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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Nessa entrevista, Marcelo Suzuki, que, junto a Lina Bo Bardi, colaborou com o Teatro Oficina na década de 1980, relata sua experiência com a Companhia e sua visão sobre o bairro do Bexiga.

english
In this interview, Marcelo Suzuki, who in partnership with Lina Bo Bardi, had collaborated with the Oficina Theater in the 1980s, reports his experience with the Company and his vision of the Bexiga neighborhood.

español
En esta entrevista, Marcelo Suzuki, que junto a Lina Bo Bardi colaboró con el Teatro Oficina en la década de 1980, relata su experiencia con la Compañía y su visión del barrio Bexiga.

how to quote

PIRES, Felipe Ribeiro; LUZ, Vera Santana. Oficina: do teatro à cidade (parte 1). Entrevista com Marcelo Suzuki. Entrevista, São Paulo, ano 24, n. 094.01, Vitruvius, maio 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/24.094/8789>.


Teatro Oficina, março de 2023
Foto Felipe Ribeiro Pires

Marcelo Suzuki, arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo — FAU USP, possui uma longa carreira, marcada tanto por realizações individuais, quanto por parcerias importantes. Dentre estas, talvez entre as mais marcantes, seja com Lina Bo Bardi, no início de sua carreira, na década de 1980, passando também por período de colaboração com o escritório Brasil Arquitetura. Na seguinte entrevista, com pequenas edições realizadas pelos autores para sua maior fluência, Marcelo relata suas vivências com o Teatro Oficina, uma das companhias mais antigas da cidade de São Paulo, famosa por propor verdadeiras revoluções na produção teatral brasileira. A entrevista foi realizada no âmbito de um trabalho acadêmico, que teve por objetivo investigar a trajetória do Teatro Oficina, mediante os conflitos urbanos em que a companhia se envolveu desde a década de 1980 até o presente, e a contribuição dos profissionais de arquitetura e urbanismo nesse debate e na proposição de alternativas para o bairro do Bexiga, onde a companhia se instala. Nesse território, disputam duas visões de cidade distinta. Por um lado, o Teatro Oficina, que tem sua sede instalada em um pequeno imóvel na rua Jaceguai número 520. No ano de 1980, o Grupo Silvio Santos, braço imobiliário do império do grande apresentador de TV, toma sua primeira investida, tentando obter o imóvel do Oficina, para construir um grande empreendimento comercial. Embora a tentativa de compra tenha sido frustrada, o evento iniciou um outro debate: o grupo de teatro passou a reivindicar o direito de que os terrenos lindeiros à sede da companhia, de propriedade de Grupo Silvio Santos, pudessem ser convertidos em espaços públicos, com vocação para o lazer e a cultura. Esta situação local reflete, no bairro do Bexiga, disputas análogas por preservação cultural e de vida cotidiana de populações moradoras e pressões do mercado imobiliário (1).

Essa disputa local já perdura mais de quarenta anos e seus últimos desdobramentos são fatos recentes. É um processo ainda inconcluso e de final incerto, que tem mobilizado diversos agentes, como membros da sociedade civil, a administração pública, os órgãos de preservação do patrimônio, representantes da mídia, intelectuais, artistas e cidadãos paulistanos. Certamente esses eventos foram responsáveis por agitar um grande debate público, que tem, como pano de fundo, visões distintas do que pode vir a ser a cidade de São Paulo: de um lado, uma cidade vocacionada aos espaços de encontro, ao embate de ideias, afetos e ações inerentes ao espaço democrático ou constitutivo do cotidiano. De outro, o espaço privatizado, cercado pelos limites dos empreendimentos comerciais e residenciais, visando principalmente a extração do lucro do solo urbano e vidas apartadas do tecido da cidade e de seus espaços comuns.

Felipe Ribeiro Pires, Marcelo Suzuki e Vera Santana Luz
Imagem divulgação

As vivências de Marcelo Suzuki, partilhadas nesse texto, são uma peça fundamental para o entendimento desse processo e de sua justa discussão. O arquiteto revela, em seu depoimento, cenas dos bastidores de uma companhia de teatro em busca de transformação, e de uma colaboração intensa entre os arquitetos e o grupo. Tais relatos expõem, também, contradições e mudanças nas estratégias adotadas pelas partes da disputa, permitindo ver além de uma simples dicotomia de ideias.

