos que incorporam a perspectiva de gênero? Quais elementos são necessários? Quais ferramentas podem ajudar a realizar processos participativos que reúnam, reconheçam e respondam à experiência das mulheres e da comunidade de determinado lugar?

ZM: Para se organizar um processo participativo com perspectiva de gênero devemos, primeiro, pensar em como fazer para que as mulheres venham: em que horário será o ato de modo a que as mulheres possam participar. Para isso, é necessário consultar as próprias mulheres de cada local, porque nem todas têm o mesmo tempo, e há aquelas que têm de trabalhar (trabalho produtivo), além do trabalho de casa. Assim, deve-se definir melhor o dia e o horário para a maioria. Além disso, no local onde ocorrerá a reunião, deve-se viabilizar um espaço e pessoas para cuidar das crianças enquanto as suas mães participam do processo, já que são as mulheres as responsáveis por esse cuidado. Durante o processo participativo é importante trabalhar de forma setorial, e trabalhar somente com mulheres em um primeiro momento e, em seguida, fazer grupos mistos se quiserem, mas não deixar de trabalhar com as mulheres em separado. Muitas vezes, quando se fala de questões urbanas e o grupo é misto, os homens falam mais do que as mulheres. É preciso deixar as mulheres falarem primeiro, pois isso incentiva a falarem sobre as coisas que elas vivem e o que sentem, e não o que é esperado, ou o que é mais consensual a partir de uma experiência masculina. Por isso, sugere-se trabalhar separadamente e, em seguida, reunir grupos. É importante organizar a participação em função do objetivo que se pretende e, por isso, não há um modelo de processo participativo que sirva para todos. Entretanto, é igualmente importante saber conduzir as discussões, gerenciar a participação, não dirigi-lo para um ponto que se quer, mas que as discussões se concentrem no que tem de ser discutido, no objetivo principal. Isso porque, em processos participativos, as pessoas são convocadas a falar sobre determinado tema e acabam falando sobre outros. Não podemos perder o foco. É também importante usar diferentes metodologias: fazer recorridos a pé, mapear, trabalhar em pequenos grupos, usar diferentes metodologias para obter informações, complementar e comparar informações e também fazer análises. Há pessoas, há mulheres, que podem ter mais facilidade com uma metodologia do que outra, ou que se expressam melhor por uma metodologia que por outra. Uma forma única não funciona.

No livro Mulheres Trabalhando (11) são propostos métodos de trabalho com as mulheres. O grupo Col.lectiu Punt 6, especialista em processos participativos com perspectiva de gênero, sempre reflete muito sobre qual metodologia vai aplicar em cada caso: depende do tempo que as pessoas têm, do objetivo a ser tirado do processo, do prazo que dispõem para fazer o trabalho participativo. Outra coisa que é importante nos processos participativos é como você informa as pessoas sobre a reunião, quais os canais de comunicação utilizados para que as pessoas saibam da realização do processo. E são necessários diferentes canais. Um único canal de comunicação geralmente não serve. Um cartaz preso na escola não é suficiente. É preciso ir aos grupos, na saída da escola... Pensar quem é o alvo da participação e, a partir disso, definir os melhores canais para a convocação para a participação.

DAC: Quais são os lugares da América Latina que incorporaram essa perspectiva ao urbanismo? Quais são aqueles que têm possibilidades de aplicá-la?

ZM: Na América Latina há ações isoladas e experiências muito concretas, muitas vezes vindas dos próprios movimentos sociais, não tanto do governo. Eu diria que a maioria das experiências que partiram do governo está associada ao tema da segurança. Quando houve alguma tentativa de implantar política que beneficiasse a mulher, a maioria está relacionada a ações isoladas de segurança. No México, há o ônibus rosa ou vagão rosa do metrô (como no Rio de Janeiro). Há o trabalho relacionado às Nações Unidas, a Rede Global de cidades mais seguras (12), com atuação na América Latina, também voltado a incentivar ações de segurança. O problema é que a América Latina está muito focada no tema da segurança, de forma isolada, ocorrendo pouca reflexão sobre outras temáticas a ela articuladas.

Entre 2013 e 2015 trabalhamos para o governo da cidade de Buenos Aires, para a Secretaria de Habitat e Inclusión – SECHI, no diagnóstico e na elaboração de propostas de melhoria de bairros complexos (uma conjunção de bairros auto-produzidos, bairros produzidos pelo Estado e bairros legalizados) aplicando a perspectiva de gênero, o que nos levou a trabalhar com as mulheres habitantes destes bairros. Em Cali, fizemos um trabalho junto com a Fundación Mujer, avaliando a condição de segurança das casas. Entretanto, ações diretas dos municípios há poucas experiências.

Nas favelas ou nas áreas de ocupação informal, as mulheres são realmente muito ativas e atuam de modo a gerar sistemas de apoio coletivo, voluntário e melhorar, tanto quanto possível, seu bairro, sua vizinhança. E esses coletivos têm ideia do limite até onde podem melhorar. E nem sempre, nesses grupos mais atuantes há uma perspectiva de gênero. Embora haja muitas mulheres engajadas, há mais conversas sobre direitos em geral e não tanto sobre a cidade e gênero. Mais recentemente os movimentos sociais também começaram a trabalhar a temática de gênero, mas gênero e feminismo são temas que se lutam em separado, que ainda está pouco articulado à temática da cidade.

Todos os lugares têm possibilidade de aplicar essa perspectiva. O mais importante é dar às mulheres a oportunidade de expressar. Cuidar para que, nos processos participativos, haja diversidade de pessoas que irão participar e pensar em fazer oficinas separadamente com as mulheres para melhor se expressarem.

notas

11
Col.lectiu Punt 6. Mujeres trabajando. Guía de reconocimiento urbano con perspectiva de género. Barcelona, 2014.

12
A Rede Global de Cidades Mais Seguras – RGCS é uma iniciativa da ONU-Habitat com o objetivo de apoiar autoridades locais e agentes urbanos na promoção de melhores condições de segurança nas cidades. Lançado em setembro de 2012 durante a Sexta Sessão do Fórum Mundial Urbano, em Nápoles, Itália, o RGCS foi concebido para servir como a principal plataforma internacional para cidades e agentes urbanos que lutam para prevenir o crime e melhorar a segurança urbana.

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