A seguinte entrevista ocorreu na tarde do sábado de 4 de julho de 2021, por meio de uma plataforma virtual. Faz parte de uma série de entrevistas cuja intensão é publicar, futuramente, que incluem o arquiteto Edson Elito e o arquiteto Newton Massafumi. Esta série de diálogos, gravados e documentados integralmente, compõe parte da referida pesquisa, no âmbito de Iniciação Científica, desenvolvida por Felipe Ribeiro Pires sob orientação da professora doutora Vera Santana Luz, junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas — PUC Campinas, e que tem como título “Teatro Oficina: um centro de resistência re-existência urbana” (2). Neste trabalho, analisamos a trajetória do Oficina, abordando o período compreendido entre os anos de 1980 e 2021, para buscar compreender o embate entre o Teatro Oficina e o Grupo Silvio Santos. Com a pesquisa, buscou-se clarificar principalmente as visões de cidade articuladas pelas duas partes, que influem mais diretamente neste processo, a Companhia impulsionada pelo grupo do diretor Zé Celso Martinez Côrrea e a corporação imobiliária do comunicador e empresário Silvio Santos, em que é fundamental o papel de uma série de arquitetos que colaboraram com o Teatro Oficina, para conceber espaços urbanos públicos e cênicos, voltados para a arte e a convivência democrática.

Marcelo Suzuki é peça chave nesse panorama de profissionais de arquiteturas. Autor, junto a Lina Bo Bardi, dos primeiros estudos para pensar a reformulação da histórica sede da Companhia e dos terrenos ao seu redor, pertencentes ao Grupo Silvio Santos, Marcelo narra, nessa entrevista, algumas memórias vívidas desta colaboração e expõe sua visão sobre o bairro do Bexiga e a cidade de São Paulo. Aqui trata-se de um profissional que é testemunho de momentos cruciais desse embate, como o primeiro processo de tombamento do Oficina e a tentativa de um projeto que considerasse o interesse das duas partes — sem deixar de se posicionar conforme sua visão de cidade e tomar partido. O arquiteto revela episódios que descortinam a complexidade das lutas do Teatro Oficina, cuja trajetória não é livre de contradições e transformações.

Uma luta por novos futuros possíveis

O Teatro Oficina é uma das companhias mais antigas em atividade em São Paulo, sendo sua história iniciada em 1958 e ocupando, desde esse ano, o mesmo endereço na rua Jaceguai, no bairro do Bexiga. Trata-se de uma longa e influente trajetória, na qual inflexões e mudanças são constantes. Observa-se que essas mudanças, muitas vezes não definiram somente novos rumos para a companhia, como também para todo o teatro brasileiro. O entendimento do espaço arquitetônico e da necessidade de colaboração com arquitetos e urbanistas para potencializar e, muitas vezes, tornar viável a concepção teatral do grupo, se deu ainda no início das atividades da companhia, no ano de 1960, com o projeto de Joaquim Guedes para a sede do teatro. A colaboração deste arquiteto de concepções modernas e críticas, importante no Brasil, é inaugural. A ela se seguiria a reforma proposta pela dupla Lefévre e Império, em 1967, e de vários outros arquitetos, que passariam pela companhia, ao longo dos seus mais de sessenta anos. Em 1969, Lina Bo Bardi colabora com o diretor Zé Celso Martinez Côrrea, para a criação da cenografia da peça “Nas selvas da cidade”, de Bertold Bretch. Tal episódio, narrado e discutido por Guilherme Wisnik, 2019, no artigo “ Lina Bo Bardi: O construtivo e sacrificial” (3), inicia não só a colaboração da arquiteta ítalo-brasileira com a companhia, como também uma concepção do teatro como força atuante no próprio contexto urbano, abrindo o edifício sede do grupo para o entorno, naquela época transformado brutalmente pela construção do conjunto de elevados e viadutos, popularmente conhecidos como Minhocão.

O touro e o vazio. Máscara na fachada posterior do Teatro Oficina em primeiro plano, e estacionamento do Grupo Silvio Santos ao fundo
Foto Felipe Ribeiro Pires, mar. 2023

O encontro entre Marcelo Suzuki, Lina Bo Bardi e Zé Celso, se dá em um desses grandes momentos de transformação da companhia: o início da década de 1980, período em que diversos membros retornavam do exílio imputado pelo regime militar — que durou 21 anos —, em que o país assistia a um processo de abertura do governo ditatorial. O arquiteto, na presente entrevista, revela particularidades desse momento e a grande agitação da companhia, que iniciou a demolição da arquibancada projetada por Lefévre e Império, como uma “doideira” nas palavras de Suzuki. Para Carila Matzenbacher (4), “essa abertura do teatro corresponde a uma necessidade de renovação dos ares estagnados pela repressão do período anterior”. Paralelamente, Suzuki também mostra o início de um processo importante, em que a companhia começava a pensar na aliança com instituições públicas, para buscar, estrategicamente, a proteção do Oficina, sua sobrevivência e a potencialização de sua luta: que viria a culminar no processo de tombamento do teatro, pelo Condephaat.

O panorama apresentado pela entrevista revela, através da visão do arquiteto, a vida e a história de um tecido urbano que é “lindo, mas é triste” e que tem sua história atravessada, paralelamente, por brutos viadutos de concreto, perante a resistência de manifestações da cultura popular. Afloram, ainda, sutilezas, contradições e transformações da luta do Oficina, que propõe, em sua busca por um teatro que se abra para o espaço urbano de convivência livre e democrática, onde a arte e a cultura seja protagonista para a transformação de uma cidade, que também é linda, mas triste. Na outra ponta, está o Grupo Silvio Santos, empresa cujas ações são representativas do modus operandi do mercado imobiliário em São Paulo, que vê a terra urbana como fonte de acumulação, esvaziando, em geral, a complexidade de relações culturais, sociais e ambientais, que se dão nos territórios da cidade. Dessa forma, tentativas de conciliação de interesses, podem acirrar conflitos existentes entre essas duas visões de mundo.

Compreender aos diversos momentos desse longo processo e as mudanças que se colocaram nessa trajetória, significa interpretar erros e acertos das estratégias adotadas nesse embate e quais seriam os próximos passos possíveis para a companhia. Investigar a luta do Oficina é, sobretudo, uma forma de ler e entender o bairro do Bexiga, seu passado, presente e seus possíveis futuros, considerando não só aqueles colocados pela ação opressiva do capital, como também aqueles confabulados por arquitetos, urbanistas, artistas e agentes da sociedade civil.

notas

1
SOMEKH, Nadia; SIMÕES JÚNIOR, José Geraldo (org.). Bexiga em três tempos. Patrimônio cultural e desenvolvimento sustentável. São Paulo, Romano Guerra, 2020; MATZENBACHER, Carila. Arquitetura teat(r)al urbanística: transformação do Espaço Cênico- Teatro Oficina [1958-2010]. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2018.

2
A série de entrevistas foi submetida a um processo de aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Campinas —CEP PUC Campinas, tendo recebido parecer favorável. O projeto de pesquisa submetido ao CEP tem como título “ Teatro Oficina: um centro de resistência e re-existência urbana”, CAAEE 45624521.0.0000.5481, e foi aprovado pelo parecer no. 4.725.372, assinado por Mário Edvin Greters, em 21 de maio de 2021, na cidade de Campinas.

3
WISNIK, Guilherme. Lina Bo Bardi no Teatro Oficina: o construtivo e o sacrificial. In PEDROSA, Adriano; CUY, José Esparza Chong; GONZÁLES, Julieta; TOLEDO, Tomaz (org.). Lina Bo Bardi: habitat. São Paulo, Masp/Mcachicago/Museu Jumex, 2019.

4
MATZENBACHER, Carila. Arquitetura teat(r)al urbanística: transformação do Espaço Cênico-Teatro Oficina [1958-2010]. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2018.

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